Vamos ser realistas, a mudança climática é um facto e, nesse sentido, é fundamental proceder ao armazenamento da água da chuva, mas é igualmente necessário reduzir a utilização deste recurso, quer a nível urbano quer nas atividades económicas, com são a agricultura e a indústria.
Para reduzir necessitamos de uma mudança de comportamentos e de atitudes. Sabemos o esforço e o empenho que o sector agrícola está a fazer para o uso mais eficiente da água e há muitos bons exemplos de explorações agrícolas, tal como acontece na Quinta da Cholda, no Ribatejo.
Este sector tem pela frente um grande desafio, que é o de produzir mais com menos, ou seja, minimizar a utilização da água e igualmente reduzir a degradação dos solos. Tal implica conhecimento e utilização da tecnologia, tendo a monitorização da qualidade e quantidade dos recursos hídricos um papel crucial. Para gerir bem os recursos disponíveis é necessário saber com o que se pode contar a cada momento.
A verdade é que as questões relacionadas com a água têm de ser analisadas de forma sistémica. Há uma relação direta entre clima, solos, água e vegetação. Neste sentido, o solo desempenha um papel fundamental, através das suas propriedades físico-químicas, com particular destaque para o teor em matéria orgânica. Esta é a componente orgânica do solo, consistindo em pequenos resíduos vegetais frescos, pequenos organismos vivos do solo, matéria orgânica em decomposição e matéria orgânica estável (húmus).
A matéria orgânica funciona como um íman que agrega as partículas do solo (areias, limos, argilas, entre outros elementos) e cria torrões (agregados). Estes criam espaços entre eles, que vão conter ar e água, elementos fundamentais para a vida do solo. Ou seja, a matéria orgânica é um elemento primordial para se criar um ambiente saudável no solo. Aumentar o teor deste elemento do solo é aumentar a capacidade de um solo reter água.
Um solo rico em matéria orgânica é um solo que vai funcionar como uma “esponja”, absorvendo mais água e dificultando a evaporação. Em consequência, essa água irá proporcionar a existência de um coberto vegetal e a recarga dos aquíferos. Neste sentido, há que reduzir todas as práticas que conduzem à degradação dos solos e à destruição do coberto vegetal.
Nesta linha de pensamento, surge a problemática dos incêndios, que não só destroem os cobertos vegetais (floresta, matos e culturas), mas que ao mesmo tempo favorecem os processos de erosão hídrica dos solos, traduzindo-se, sempre, por uma grande quantidade de solo erodido, transportado pelos cursos de água, que ao chegar às barragens vai acumular-se no fundo dos reservatórios. Muitas das barragens em Portugal estão cheias de sedimentos e a sua capacidade de armazenamento de água é menor do que deveria. Importa ainda destacar a grave perda de biodiversidade provocada pelos incêndios. Assim, a redução do risco destes fenómenos passa pelo ordenamento e gestão da floresta, bem como, por uma vigilância ativa e empenhada da sociedade.