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Alterações Climáticas

Qual a capacidade de sequestro de carbono das principais espécies florestais portuguesas?

As florestas plantadas de eucalipto e pinheiro-bravo destacam-se, em Portugal, pela capacidade de sequestro de carbono, tendo em conta os valores disponíveis para as principais espécies florestais. A renovação constante destas espécies (decorrente da exploração) permite a continuidade desta função e um efeito mitigador das alterações climáticas a curto prazo. A longo prazo, a manutenção de florestas de crescimento mais lento permite a acumulação de maior quantidade de carbono no solo.

Importa notar que a capacidade de sequestro de carbono depende de vários fatores, desde o tipo de solo e clima, à água disponível, para referir apenas algumas variáveis. A fixação de carbono depende ainda da taxa de crescimento das plantas, que varia entre espécies e ao longo da vida de cada uma. Assim, uma espécie de crescimento rápido pode sequestrar mais carbono anualmente, mas isto acontece durante menos tempo. Por outro lado, uma espécie de crescimento lento pode captar menos carbono anualmente, mas consegue fazê-lo ao longo de mais anos de vida.

 

Sistema florestal
Valor médio
(toneladas de CO2 e/ou C por hectare e por ano)

Método de cálculo
Eucalipto
(Eucalyptus globulus)
15-32 t CO2/ha/ano
ou 4,1-8,73 t C/ha/ano
Fluxo de carbono
Montado - azinheira e sobreiro
(Quercus ilex ssp. rotundifolia e Q. suber)
1-5 t CO2/ha/ano
ou 0,27-1,88 t C/ha/ano
Fluxo de carbono
Pinheiro-bravo
(Pinus pinaster)
15-26 t CO2/ha/ano
ou 4,1-7,09 t C/ha/ano
Variação de stocks
Fonte: Relatório sobre a Avaliação para Portugal do Millennium Ecosystem Assessment. 2009 (cap. 20)
Eucalipto
(Eucalyptus globulus)
Perto de 33 t CO2/ha/ano
ou 9 t C/ha/ano
Fluxo de carbono
Montado - azinheira e sobreiro
(Quercus ilex ssp. rotundifolia e Q. suber)
3,7-11 t CO2/ha/ano
ou 1-3 t C/ha/ano
Fluxo de carbono
Fonte: O futuro da floresta em Portugal. 2014
Eucalipto
(Eucalyptus globulus)
6,65 t ha C/ha/ano (24,39 t CO2/ha/ano)
4,8 t C/ha/ano para t ≤ 5 anos
7,25 t C/ha/ano para 5 9,15 t C/ha/ano para t >10 anos
Variação de stock de biomassa total
Pinheiro-bravo
(Pinus pinaster)
7,3 t C/ha/ano (26,77 t CO2/ha/ano)
7,9 t C/ha/ano para t ≤ 25 anos
7,2 t C/ha/ano para 25 < t < 50 anos
6,4 t C/ha/ano para t ≥ 50 anos
Variação de stock de biomassa total
NOTA: para avaliar o efeito da idade, foram estabelecidas classes de idade considerando que eucaliptos com 10 anos e pinheiros com 50 anos são árvores adultas.
Fontes:
Estimating net primary production in 'Eucalyptus globulus' and 'Pinus pinaster' ecosystems in Portugal. 2005
Accuracy of remote sensing data versus other sources of information for estimating net primary production in Eucalyptus globulus Labill. and Pinus pinaster Ait. ecosystems in Portugal. 2014
Pinheiro-bravo
(Pinus pinaster)
3,95 t C/ha/ano (14,48 t CO2/ha/ano), com uma variação entre 1,45 e 7,55 t C/ha/ano, em povoamentos com idade média de 38 anos
Variação de stock de biomassa aérea
Carvalho-negral
(Quercus pyrenaica)
3,65 t C/ha/ano (13,38 t CO2/ha/ano), com uma variação entre 1,5 e 6,05 t C/ha/ano, em povoamentos com idade média de 55 anos
Variação de stock de biomassa aérea
Fonte: Aboveground biomass and net primary production of pine, oak and mixed pine–oak forests on the Vila Real district, Portugal. 2013
Castanheiro
(Castanea sativa)
3,93 t C/ha/ano (14,41 t CO2/ha/ano) em povoamentos com 28 anos de idade
Variação de stock de biomassa aérea
Pseudotsuga menziesii
3,49 t C/ha/ano (12,80 t CO2/ha/ano) em povoamentos com 28 anos de idade
Variação de stock de biomassa aérea
Fonte: Contributo da criptoméria para sequestro de carbono nos Açores (2011)
Criptoméria
(Cryptomeria japonica)
8,36 t C/ha/ano ± 3,93 t C/ha/ano (30 t CO2/ha/ano) para o arquipélago dos Açores
Stock de carbono total (fuste, copa e raiz)
Nota: Foi estimado o valor global do stock de carbono da floresta de criptoméria dos Açores em 2007 e, considerando a área total ocupada pela espécie e a idade média dos povoamentos, obtiveram-se estimativas de sequestro de carbono para cada parcela inventariada.
Fonte: Contributo da criptoméria para sequestro de carbono nos Açores (2011)

 

A diferença entre valores (inclusive para a mesma espécie) explica-se, principalmente, pelos diferentes métodos usados para estimar a quantidade de carbono sequestrado:

Método da variação de stocks: o carbono na biomassa e/ou solo é medido e/ou estimado em alturas diferentes. A variação reflete a produtividade do sistema.

Método dos fluxos de carbono ou covariância de fluxos turbulentos: método de medição direta, que reúne consenso científico, para monitorizar o balanço de água e de carbono em ecossistemas terrestres. As trocas de CO2 e outros gases e água entre todo o ecossistema (biomassa aérea das árvores, vegetação e solo) e a atmosfera são medidas em torres de fluxo, nas quais se monitorizam também variáveis meteorológicas.

Além disso, existem também vários diferenciais e especificações para fazer estes cálculos – considerar todos os gases com efeito de estufa ou apenas os mais importantes, considerar ou não o carbono no solo (alguns estudos consideram unicamente a parte aérea), entrar em consideração com as diferenças no armazenamento de carbono na madeira, troncos e folhas – e unidades diferentes para apresentar os resultados.

Apesar de sabermos que uma tonelada de C é equivalente a 3,667 toneladas de CO2 e que a fixação de carbono pode ser estimada a partir de valores de produtividade primária líquida (NPP) considerando que 50% da matéria seca produzida é carbono, nem sempre é fácil interpretar a literatura disponível sobre a capacidade de sequestro de carbono das diferentes espécies.

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