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Alterações Climáticas

Quais são os efeitos das alterações climáticas que já se fazem sentir?

Desde a revolução industrial que as atividades humanas têm gerado um aumento das emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera. Estes gases intensificam a retenção de calor no planeta, fenómenos que estão diretamente relacionados com as alterações climáticas. Entre os efeitos mais visíveis deste processo estão o aumento da temperatura e dos fenómenos climáticos extremos – secas, cheias, furacões – que, por sua vez, causam prejuízos naturais, sociais e económicos e colocam em risco o equilíbrio dos ciclos biogeoquímicos (do carbono e da água, por exemplo) que sustentam a vida na Terra. Vários efeitos das alterações climáticas repercutem-se na extensão e na saúde das florestas e dos ecossistemas florestais. A maior frequência e dimensão dos incêndios, assim como o aumento dos períodos de seca, são disso exemplos, mas não são os únicos. Vejamos outros efeitos das alterações climáticas que já se fazem sentir a nível global:

 

O aumento da temperatura

 

Segundo a Agência Europeia do Ambiente, a temperatura global tem aumentado uniformemente desde finais do século XIX. A partir dos anos 70 do século passado, a taxa de aumento tem crescido a um ritmo de 0,2°C por década. Em termos globais, o período 2015 – 2021 foi o mais quente desde que há registo e 2021 foi um dos seis anos mais quentes, com temperaturas entre 1,09°C e 1,16°C mais elevadas do que no período pré-industrial.

Na Europa, as temperaturas médias anuais na década de 2012-2021 foram ainda mais elevadas face à época pré-industrial: entre 1,94°C e 2,01°C superiores, tendo o ano de 2020 sido o mais quente em registo: entre 2,51°C e 2,74°C acima dos níveis pré-industriais. O continente continua a aquecer mais depressa que o resto do mundo. Estes valores tornam difícil o cumprimento das metas estipuladas pelos estados-membro na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima no Acordo de Paris, que estipula um aumento abaixo dos 2°C, apontando o limite para os 1,5°C, até 2050.

As florestas do sul da Europa são consideradas mais vulneráveis aos impactes negativos que este aumento de temperatura global representa. O ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas aponta para a possibilidade de alteração na produtividade dos povoamentos e na distribuição geográfica das espécies: as simulações feitas indicam que, em Portugal, a área de distribuição potencial do eucalipto e do pinheiro-bravo irão diminuir, essencialmente a sul, aumentando nas zonas de maior altitude.

 

Efeitos das alterações climáticas nos oceanos

 

O nível médio da água do mar, subiu entre 21 e 24 centímetros de 1880 a 2020 (perto de 0,17 milímetros por ano, em média), dado o degelo provocado pelo aumento global de temperatura. Um terço deste aumento deu-se nas últimas duas décadas e meia. O ritmo da subida do nível do mar continua a aumentar, registando-se um incremento de 1,4 milímetros por ano na maior parte do século XX, valor que mais do que duplicou, para 3,6 milímetros por ano, entre 2006 e 2015.

Foi em 2020 que ocorreu a maior subida desde que o registo começou a ser feito com altimetria por radar (1993), com um aumento médio de 91,3 milímetros, ultrapassando valores anteriormente recolhidos.

Outro dos efeitos das alterações climáticas relacionado com a subida do nível médio do mar é o aumento da salinidade nas reservas subterrâneas de água doce e também no solo.

A salinização dos solos está já a afetar zonas de floresta onde ocorrem espécies com baixa tolerância ao sal. A transformação de florestas costeiras em “florestas fantasma” – em que apenas restam troncos de árvores mortas na faixa de transição entre floresta saudável e solos salinizados – resulta em perda de habitats e impactes nos ecossistemas, prejudicando a retenção de carbono no solo e na floresta (promovendo a sua libertação para a atmosfera).

A subida dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera está ainda na origem da acidificação dos oceanos, que absorvem cerca de um quarto das emissões de CO2. Este CO2 sequestrado, quando combinado com a água do oceano, dá origem a um ácido fraco, que resulta na alteração química da água do mar. Dados recolhidos pela MACAN – Mid-Atlantic Coastal Acidification Network indicam que o pH global dos oceanos desceu cerca de 0,1 unidades na escala de pH desde o período pré-industrial, o que representa um aumento de acidez de cerca de 30 por cento. Muitas espécies estão a ser afetadas, gastando mais energia a regular o equilíbrio químico do seu organismo. A redução da disponibilidade de carbonato de cálcio resultante da acidificação afeta também corais, ostras, lagostas e espécies afins, que precisam deste elemento para construir e manter cascas e esqueletos.

 

Maior frequência de danos devido a pragas e doenças das plantas

 

Outro dos efeitos das alterações climáticas decorrente das temperaturas cada vez mais altas, das alterações dos padrões de precipitação e dos fenómenos meteorológicos extremos relaciona-se com as pragas e doenças, que se têm tornado mais frequentes e danosas. As temperaturas elevadas aceleram o desenvolvimento dos insetos, aumentando o seu número, e a seca afeta as árvores, enfraquecendo-as e deixando-as mais suscetíveis a ataques.

Nos Estados Unidos da América, um estudo de 2021 na publicação Frontiers in Forests and Global Change indica que as pragas e as doenças florestais estão a originar a libertação de quase 50 milhões de toneladas de dióxido de carbono adicionais, por ano. É sugerido que florestas sob o ataque de pragas sequestram menos 69% de carbono do que florestas saudáveis, e, quando estão sob o ataque de doenças, sequestram menos 28% de carbono. Estima-se, assim, que o potencial de sequestro de CO2 do país esteja diminuído em 50 milhões de toneladas por ano, “o equivalente às emissões de dióxido de carbono de dez milhões de automóveis ligeiros de passageiros conduzidos durante um ano”, salienta-se.

No Canadá, por exemplo, a expansão do besouro do pinheiro-das-montanhas (Dendroctonus ponderosae), desde 1990, tem destruído vastas áreas de Pinus contorta (uma espécie de pinheiro presente no Canadá e Estados Unidos da América) na floresta boreal. Estima-se que, até 2017, se tenha perdido cerca de 58% (752 milhões de metros cúbicos) do total de volume de madeira de pinho por causa desta praga.

As novas pragas e doenças das plantas estão a aumentar também na Europa e Portugal não é exceção. Este fenómeno tem sido observado ao longo dos últimos 30 a 50 anos e afeta culturas agrícolas, espécies ornamentais e também espécies florestais, como pinheiros (Pinus spp.), eucaliptos (Eucalyptus spp.), carvalhos (Quercus spp.) e castanheiros (Castanea sativa).

Por exemplo, o pulgão-dos-carvalhos (Altica quercetorum) é uma das pragas em crescimento no centro e sul da Europa, bem como na zona noroeste do nosso país. Este inseto ataca o carvalho-alvarinho (Quercus robur), mas também outros carvalhos – o sobreiro (Quercus suber), o carvalho-cerquinho (Quercus faginea) –, bem como amieiros (Alnus spp.), a aveleira (Corylus avellana) e o salgueiro (Salix spp). Tanto na fase larvar como na fase adulta, enfraquece as folhas das árvores, atrasando o seu crescimento e interferindo na fotossíntese, o que as torna mais vulneráveis a ataques patogénicos que podem levar à sua morte. Em terras lusas, a espécie foi identificada em 1896 e os primeiros ataques em 1991; em 2009 a praga atacou os carvalhais de Lafões e de outras zonas do centro e norte do país com maior intensidade.

O relatório de 2022 do Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas (IPCC) destaca que a ocorrência de pragas e doenças, bem como a sua distribuição geográfica, têm tendência a aumentar devido às alterações climáticas e aos eventos extremos (como secas, inundações, ondas de calor, incêndios). Este processo tem impactes negativos no equilíbrio dos ecossistemas, na segurança alimentar, na saúde humana e meios de subsistência, facilitando ainda a expansão de plantas invasoras.

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