Anterior Próximo

Floresta Portuguesa

O que são espécies pioneiras?

A expressão “espécies pioneiras” é usada para designar os organismos vivos que conseguem desenvolver-se em locais inóspitos, com condições pouco favoráveis, sendo os primeiros a colonizar zonas onde a maioria dos seres vivos não consegue sobreviver.

As condições adversas que estes locais apresentam para acolher formas de vida podem ser naturais (desertos, dunas ou rochas nuas) ou resultar de perturbações como erupções vulcânicas, derrocadas ou incêndios. As espécies pioneiras são resistentes e pouco exigentes, pelo que conseguem “vingar” em condições de limitação de nutrientes e/ou água.

Em habitats terrestres, as espécies pioneiras são, normalmente, aquelas que:

  • conseguem colonizar locais sem a camada de solo orgânico (dunas, afloramentos rochosos ou lava solidificada, por exemplo), promovendo o processo de sucessão primária. “Uma fase inicial de plantas pioneiras (musgos, líquenes, pequenas plantas) cria um solo orgânico incipiente sobre a rocha, que facilita o estabelecimento de plantas herbáceas de maior porte, depois plantas lenhosas e gradualmente de biomassa e complexidade crescente até ao estado maduro de bosque”. Este processo é lento e pode implicar centenas de anos, explica a obra “A vegetação de Portugal”.
  • conseguem instalar-se e ajudam a restabelecer uma nova comunidade em locais onde a matéria orgânica foi parcialmente alterada ou erodida (área percorrida pelo fogo ou afetada por uma seca extrema, por exemplo), promovendo o que se designa por sucessão secundária e ativando um processo de regeneração natural.

Na paisagem atual, os casos de sucessões primárias são mais esporádicos. As zonas de lava que escorrem de um vulcão são um exemplo referido em “A vegetação de Portugal”. Espécies como a Erica azorica, adaptada a ambientes extremos com poucos nutrientes, conseguem colonizar campos de lava, estabelecendo endomicorrizas nas raízes que retiram nutrientes da lava e ajudam a absorver água. Quando estão estabelecidas, começam a aparecer outras espécies.

As situações de sucessão secundária são mais comuns, como as decorrentes de queimadas, incêndios ou a mineração. É nelas que se enquadram várias situações de ecossistemas danificados, em cujo restauro são privilegiadas espécies pioneiras (e espécies rústicas com características pioneiras). Por exemplo, o programa de recuperação das matas litorais após os incêndios de 2017 considera, entre outras medidas, o recurso à plantação de espécies arbustivas e arbóreas “estruturantes da progressão sucessional”. O salgueiro-anão (Salix arenaria) e o salgueiro-preto (Salix atrocinerea), a faia-da-terra (Morella faya), também conhecida por samouco, o sobreiro (Quercus suber), o carvalho-alvarinho (Quercus robur) e o medronheiro (Arbutus unedo) são algumas das espécies mencionadas.

Estas espécies pioneiras e rústicas (resistentes e adaptáveis) contribuem para que as condições iniciais adversas de um local inóspito se tornem menos hostis a novas formas de vida menos resistentes. Por exemplo, pela sombra que produzem, as espécies pioneiras ajudam a reduzir o calor que chega ao solo, e pelas suas funções vitais ajudam a fixar nutrientes que tornam a terra mais fértil, assim como a libertar humidade para a atmosfera. A pouco e pouco, ajudam ao processo de sucessão ecológica, ou seja, às condições para a instalação de novas sequências de espécies e comunidades até que, idealmente, o ecossistema atinja uma comunidade equilibrada (comunidade clímax).

A designação “espécies pioneiras” é habitualmente aplicada a plantas, embora, por vezes, outras formas de vida também sejam reconhecidas como tal – micróbios, por exemplo – por serem essenciais à instalação de um novo (ou recuperado) ecossistema.

Anterior Próximo