Gestão Florestal
Existem, em 2023, poucas soluções confiáveis e acessíveis que permitam a um particular – um proprietário florestal, por exemplo – calcular o CO2 armazenado num determinado período pela sua área de floresta. O cálculo é complexo, pelo que é difícil criar calculadoras automáticas que tenham em conta os critérios base para efetuar uma estimativa relativamente realista, onde se incluam, por exemplo, as espécies em causa, o ano de em que foram plantadas, a dimensão da parcela que ocupam e a densidade de árvores existente, entre outras variáveis.
Esta complexidade justifica-se pelo elevado número de fatores que devem ser considerados: basta compreender que as árvores de diferentes espécies não armazenam todas a mesma quantidade de dióxido de carbono e que o ritmo a que o sequestram não é constante ao longo da vida de cada árvore (leia este artigo para saber mais sobre outras variáveis). Daí que, por exemplo, um cálculo baseado apenas no número de árvores (que se encontra facilmente com uma pesquisa na internet) não possa ser considerado fiável.
Uma ferramenta para calcular o CO2 que considera múltiplas variáveis é a “Ferramenta de cálculo de sumidouros de carbono”, embora seja limitada a um conjunto de espécies e região. Desenvolvida pelo TROCO2, projeto de cooperação transfronteiriça Portugal – Espanha, cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, permite estimar a quantidade de dióxido de carbono armazenada por algumas espécies numa dada área florestal.
O objetivo principal desta ferramenta, desenvolvida em 2018, foi a obtenção de uma primeira aproximação à quantidade de dióxido de carbono que uma parcela florestal poderá armazenar, a partir de estimativas de crescimento de espécies na região Galiza-Norte de Portugal (região do Alto Tâmega). Assim, a ferramenta está adaptada para esta região e as espécies consideradas incluem algumas das árvores mais comuns nas florestas portuguesa e espanhola, mas não todas, pelo que é possível calcular o CO2 absorvido em parcelas florestais na referida zona para as seguintes espécies:
Para este cálculo estimativo, a ferramenta considera em exclusivo a biomassa viva, tanto aérea como subterrânea (como os troncos, ramos e raízes), excluindo a matéria orgânica e carbono orgânico do solo.
Esta ferramenta de cálculo para sumidouros de carbono está disponível online na área de ferramentas do projeto TROCO2 e a sua utilização é gratuita.
Como a captação e armazenamento de carbono depende de múltiplos fatores, é necessária a introdução de dados, que vão sendo solicitados em formulários com campos de preenchimento, como por exemplo:
Após o preenchimento dos dados é apresentado um relatório que indica a fixação de CO2 obtida no final do período de permanência da parcela florestal – a fixação total (em toneladas) e por hectare (em toneladas por hectare), assim como outras informações úteis relativas aos modelos e objetivos de gestão subjacentes a cada espécie e parcela.
Se forem inseridas várias espécies e diferentes parcelas, a ferramenta devolve uma resposta individual para cada uma delas, assim como uma súmula com o total de CO2 estimado.
Por exemplo, esta foi uma tabela que a ferramenta criou em resposta a um exercício de simulação, que considerou três espécies – castanheiro, eucalipto e pinheiro-bravo – cada uma com 10 hectares de plantação, com 50 anos de tempo de permanência, localizadas em Vila Pouca de Aguiar. Para o castanheiro e pinheiro-bravo escolheu-se o modo de produção intensivo, tendo a ferramenta definido o modelo de silvicultura e a densidade de árvores ao longo do tempo. No caso do eucalipto, optou-se pela exploração não-intensiva e uma densidade de 100 árvores por hectare.
Nome Científico | Nome Comum | Superfície de Plantação (ha) | Fixação de CO2 (t) | Fixação de CO2 (t/ha) | |
Espécie 1 | Castanea sativa Miller/ Castanea x hybrida | Castanheiro | 10,00 ha | 1.531,67 t CO2 | 153,17 t C02/ha |
Espécie 2 | Eucalyptus globulus Labill. | Eucalipto | 10,00 ha | 1.893,77 t CO2 | 189,38 t CO2/ha |
Espécie 3 | Pinus pinaster Ait subsp. atlantica | Pinheiro | 10,00 ha | 1.004,06 t CO2 | 100,41 t CO2/ha |
30,00 ha | 4.429,51 t CO2 | 147,65 t CO2/ha |
Alterações Climáticas
Aumentar a área florestal, promover a resiliência da floresta e utilizar mais produtos lenhosos que, depois de transformados, continuam a armazenar carbono, são três pontos centrais para fazer da floresta um sumidouro mais eficiente dos gases com efeito de estufa (GEE) em contexto de emergência climática.
Alterações Climáticas
Apesar do contributo da floresta como sumidouro de carbono ser positivo em muitos países, incluindo em Portugal (na maioria dos anos), o saldo entre gases com efeito de estufa emitidos e retidos está longe da neutralidade. Esta realidade tem acelerado as alterações climáticas em Portugal e no mundo, com impactes também para as florestas.
Alterações Climáticas
Durante os últimos 30 anos, as florestas removeram cerca de um quarto das emissões anuais globais de dióxido de carbono, ajudando, assim, a mitigar os efeitos das alterações climáticas recentes. Em Portugal, os contributos da floresta têm sido positivos, exceto em anos de grandes incêndios: em 2019, cerca de 15% das emissões nacionais de Gases com Efeito de Estufa foram removidas pelas nossas florestas.