É claro que este trabalho realizado no Agrupamento de Baldios da Serra do Gerês não pode passar apenas por estas comunidades, uma vez que elas não são as únicas promotoras dos serviços gerados pelos ecossistemas, e, por vezes, nem são elas que têm o proveito principal do uso de determinados recursos naturais que a região “oferece”.
Como tal, este proveito deve ser “pago”. Para isso, é necessário um Programa de Remuneração de Serviços de Ecossistemas em Espaço Rurais mais extenso. Este programa teve como primeira fase apenas dois locais do território nacional e é essencial que seja agora ampliado a todas as áreas do Parque Nacional Peneda Gerês e a outras áreas protegidas e/ou classificadas de Portugal.
Essa valorização poderá passar pelo benefício de se terem áreas devidamente certificadas em Serviço de Ecossistemas, como é o caso, neste momento, das áreas das comunidades locais de Fafião e Pincães, integradas no Agrupamento de Baldios da Serra do Gerês. Em conjunto, perfazem já uma das maiores áreas certificadas em Serviços dos Ecossistemas para a “Conservação da Biodiversidade – Florestas Naturais” e estão em processo de obter a Certificação do “Sequestro e Armazenamento de Carbono”.
Apesar destas comunidades ainda não sentirem o verdadeiro benefício desta certificação, acredito que nos próximos anos os pontos a ter em conta serão mais positivos do que negativos: acredito que, num futuro próximo, estas comunidades locais sejam verdadeiramente ressarcidas pelos valores que criam (além do valor de exploração) e não fiquem apenas e só com o ónus do trabalho de gestão que neste momento vão realizando.
Não se pode pensar apenas em (re)arborizar, mas sim e também em conservar e preservar as áreas florestais existentes de elevado valor, o que, consequentemente, irá salvaguardar um dos nossos bens essenciais, que é regulação da água. Esta conservação e preservação irá ainda permitir maior controlo de outros fatores bióticos e abióticos, rumo à verdadeira remuneração dos restantes serviços de ecossistemas.
Nestes serviços, e no caso específico do Agrupamento de Baldios da Serra do Gerês, não posso de deixar de referir aqueles mais notórios para as nossas comunidades locais, que são a produção de mel, cortiça, madeira de pinho – ao nível do aprovisionamento e ao nível cultural, pois são uma das tradições mais bem preservadas e seculares desta região -, e as vezeiras onde o pastoreio é realizado em alta montanha e em regime comunitário. Graças a isto mantêm-se os terrenos limpos, férteis e o risco de incêndio é reduzido.
Uma solução para fomentar a gestão comunitária agrupada ao nível da paisagem – e assim garantir a gestão a médio-longo prazo, bem como o pagamento dos serviços do ecossistema que essas áreas agrupadas criam e cedem gratuitamente à sociedade – é aproximar o Programa de Gestão da Paisagem aos Agrupamentos de Baldios, fomentando a criação de Áreas Integradas de Gestão da Paisagem (AIGP) e Operações Integradas de Gestão da Paisagem (OIGP) compostas por áreas comunitárias, em conjunto – ou não – com áreas privadas dos seus compartes. Aguardamos com expectativa o futuro próximo.
Será que as comunidades locais têm perfeita noção do qual o seu valor? Da sua importância nacional? Será que valorizam demasiado aquilo que dão ao país? Não propriamente. Os benefícios para o território são exponencialmente superiores àqueles que o território externo lhes dá.