Pode dizer-se que a única espécie com um programa de melhoramento genético florestal em Portugal estruturado e completo é o patinho feio da nossa floresta, o Eucalyptus globulus. Apesar de ter a fama de ser o primeiro programa de melhoramento desta espécie no mundo, o Material Florestal Reprodutivo de eucalipto, qualificado ou testado, ainda representa apenas 50% do total de plantas comercializadas. Isto implica que, com as presentes taxas de arborização anuais, a conversão da área total de eucalipto em plantações com material genético melhorado levará mais de cem anos a atingir. Assim, em consequência das muitas arborizações feitas com material de qualidade inferior – e também pela ausência de gestão silvícola – a produtividade real do eucalipto no país, sobretudo nas zonas com as condições naturais que propiciam uma maior produtividade, ainda está muito abaixo da produtividade potencial.
Por seu lado, o pinheiro-bravo, apesar de um arranque promissor das actividades de melhoramento na década de 60 do século passado, tem carecido de um investimento continuado, quer na manutenção (ex. avaliações genéticas) e instalação de novos ensaios (ex. selecção de indivíduos superiores), quer na realização dos ganhos genéticos por não haver um aproveitamento efectivo da produção dos pomares de semente instalados. Com efectivo quero dizer transformar os ganhos genéticos obtidos, de 21% em volume de madeira e de 17% na forma do fuste, em recolha de semente melhorada nos pomares de semente, em plantas melhoradas produzidas nos viveiros e em novas arborizações que, com este material, deem origem a um aumento real e significativo de produtividade da fileira do pinho.
Quanto à árvore nacional de Portugal, o sobreiro, já cansa ouvir falar de património cultural, de contributo para a biodiversidade e ter de repetir vezes sem conta o que já Vieira da Natividade, há noventa anos, afirmara: “é urgente melhorar a qualidade das nossas cortiças (…) utilizando plantas de origem conhecida”. Reconhecendo a importância do melhoramento genético do sobreiro, cria e inicia em 1930 as primeiras actividades na Estação de Experimentação do Sobreiro, em Alcobaça. Passado quase um século, a justificação para a ausência de investimento, público ou privado, continua a ser o longo ciclo reprodutivo do sobreiro, a sua complexa biologia reprodutiva e o tempo necessário para obter uma avaliação precisa da qualidade da cortiça. De facto, é uma árvore que cresce demasiado devagar para os projectos de investigação que são financiados a três anos e para os governos que duram quatro. É um curto tempo quando nos colocamos à sombra das árvores, a investigar, e queremos dar respostas sobre como melhor crescem, onde e porquê.
Em resumo, muitos projectos, muita investigação espalhada por gabinetes, muitos artigos científicos sobre melhoramento genético florestal em Portugal, mas poucas árvores de pé com melhor qualidade genética por esse país fora, isto é, muita parra e pouca uva.
Definitivamente, há ainda um longo caminho a percorrer para chegarmos à utilização efectiva dos ganhos genéticos alcançados, de maneira a transformar significativamente a qualidade das arborizações florestais. Neste contexto, o primeiro passo tem de vir do sector florestal, em geral, e implica compreender que não existe uma silvicultura moderna, sustentável e produtiva, sem melhoramento genético florestal.