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“História florestal: conhecimento para o futuro”, por João Pinho

À história florestal cabe um papel central: garantir uma visão esclarecida sobre as florestas de hoje e sobre a utilização sustentável dos seus múltiplos recursos, do ponto de vista ecológico, económico e social. É através deste conhecimento histórico que nos apercebemos de algumas das principais decisões que ajudaram a moldar as florestas que herdámos e também as diferentes perceções sobre a sua importância para o futuro do país.

A intervenção humana no território é muito mais determinante do que imaginamos. Conhecer a história florestal permite compreender como algumas das principais decisões passadas ajudaram a moldar as florestas que herdámos, as suas funções e também as diferentes perceções sociais sobre a sua importância para o futuro do nosso território.

A leitura de textos antigos é uma janela aberta para conhecer como as pessoas usaram e interagiram com os ecossistemas florestais do planeta ao longo da história da humanidade. À história florestal cabe, por isso, um papel fundamental: garantir uma visão esclarecida sobre as florestas de hoje e assegurar a utilização sustentável dos seus múltiplos recursos, do ponto de vista ecológico, económico e social.

Além de apoiar um entendimento esclarecido sobre as florestas e paisagens atuais, este conhecimento dá também aos cidadãos, técnicos e decisores políticos as bases para a construção dos planos e políticas florestais. Porquê? Porque o planeamento e a gestão florestal estão associados a processos de longa duração, em que, muitas vezes, os impactes de decisões tomadas num determinado momento só se revelam ao fim de dezenas ou, até mesmo, de centenas de anos.

Basta pensar que as bases para a floresta que temos no século XXI foram estruturadas no século XIX, desde logo com a criação, em 1824, do primeiro organismo devotado à gestão profissional das florestas públicas, a AGMR - Administração Geral das Matas do Reino. A mesma época viu também nascer as primeiras avaliações sobre os recursos florestais disponíveis em Portugal, com a preparação, em 1867, do primeiro relatório moderno sobre o estado das florestas no Continente.

História florestal e do planeamento territorial: lições a reter

É no fim do século XIX que se assiste à implementação de uma política territorial com vista à sua melhor utilização. Numa era marcada pela Revolução Industrial e pelo aumento da procura de produtos florestais, esta política ditou a privatização de terrenos comunitários e a desamortização dos bens eclesiásticos, decisões que ajudam a explicar uma característica ímpar da floresta portuguesa: a maioria da propriedade florestal é privada. Apenas cerca de 3% permanece na esfera do Estado.

Os registos históricos são também uma fonte de conhecimento relevante para compreender a origem e evolução do uso de diferentes espécies florestais no nosso território, inclusive das exóticas, introduzidas no nosso país para suprir a falta de espécies nativas produtoras de matérias-primas com determinadas especificações tecnológicas. A experimentação destas espécies foi um imperativo nos países mais desenvolvidos.

Assim, nos séculos XIX e XX, dá-se a grande “febre” de importação e aclimatação de espécies florestais exóticas. Além de apresentarem com frequência maior rapidez de crescimento e exigirem uma silvicultura menos complexa, várias espécies foram importadas como alternativa a espécies indígenas dizimadas por pragas. Não obstante, permanecem vários mitos associados a algumas destas espécies, como o do excessivo consumo de água pelo eucalipto, propagados por crenças que, por vezes, a história perpetua.

Toda esta recolha de dados é essencial para o conhecimento da floresta que temos hoje e também elucidativa de como decisões desajustadas ou implementadas tardiamente nos trouxeram à situação atual. Com efeito, ao fim de vários anos dos Programas de Gestão Florestal e de tudo o que está associado à Lei de Bases de Política Florestal, muitas áreas continuam fragilizadas do ponto de vista da gestão florestal, o que ajuda a explicar o problema dos incêndios de grandes dimensões.

Sobre o Formador

João Pinho é licenciado em Engenharia Florestal pelo ISA – Instituto Superior de Agronomia e mestre em Planeamento Regional e Urbano pela Universidade Técnica de Lisboa. Como técnico e dirigente na administração pública tem trabalhado nas áreas do ordenamento do território, planeamento e projetos florestais, gestão de fogos rurais, gestão e produção florestal e conservação da natureza, tendo publicado diversos artigos e capítulos em livros e revistas técnicas e científicas.

Desde junho de 2019, desempenha as funções de diretor do Departamento de Gestão de Fogos Rurais do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.