– No século XIV, nas Posturas antigas da Camara de Évora (1375 a 1395) proíbe-se o fogo em matos onde existiam sobreiros e azinheiras para prevenir os incêndios;
– Em 1464, na Carta Régia de D. Afonso V refere-se que “… se proibiu que de Coimbra a Seia se pusessem fogos até uma légua das margens do Mondego …”, sendo essa ideia reforçada em 1492, “… por causa dos muitos fogos que põem nas matas e charnecas ao redor do Rio Mondego …”;
– Em 1803 José Bonifácio de Andrada e Silva alude às “queimadas dos pastores” como um problema;
– No Código Administrativo de 1836 é imposto aos municípios a obrigatoriedade de extinção de fogos florestais e de socorro às populações que sofressem este flagelo;
– Em 1856 é aprovada, pelo rei D. Pedro V, uma portaria em que se ordena a todos os governadores civis a adoção de medidas especiais de proteção contra incêndios rurais, nomeadamente as queimadas ilegais;
– Em 1902, o Sr. Carlos Malheiro Dias, na Câmara dos Pares do Reino, refere os “… repetidos incendios que annualmente devastam importantes extensões de floresta”.
No entanto, segundo Pinho e Mateus (2019), até à década de 1960, os incêndios florestais, apesar de frequentes, só raramente assumiram proporções catastróficas, sendo conhecidos, todavia, alguns grandes incêndios florestais ocorridos no século XIX e início do século XX, como por exemplo:
– Pinhal de Leiria: 1806, 1814, 1818, 1824 ou 1825, 1875 e 1916 (o grande incêndio florestal de 1824/1825(?) terá queimado entre 4000 a 5000 ha);
– Alentejo: 1876;
– Serra do Buçaco: 1882/1883;
– Freguesia de São Frutuoso/Coimbra: 1913.
São as décadas de 1950 e 1960 que, em Portugal, introduzem uma nova realidade, a dos grandes incêndios florestais recorrentes:
– Vale do Rio/Figueiró dos Vinhos: 1961;
– Serra da Aveleira/Arganil: 1961;
– Viana do Castelo: 1962;
– Boticas: 1963;
– Serra de Monchique: 1966 (refira-se que a serra de Monchique tem sido sistematicamente – em 1966, 1979, 1990, 2001, 2003, 2004 e 2018 – percorrida por grandes incêndios florestais, desde os anos 60 do século XX);
– Sintra: 1966;
– Vale do Zêzere: 1970;
– Vale do Vouga: 1972.
Também no arquipélago da Madeira se encontram registos de grandes incêndios florestais, desde o século XV até aos nossos dias, nomeadamente nos anos de 1419, 1838, 1910, 1919, 1994, 1995, 1996, 1997, 2000, 2010, 2012 e 2016.
Na década de 1970, com a profunda transformação verificada no país, dá-se um aumento da frequência, da dimensão, da intensidade e da capacidade destruidora dos incêndios, o que veio a culminar nas tragédias de 2017, que feriram 320 pessoas e ceifaram a vida, em apenas dois dias (17 de junho e 15 de outubro), a 116 pessoas.
Ao longo dos anos, muitas foram as vítimas mortais dos incêndios florestais em Portugal. Sem sermos exaustivos (não foram aqui contabilizados os bombeiros falecidos em acidentes rodoviários, a caminho ou no regresso de incêndios florestais) contabilizam-se 257 vítimas mortais entre 1961 e 2018 (Quadro I), sendo que 65 eram bombeiros, 7 especialistas estrangeiros, 25 militares, 4 funcionários florestais e 156 populares, verificando-se que nos 38 anos do século XX, faleceram 64 pessoas, enquanto que, apenas em 19 anos, no século XXI, já perderam a vida 189 pessoas, sendo o ano de 2017 responsável por 61% do total das vítimas mortais, no presente século.