As plantações florestais de espécies exóticas com objetivos de produção são, tipicamente, mais homogéneas do que as paisagens florestais nativas, mas com práticas de gestão adequadas estão longe de ser “desertos verdes”, como alguns as têm apelidado.
O número de espécies ameaçadas e de populações em declínio continua a aumentar, desde vertebrados a corais, indica o índice de sobrevivência das espécies, da IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza, pelo que é imperativo tomar medidas de conservação para travar esta tendência. Uma das ferramentas para proteger a biodiversidade tem passado pela implementação de áreas protegidas, mas elas só protegem cerca de 15% dos ecossistemas terrestres. Não são, por isso, suficientes e é necessário considerar também as áreas não protegidas, incluindo as áreas agrícolas e silvícolas, nas quais se enquadram as plantações florestais.
No entanto, estas áreas têm sido denominadas como desertos verdes. Será que o são? Esta ideia foi associada às plantações florestais sem que, muitas vezes, houvesse dados e estudos científicos robustos que a sustentasse.
É certo que ao pensarmos numa floresta com objetivos de produção de madeira, onde existe apenas uma ou duas espécies de árvores geridas intensivamente, não podemos esperar que exista a mesma diversidade do que numa floresta primária e intocada pelas atividades humanas. Da mesma forma que não se espera uma elevada biodiversidade numa plantação agrícola. Isto não impede, no entanto, que várias espécies continuem a ser observadas em plantações florestais.
É isto que têm demonstrado vários estudos, efetuados por equipas científicas, que acompanharam diferentes espécies, nomeadamente de mamíferos, em plantações florestais em distintos países do mundo. Em Portugal, existem alguns estudos recentes que chegaram aos mesmos resultados: as florestas plantadas não são “desertos verdes”.
Embora seja necessário saber mais, estes estudos indicam que diferentes configurações de plantações florestais, suas extensões e fases do ciclo produtivo, assim como idades de corte (que não são iguais nos vários países) e práticas de gestão silvícola têm impactes nas espécies que podem utilizar estes ambientes. Indicam também que as espécies com maiores registos nestes habitats alterados pela atividade humana são terrestres, omnívoras e mais generalistas (capivara no Brasil ou raposa no Brasil e em Portugal, por exemplo), pois são mais resilientes a perturbações e menos exigentes quanto à alimentação. Basta um eucaliptal ter algum mato e herbáceas para que estas espécies estejam presentes, refere Luís Miguel Rosalino, explicando que a abundância de espécies decai na fase de preparação para o corte, na qual a presença de máquinas, afasta espécies mais suscetíveis.