Para haver fogo é necessária a existência de um elemento comburente (o oxigénio) que, em combinação com um combustível (biomassa, madeira, vegetação) e perante uma ignição (energia inicial), leva à combustão.
No caso dos fogos rurais, o coberto vegetal e as condições de secura dessa vegetação são alguns dos elementos combustíveis, mas nos grandes incêndios o mais importante é o ordenamento da paisagem. Por exemplo, a diminuição dos mosaicos agrícolas (que serviam de tampões naturais à propagação) e o aumento da área florestada, em muitos casos sem gestão, são fatores que têm diminuído a resiliência da paisagem nos últimos 50 anos.
Outros fatores relacionam-se com as condições climáticas que se têm tornado mais propícias a grandes incêndios: isto acontece quando se conjugam pelo menos três condições: mais de 30 graus Celsius, menos de 30% de humidade e vento com uma velocidade acima dos 30 quilómetros por hora. Carlos da Camara junta uma quarta: presença de seca, com 30 dias seguidos com ausência de chuva.
Já as ignições, em Portugal (tal como na restante Europa mediterrânica), estão principalmente relacionadas com as atividades humanas. A esmagadora maioria dos incêndios é causada por ignições não intencionais e o facto de termos uma população com uma idade média elevada e muito ligada a práticas tradicionais (queimas e queimadas, da agricultura e pastorícia, por exemplo) acaba por elevar este risco.
Assim, é fundamental atuar nas três vertentes do triângulo do fogo:
– Na atmosférica e climática que, embora não seja controlável, é cada vez mais previsível: modelos cada vez mais robustos permitem antecipar com maior exatidão o que pode acontecer nos próximos 10 dias;
– No coberto florestal, que é gerível: podemos modificar a paisagem e gerir a biomassa para minimizar o risco que representa a estrutura dos combustíveis;
– Na população, que é educável: as escolas e universidades desempenham um papel muito importante na sensibilização e educação dos cidadãos, logo desde a infância.
O CeaseFire foi desenvolvido tendo em conta estas três vertentes, com modelos que ajudam a prever os riscos, a saber quando é viável atuar ao nível da vegetação, e como uma plataforma aberta que permite a qualquer pessoa conhecer a realidade dos fogos rurais e os fatores que agravam os incêndios em Portugal.