Academia

Vídeo

“Biodiversidade e serviços de ecossistema”, por Miguel Bugalho

A biodiversidade, ou diversidade biológica, inclui a diversidade de espécies, mas também a variedade de genes e ecossistemas, que nem sempre é considerada, mas que tem grande importância na definição das adequadas políticas e ferramentas de conservação da natureza – incluído a própria biodiversidade e serviços de ecossistema.

A biodiversidade é essencial ao bom funcionamento dos ecossistemas e à manutenção dos benefícios que eles geram, desde os alimentos, à madeira e à fibra, passando pelo sequestro de carbono ou pelo bem-estar espiritual, em conjunto chamados de serviços do ecossistema. Neste sentido, por ser central na preservação de vários serviços – alguns deles vitais – que a natureza nos providencia, a conservação da biodiversidade é essencial à sobrevivência da própria espécie humana.

Um dos maiores desafios da atualidade é articular a conservação da biodiversidade com as crescentes necessidades de uma população humana em expansão. Isto porque, por um lado, temos uma taxa muito elevada de perda de biodiversidade – o Índice Global Living Planet indica que desde 1970 se perderam perto de 70% das espécies -, e por outro lado, a espécie humana tem aumentado a sua pegada ecológica a um ritmo também ele preocupante, acima da capacidade do planeta.

Para responder a este desafio é necessário olhar para os usos-da-terra e repensá-los, de modo a integrar a conservação da biodiversidade e a produção de bens e serviços que satisfaçam as necessidades humanas.

Uso agrícola, uso florestal, uso para conservação da natureza, ou outros, desde que devidamente integrados segundo princípios de gestão sustentável, poderão contribuir para responder ao enorme desafio que enfrentamos.

Biodiversidade e serviços de ecossistema: conservação para além das áreas protegidas

A principal ferramenta de proteção e conservação da biodiversidade tem sido o estabelecimento de áreas protegidas. Temos por todo o planeta mais de 200 mil áreas delimitadas, muito importantes como reservatórios de recursos naturais.

Mas mesmo com o número de áreas protegidas a aumentar, a biodiversidade contínua a decrescer, que significa que é preciso pensar na gestão sustentável dos outros ecossistemas.

Estamos a considerar a proteção apenas em pontos isolados e descontínuos e a deixar de lado grande parte do território. Isto é percetível ao olharmos para qualquer mapa de áreas protegidas. É preciso fazer a gestão sustentável das diferentes ocupações e não apenas daquelas que são consideradas as áreas intocadas pela humanidade. É preciso incluir esta gestão sustentável e conservação da biodiversidade também nos ecossistemas que a espécie humana tem vindo a moldar ao longo do tempo – e que são a maioria -, incluindo as áreas produtivas, como as agrícolas e as florestais.

Como referiu Peter Kareiva num artigo de 2007, temos de pensar na conservação da biodiversidade como um todo, não só nas áreas a que habitualmente chamamos “hot spots”, mas também naquelas a que o autor chama “cool spots”.

Sobre o Formador

Atual Coordenador Científico do Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves”, Instituto Superior de Agronomia (ISA), Miguel Bugalho é Doutorado em Zoologia e Mestre em Ecologia pela Universidade de Aberdeen e pelo Macaulay Land Use Research Institute, Reino Unido, e Engenheiro Florestal, ramo de Gestão de Recursos Naturais, pelo ISA.

A sua experiência de Pós-Doutoramento levou-o à Austrália, mais precisamente ao Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization (CSIRO), e aos Estados Unidos da América, à Nicholas Schoolof Environment, Duke University. Em paralelo à sua carreira de professor e investigador, colabora com a WWF na área da conservação florestal.