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“Da semente à floresta”, por Filomena Gomes

Filomena Gomes percorre o caminho da semente à floresta, explicando como se regenera a floresta e se propagam as espécies florestais, um conhecimento essencial, embora complexo, para saber como plantar, reflorestar e melhorar áreas de floresta e agrofloresta.

 

Plantação de floresta, reflorestação e recuperação de zonas florestais degradadas são temas em destaque em praticamente todas as diretrizes sobre as florestas e as estratégias ambientais, mas como se propagam as espécies florestais e quais as práticas de regeneração a que podemos recorrer? É este caminho – da semente à floresta – que Filomena Gomes nos dá a conhecer, começando pela regeneração natural da floresta.

Para promover a regeneração natural da floresta, aproveitando os recursos genéticos que já existem em determinada área, é preciso proteger a terra “do dente do gado e do dente do arado”, referia um antigo ditado, para ilustrar como o pastoreio e as mobilizações do solo podem prejudicar ou impedir os processos naturais de restabelecimento das espécies florestais.

Vários outros condicionantes juntam-se à mobilização do solo – incluindo, por exemplo, as chuvas torrenciais, os incêndios ou as pragas e doenças – pelo que a intervenção humana é, com frequência, necessária.

A beneficiação dos terrenos e o adensamento dos povoamentos florestais são duas formas de intervir em benefício da regeneração florestal. Por exemplo, pode ser necessário beneficiar, limpando a vegetação que cresce junto às jovens árvores para que a luz lhes possa chegar ou vedando uma área para que o gado não pise as árvores em crescimento. Da mesma forma, pode ser preciso adensar, plantando mais árvores em zonas onde elas são escassas ou até plantado diferentes espécies, de forma a promover a diversidade, o que é sinónimo de maior resiliência do ecossistema.

A regeneração natural aplica-se essencialmente às espécies autóctones, mas a regeneração da floresta pode também fazer-se artificialmente, por sementeira ou propagação vegetativa.

Materiais de reprodução: plantas, propágulos e sementes

 

Neste percurso que vai da semente à floresta, importa saber o que propagar e como propagar.

Para garantir melhor adaptabilidade ao relevo e clima de cada região, os materiais a propagar para plantação de espécies florestais ou agroflorestais devem respeitar as regiões de proveniência estabelecidas. Isto significa que não devemos colocar no solo qualquer semente ou planta. O ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e Florestas disponibiliza catálogos onde é possível conhecer, para as diferentes espécies, quais os melhores materiais de propagação a utilizar num determinado local.

Em cada região, estes materiais são selecionados em árvores superiores – árvores que se destacam nos povoamentos por terem características que valorizamos, como por exemplo a resistência a pragas e doenças ou a produtividade – e é nestas árvores que vão ser colhidos os chamados materiais florestais de reprodução, que que darão lugar a novas árvores, mais adaptadas às características dessa mesma região.

Os materiais florestais de reprodução não são apenas sementes. Podem ser propágulos, ou seja, partes de plantas que permitem a regeneração de uma nova planta, ou plantas já formadas.

Estes materiais não têm todos as mesmas características. Por exemplo, se usarmos sementes (propagação seminal) a nova árvore recebe 50% da genética (DNA) da sua árvore mãe (onde a semente foi recolhida) e os outros 50% vêm do pólen existente no povoamento. Já quando propagamos partes de plantas (através de estacaria) as novas árvores são geneticamente 100% iguais às árvores mãe.

Sobre o Formador

Filomena Gomes é, desde 1995, docente na Escola Superior Agrária de Coimbra, Instituto Politécnico de Coimbra, nas áreas de Propagação de plantas, Melhoramento, Fisiologia vegetal e Operações florestais. Desde 2005 que tem trabalhado no melhoramento medronheiro, e desde 2012 está integrada em projetos de investigação e desenvolvimento (PDR2020, ProDeR e FCT), com várias entidades parceiras, para o melhoramento da cultura e das suas práticas, desde a planta ao fruto.

Anteriormente, foi docente na Escola Superior Agrária de Castelo Branco (1982 a 85), na área de Mesologia, Solos e Fertilidade, e trabalhou na área de melhoramento florestal e propagação de plantas na Portucel Florestal (1985 a 95).

Licenciada em Silvicultura no ISA – Instituto Superior de Agronomia, Filomena Gomes é doutorada em Biologia Vegetal pela Faculdade de Ciências e Tecnologia, da Universidade de Coimbra.