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Gestão de riscos fitossanitários, por José Manuel Rodrigues

A presença de organismos nocivos é uma das principais ameaças à sustentabilidade da floresta. Mas o que tem sido feito em Portugal para prevenir e controlar a dispersão destes organismos causadores de pragas? E quais os principais desafios que se colocam na gestão dos riscos fitossanitários?

Na União Europeia, a floresta ocupa uma área próxima dos 157 milhões de hectares e cerca de 3,15% deste total apresenta-se danificada, segundo dados do Global Forest Resources Assessment 2020. Um terço destes danos são causados pelas pragas florestais. Portugal não escapa a estes desafios e riscos fitossanitários.

Só entre 1995 e 2019, foram identificadas 15 novas pragas no território nacional, com danos ecológicos significativos e prejuízos económicos avultados. Considerando apenas a ação do ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, o investimento que é feito anualmente na prevenção e controlo de pragas eleva-se a cerca de 1,15 milhões de euros.

São vários os fatores que explicam a crescente dimensão que este problema tem vindo a assumir na floresta nacional.

Por um lado, a utilização de plantas de má qualidade ou de espécies desadequadas às características da zona onde são plantadas (clima, solo e outras, chamadas condições edafoclimáticas), o que facilita o aparecimento de pragas. A ausência de modelos de gestão florestal adequados e de boas práticas fitossanitárias promovem também a dispersão dos agentes bióticos nocivos.

Por outro lado, os desafios à gestão dos riscos fitossanitários com caráter mais global. É o caso das alterações climáticas. Este fenómeno cria pressões acrescidas sobre os hospedeiros, incluindo as árvores das florestas, enfraquecendo-as, e favorece as condições para o estabelecimento de novas pragas.

Mas é a globalização da economia – nomeadamente o transporte de mercadorias a longa distância – que atualmente coloca maior pressão no controlo dos riscos fitossanitários.

Seja por terra, ar ou mar, são transportados por todo o mundo um grande volume de mercadorias, a maiores velocidade e distância do que no passado. Sintomático desta tendência, nos últimos anos, é o registo de um conjunto de interseções de fungos e insetos identificados em diversos portos marítimos da Europa, que acabam por dispersar-se nas nossas florestas.

O que está a ser feito para combater os riscos fitossanitários?

Os impactes ambiental e económico causados pelos agentes bióticos nocivos exigem a tomada de medidas robustas. Além das iniciativas internacionais (nomeadamente no espaço europeu), Portugal desenvolveu um modelo próprio para evitar a dispersão de pragas à escala nacional. Eis um resumo dos seus eixos:

  • Capacitação de recursos humanos e financeiros
    Portugal tem apostado na afetação de recursos humanos e recursos financeiros especificamente dedicados à implementação do regime fitossanitário.
  • Planeamento e atuação
    O Programa Operacional de Sanidade Florestal (POSF) – desenvolvido pelo ICNF em conjunto com diversos agentes do sector, incluindo as entidades mais relevantes no que diz respeito à fitossanidade, vem enquadrar as bases estratégicas em termos de intervenção na prevenção e controlo de pragas. Este programa enquadra diferentes planos de atuação: de contingência, de ação e ainda os planos de controlo.
  • Prevenção e controlo
    Têm sido implementadas no terreno ações dirigidas à deteção precoce, de modo a promover uma atuação mais clara e eficiente em termos de controlo das pragas, assim que é detetado o agente biótico nocivo.
  • Formação e sensibilização
    Uma outra dimensão essencial ao controlo e prevenção de pragas florestais é o reforço das ações de formação e sensibilização dirigidas aos técnicos e aos inspetores fitossanitários, bem como a todos os agentes do sector que atuam nestas matérias. A articulação destas ações de sensibilização é feita através do Plano Nacional de Sensibilização em Sanidade Florestal.

Só através da adoção de uma estratégia de atuação integrada e apoiada em diversas dimensões será possível dar uma resposta firme aos desafios que se perfilam na gestão dos riscos fitossanitários. “Temos de adotar critérios ou aspetos que reforcem a biossegurança, nas diversas fases de prevenção e controlo das pragas”, explica José Manuel Rodrigues, diretor do Departamento de Gestão e Valorização da Floresta, no ICNF.

Isto significa, por exemplo, que têm de ser implementadas medidas específicas para evitar a introdução de pragas ainda antes da fronteira (seja através de proibições, certificações ou tratamentos fitossanitários). Ao mesmo tempo, têm de existir protocolos nas fronteiras para detetar a eventual entrada de agentes nocivos – através de inspeções, tratamentos fitossanitários e de regimes de quarentena. E, finalmente, numa etapa posterior, é imprescindível a tomada de medidas para evitar a dispersão destas pragas e controlar os seus impactes.

Sobre o Formador

José Manuel Rodrigues é licenciado em engenharia florestal e doutorado em ciências agronómicas e florestais pela UTAD – Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro. Tem ainda o curso de formação em gestão pública no ISCTE-IUL.

É diretor do Departamento de Gestão e Valorização da Floresta no ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P., onde foi responsável pela conceptualização estratégica do Programa Operacional de Sanidade Florestal e pelos seus princípios orientadores de prevenção e controlo dos agentes bióticos nocivos.