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Rede Mundial de Reservas da Biosfera, por António Abreu

A Rede Mundial de Reservas da Biosfera abrange quase 10% do planeta e 300 milhões de pessoas. “Se conseguirmos mostrar, nestes 10%, que é possível viver em harmonia com a natureza, poderemos fazer o mesmo em qualquer outro sítio”, refere António Abreu, Diretor da Divisão de Ciências Ecológicas e da Terra, na UNESCO.

A Rede Mundial de Reservas da Biosfera nasceu em 1971, numa altura em que crescia a consciência de que algumas atividades humanas, da forma como estavam a ser feitas, implicavam riscos ou desequilíbrios para o desenvolvimento humano, nas vertentes social, ambiental e económica.

Assim, com a missão de compreender e melhorar as relações entre as pessoas e a natureza, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO fundou o Programa “O Homem e Biosfera” (no original, Man and Biosphere, identificado pela sigla MAB). É este programa que designa “Sítios” reconhecidos pela sua diversidade e representatividade biogeográfica (entre outros critérios) como Reservas da Biosfera.

Uma Reserva da Biosfera é uma área que pode abranger a terra e o mar que a envolve, e que está organizada em três tipologias espaciais: um núcleo, que corresponde a uma zona com estatuto de proteção (um Parque Natural ou uma Paisagem Protegida, por exemplo), uma zona tampão (que envolve a zona nuclear) e uma zona de transição, tipicamente já habitada.

Exatamente por incluírem áreas habitadas, as Reservas da Biosfera têm por objetivo não apenas proteger a natureza, mas também envolver os alunos, os seus pais e professores, as empresas e outras organizações, os investidores e governantes, criando condições para que possam cooperar e fazer o melhor uso dos recursos naturais disponíveis, em benefício da natureza e das pessoas.

Como sublinha António Abreu, responsável da UNESCO pelo programa MAB, “queremos, sobretudo, fazer uma utilização inteligente dos recursos naturais”. Isto passa por assegurar que os ecossistemas são saudáveis, mas também que as Reservas da Biosfera são sítios de experimentação, laboratórios vivos de conhecimento, facilitadores da cooperação ao nível da comunidade e promotores das dinâmicas económicas locais.

Isto pode ser feito de muitas formas. Por exemplo, através de projetos de investigação e de conservação de espécies e habitats, da criação de roteiros de turismo sustentável ou da valorização de produtos típicos da cultura e história local.

Consoante a realidade de cada Reserva, há iniciativas específicas, que podem ir desde a monitorização dos grandes primatas, em África, à plantação de espécies raras, como acontece com o teixo (Taxus baccata) no norte de Portugal, ou à aquisição de produtos a pequenos agricultores em Santana, na ilha da Madeira –produtos que são depois encaminhados para cantinas ou que, conjuntamente, ganham a escala necessária para serem comercializados.

Qualquer Reserva tem, assim, de conjugar três funções:

  1. Conservar a natureza, os habitats e ecossistemas, mas também a cultura humana que lhes está associada.
  2. Contribuir para educação, conhecimento e investigação científica, apoiando as condições logísticas associadas a estas atividades.
  3. Promover o desenvolvimento socioeconómico.

É isto que acontece em cada uma das 759 Reservas da Biosfera que existem, em 2025, em 136 países por todo o mundo.

Por sua vez, as reservas estão organizadas em redes temáticas (com características similares – geográficas, linguísticas, ecológicas, entre outras) que partilham conhecimentos e experiências, cooperando para criar soluções, dentro e entre Reservas.

Como salienta António Abreu, com este modelo de cooperação, além de abordarem desafios locais, proporcionam conhecimento, perspetivas de atuação e modelos de desenvolvimento que contribuem para os processos globais, ajudando a dar resposta a vários dos Objetivos Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da diversidade biológica.

As Reservas da Biosfera portuguesas

Em Portugal, temos um total de 12 Reservas da Biosfera em 2025 – seis em território continental, quatro no arquipélago dos Açores e duas no da Madeira. A criação da primeira Reserva remonta ao século XX:

  • 1981 – Paúl do Boquilobo, zona húmida no Ribatejo, que é um importante ecossistema de água doce em Portugal.
  • 2007 – Ilha do Corvo e Ilha Graciosa, nos Açores, que incluem as zonas terrestes e marinhas envolventes.
  • 2009 – Reserva transfronteiriça Gerês-Xurês, a primeira a abranger território português e espanhol; e Ilha das Flores, que envolve a ilha e as águas em seu redor, nos Açores.
  • 2011 – Berlengas, que inclui este arquipélago e a cidade de Peniche; e Santana, no Norte da Ilha da Madeira, englobando o município e a área marinha adjacente.
  • 2015 – Meseta Ibérica, a maior das Reservas da Biosfera transfronteiriças na Europa, que vai desde Bragança, no Norte de Portugal, a Salamanca, em Espanha.
  • 2016 – Reserva transfronteiriça do Tejo-Tajo, que segue o curso deste rio nas áreas abrangidas pelos Parques Naturais que existem dos dois lados da fronteira; e Fajãs de São Jorge, nos Açores, que abarca terra e zona marinha. Neste ano, foi feita também a revisão da área do Boquilobo, com aumento da sua extensão.
  • 2017 – Castro Verde, na planície ou estepe alentejana, que é a primeira Reserva a sul do Tejo.
  • 2020 – Ilha de Porto Santo, no arquipélago da Madeira.
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São Jorge, Açores

Outras duas candidatas estão, em 2025, em fase de análise: Arrábida e Serra da Estrela.

Além dos projetos que envolvem as comunidades de cada Reserva, há iniciativas transversais, como por exemplo a Rede Biokeeper, aberta à participação civil e da comunidade escolar.

Sobre o Formador

Biólogo, doutorado em Biologia Marinha e especialista em Ambiente, António de Sousa Abreu é Diretor da Divisão de Ciências Ecológicas e da Terra na UNESCO e responsável pelo programa MAB – Homem e Biosfera, onde se enquadram as Reservas de Biosfera.

Além de uma longa carreira internacional em organizações como a UNESCO, o Banco Africano de Desenvolvimento, o Banco Mundial e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, tem vasta experiência no sector ambiental, em áreas como gestão ambiental, biologia e ecologia marinha, alterações climáticas e conservação da biodiversidade.

Ao longo da sua vida profissional foi Bastonário da Ordem dos Biólogos, Diretor Regional do Ambiente no Governo Regional da Madeira, Diretor do Museu de História Natural do Funchal e da Estação de Biologia Marinha do Funchal, assim como investigador e gestor da Cátedra UNESCO – da Universidade de Coimbra – em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável.

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