Pragas e Doenças
Esta é uma espécie que pode ser atacada por dezenas de diferentes organismos, embora apenas alguns possam provocar prejuízos relevantes nos pomares plantados para produção de avelãs. Além de conhecer as pragas e doenças da aveleira, importa, por isso, saber quais são as mais penalizadoras e reconhecer os seus sintomas. Da mesma forma, há práticas de prevenção e luta contra algumas pragas e doenças da aveleira, incluindo cuidados relativamente simples que ajudam a manter esta espécie mais saudável.
Relativamente às pragas, das cerca de 300 espécies de insetos e ácaros que podem atacar esta espécie, apenas uma parte está presente no nosso país. As mais frequentes e causadoras de prejuízos nos pomares de aveleira em Portugal são o gorgulho-das-avelãs ou balanino, a mineira-dos-rebentos ou mineira-da-aveleira, o ácaro-dos-gomos e os piolhos/afídeos.
Pragas da aveleira referenciadas em Portugal
Nome comum | Nome científico |
Gorgulho-da-avelã ou balanino | Curculio nucum |
Mineira-dos rebentos ou mineira-da-aveleira | Oberea linearis |
Ácaro-dos-gomos | Phytoptus avellanae |
Piolho-amarelo-das-folhas Piolho-verde-dos-rebentos | Myzocallis coryli Corylobium avellanae |
Broca-dos-ramos | Zeuzera pyrina |
Bichado | Cydia fagiglandana Cydia splendana |
Enrolador-das-folhas | Archips rosana |
Percevejo | Nezara viridula |
Cochonilha | Eulecanium tiliae |
De entre as pragas e doenças da aveleira, esta é a que causa maiores prejuízos nos pomares de aveleira por toda a Europa, onde se encontra dispersa. Os adultos desta espécie – Curculio nucum – são insetos coleópteros com seis a nove milímetros de comprimento (sem contar com o rostro, a parte frontal em forma de tromba), de cor castanho-esverdeada. Os adultos alimentam-se das partes tenras das aveleiras, como os frutos recém-formados, mas são as larvas que provocam os maiores estragos. As fêmeas colocam os ovos (entre maio e junho) dentro dos frutos imaturos, quando a casca ainda não endureceu (um em cada fruto). As larvas eclodem e alimentam-se do miolo da avelã durante cerca de 30 dias, fazendo depois um orifício na casca para saírem.
Os prejuízos estão relacionados com o facto de as larvas se alimentam dos frutos, deixando as avelãs ocas, mas também com as picadas para as posturas dos ovos, uma vez que estes orifícios servem como portas de entrada para fungos. As variedades de aveleira (cultivares) de casca mais fina (como a Cosford e Daviana) e as mais precoces (como a Tonda Gentile delle Langhe ou a Tonda di Giffoni) são mais suscetíveis, podendo os estragos implicar perdas de 50% a 80% da colheita.
A utilização de cultivares mais resistentes (como a Negreta ou a Segorbe, pouco sensíveis ao balanino), a destruição de frutos atacados e a mobilização ligeira do solo em torno das aveleiras, para destruir as larvas, são algumas medidas possíveis para reduzir a praga e os seus prejuízos.
Também conhecida por mineira-dos-rebentos (Oberea linearis), é um inseto coleóptero, tal como na praga anterior. Os adultos têm um corpo esguio de cor preta, com cerca de 11 a 16 milímetros de comprimento, patas amarelas e antenas longas. Esta mineira ataca preferencialmente a aveleira, mas pode também afetar nogueiras, choupos ou ulmeiros, entre outras espécies. Os estragos resultam da atividade das larvas: depois de os ovos serem postos sob a casca da parte alta dos ramos, as larvas vão escavar galerias (que podem chegar aos 60 centímetros) ao longo dos ramos e alimentar-se dos rebentos que nascem, ou seja, dos gomos vegetativos jovens.
Para evitar estragos com importância económica e reduzir a população deste inseto, os ramos secos e partidos devem ser cortados e queimados no princípio do outono.
Esta praga (Phytoptus avellanae) é específica da aveleira. Os ácaros têm cerca de 0,2 milímetros de comprimento e vivem a maior parte do ano dentro dos rebentos que despontam (gomos vegetativos). As suas picadas originam um aumento de tamanho e coloração amarelada dos gomos, a par de escamas espessas e vermelhadas e de um crescimento anormal e disforme que vai dar origem a deformações, chamadas galhas, que se tornam visíveis no inverno. As deformações levam a que os gomos, no verão, se apresentem maiores e de cor amarelada, acabando por secar e cair sem dar origem a flores ou folhas. O ataque leva a quebras de produção que podem atingir os 20%.
A principal forma de luta consiste na escolha de variedades mais resistentes a esta espécie – Merveille de Bollwiller ou Tonda Pacifica.
Duas espécies de afídeos/piolhos são responsáveis por estragos relevantes nas aveleiras: o piolho-amarelo-das-folhas (Myzocallis coryli) e o piolho-verde-dos-rebentos (Corylobium avellanae).
Os adultos de piolho-verde-dos-rebentos atacam preferencialmente os gomos e as extremidades dos ramos em crescimento. Têm cerca de 1,5 milímetros de comprimento, forma globosa, cor verde-pálida, por vezes avermelhada.
O piolho amarelo vive isolado ou em pequenas colónias na face inferior das folhas. Os adultos têm corpo mole de cor amarela e tamanho maior que os adultos de piolho-verde.
Os estragos resultam da forma de alimentação destes afídeos, já que a armadura bucal picadora-sugadora que usam para se alimentar da seiva da árvore, debilita-a. Adicionalmente, produzem uma substância viscosa açucarada, a melada, que possibilita o desenvolvimento de fungos sobre as folhas, reduzindo a sua capacidade destas folhas – e da árvore – em fazer a fotossíntese.
Relativamente às doenças da aveleira, existem também diferentes causas:
– fungos, que originam cancro, antracnoses, oídio, monoliose e podridões radiculares (das raízes);
– bactérias, que causam a necrose bacteriana e o declínio bacteriano;
– vírus, que são causa, por exemplo, do mosaico da folhagem.
Doenças da aveleira referenciadas em Portugal
Nome comum | Nome científico |
Cancro | Cytospora corylicola |
Antracnoses | Cryptosporiopsis coryli Sphaceloma coryli |
Oídio | Phyllactinia guttata |
Podridão-das-raízes | Armillaria mellea Rosellinia necatrix |
Necrose-bacteriana-da-aveleira | Xanthomonas arborícola pv. corylina |
Declínio-bacteriano-da-aveleira | Pseudomonas avellanae |
Mosaico-da-folhagem | Apple mosaic virus (ApMV) |
Esta é uma das doenças da aveleira causadas por um fungo – Cytospora corylicola – que ataca pomares velhos ou debilitados, penetrando nas árvores por “feridas” abertas pela poda ou a queda de ramos mortos. Os ramos atacados começam por apresentar manchas cinzento-avermelhadas e a casca fendilhada, surgindo depois pequenas elevações gelatinosas (que contêm os esporos do fungo) de cor vermelho-alaranjada ao longo da superfície. O seu desenvolvimento é favorecido pela humidade e pelas temperaturas elevadas da primavera e verão.
Os meios de luta passam pela escolha de variedades resistentes e pela manutenção de árvores em bom estado de crescimento através de fertilizações e regas, visto que a doença ataca as árvores mais debilitadas.
São conhecidas duas antracnoses na aveleira, uma causada pelo fungo Cryptosporiopsis coryli e outra pelo fungo Sphaceloma coryli.
O fungo Cryptosporiopsis coryli infeta as flores femininas, masculinas e os jovens rebentos (gomos vegetativos). Nos amentilhos (flores masculinas onde os sintomas são visíveis), o fungo provoca a necrose dos tecidos e uma coloração castanho-escura. Os gomos atacados escurecem e as brácteas (estruturas semelhantes a folhas que protegem os gomos) tornam-se castanhas com pontos negros, o que leva a reduções na produção de frutos.
O fungo Sphaceloma coryli ataca as folhas, os rebentos nascidos nesse ano e os invólucros dos frutos. O ataque causa manchas de cor parda e castanha, que podem causar deformações ou evoluir para cancros. Quando o ataque ocorre no início de julho, os frutos podem ficar pequenos e enrugados ou, simplesmente, não se desenvolverem.
Esta é uma das pragas e doenças da aveleira em que não existem meios de luta disponíveis.
Esta doença, causada pelo fungo Phyllactinia guttata, surge em muitas outras espécies vegetais. Os sintomas, manchas brancas na face inferior das folhas, são visíveis no final do verão e início do outono. Estas manchas crescem e acabam por cobrir as folhas na sua totalidade, podendo originar quedas de folha antecipadas. Os estragos causados não têm grande importância económica e, normalmente, não justificam meios de luta.
Esta doença pode ser causada por dois fungos: Armillaria mellea e Rosellinia necatrix e ambos se propagam pelo solo, formando focos de doenças junto a plantas enfraquecidas ou mortas. Desenvolvem-se debaixo da casca das raízes e do colo (zona de transição entre a raiz e o caule que fica ao nível do solo) das aveleiras, dando origem a um micélio branco. As raízes vão escurecendo até surgir uma podridão húmida, com cheiro a mofo. A parte aérea da árvore vai enfraquecendo e reduzindo a produção, até morrer. Não existem meios de luta diretos.
A necrose é causada por uma bactéria, Xanthomonas arboricola pv. corylina, que tem na aveleira o seu hospedeiro principal. A infeção ocorre principalmente através de feridas no tronco e estomas (nas folhas), que servem de porta de entrada à bactéria que vai depois atacar os gomos vegetativos. Estes rebentos não se desenvolvem e acabam por secar e cair. Em situações de ataques intensos surgem também lesões castanhas nas folhas, que também secam e caem. Os rebentos e extremidades superiores (ápices) acabados de nascer apresentam cancros escuros e exsudações viscosas em alturas de maior humidade. Estes cancros podem levar à seca, morte e queda de ramos. Os frutos atacados apresentam manchas escuras, podendo os estragos atingir até 10% do valor da produção, especialmente em povoamentos jovens.
Quando aparecem sintomas, devem-se podar os ramos atacados e queimá-los para eliminar a bactéria, sendo também possível a luta química, com produtos à base de cobre.
Causada pela bactéria Pseudomonas avellanae, esta doença pode conduzir à morte das árvores. A bactéria infeta-as a partir de cicatrizes nas folhas, dando origem a cancros longitudinais nos ramos e no tronco. As flores masculinas e femininas vão apresentar murchidão e necroses, enquanto as folhas vão murchar rapidamente nos ramos afetados, devido ao bloqueio do xilema (um género de sistema vascular das plantas por onde a água e os minerais chegam da raiz às folhas) onde a bactéria se desenvolve. As árvores afetadas acabam por morrer, devendo ser removidas e queimadas para evitar a dispersão da doença, para a qual não existem meio de luta diretos.
Causada pelo vírus Apple mosaic virus (ApMV), que ataca também outras espécies, esta doença pode causar perdas de produção entre os 10% e os 30%. Os sintomas são a alteração da cor das folhas, que ficam com manchas verde-pálidas a amarelas ou brancas. Não se conhece nenhum vetor de propagação para o vírus, que se dissemina através de material de propagação (como ramos para mergulhia ou enxertia) contaminado, sendo fundamental garantir que as plantas utilizadas estão isentas da doença.