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Joaquim Vieira Natividade: mestre em subericultura e fruticultura

Engenheiro agrónomo e silvicultor, investigador, estratega, técnico e divulgador, Joaquim Vieira Natividade deixou-nos contributos inéditos em várias áreas do saber. Animado de nobres ideais, trabalhou mais de 30 anos para modernizar a fruticultura e a subericultura, assim como para melhorar as condições de vida de quem a elas se dedicava.

Joaquim Vieira Natividade tinha uma capacidade de trabalho extraordinária e foi incansável na busca pelo conhecimento e na sua divulgação. Dedicou a sua vida à Estação de Experimentação do Sobreiro e do Eucalipto e ao Departamento de Pomologia de Alcobaça, delineou estratégias e planos de modernização agrícola e produziu dezenas de publicações, incluindo o livro “Subericultura”, que se mantém como a obra de referência em 2025, 75 anos depois da sua publicação.

Joaquim Vieira Natividade nasceu em Alcobaça, em 1899, e foi o terceiro de quatro filhos de Maria da Ajuda Garcês e Manuel Vieira Natividade. Foi do seu pai que recebeu as principais influências: rigor, disciplina, capacidade de trabalho, gosto pelas ciências, artes e letras, e uma grande devoção pela região de Alcobaça e pela realidade agrária, nomeadamente pela produção de frutos.

Farmacêutico de formação, o seu pai era também agricultor (com grande interesse pela produção de frutos), pequeno industrial, intelectual, escritor, estudioso de arqueologia e etnografia e um especialista na história do Mosteiro de Alcobaça e na obra dos monges-agrónomos cistercienses. Uma das suas preocupações foi a renovação dos pomares da região, tendo, entre outras iniciativas, publicado o livro “As frutas de Alcobaça” e fundado a Junta de Reconstituição dos Pomares de Alcobaça. Estas vertentes acabaram por influenciar o percurso do filho.

Joaquim começou por frequentar o liceu em Alcobaça, mas terminou-o em Coimbra, em 1916. No mesmo ano, matriculou-se no Instituto Superior de Agronomia (ISA), em Lisboa, e em 1922 formou-se, com distinção, como Engenheiro Agrónomo. “A região de Alcobaça. Agricultura, População e Vida Rural” foi a tese de final de curso.

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Vieira Natividade e Arala Pinto, no Pinhal de Leiria. Amigos com grande cumplicidade, Arala Pinto cita-o em várias publicações, inclusive na sua obra maior, “Pinhal do Rei”.

Talvez por influência da sua amizade com Arala Pinto, também estudante do ISA, decidiu depois formar-se Engenheiro Silvicultor. Terminou este segundo curso em 1929, igualmente com distinção e com a tese “O carvalho português nas matas do Vimeiro”. Como lembrança da sua passagem, deixou no pátio central do ISA um carvalho-cerquinho vindo do Vimeiro. Cerca de 100 anos depois, este carvalho é um dos símbolos do ISA, tendo ficado em terceiro lugar no concurso Árvore do Ano 2019.

As duas vertentes que estudou iriam acompanhá-lo ao longo da vida. Em agronomia, especializou-se na área da fruticultura, paixão herdada do pai e à qual trouxe contributos inéditos, designadamente na área da genética e melhoramento das espécies de fruto (pomologia). Na vertente silvícola, focou-se na cultura do sobreiro e da cortiça (subericultura), propondo novas ideias e práticas para a gestão desta espécie e para o seu descortiçamento.

Se com os seus estudos e planos de atuação na cultura das árvores de fruto, ajudou a implementar em Portugal a moderna fruticultura, na vertente florestal introduziu o conceito de silvicultura biológica e deixou-nos a sua obra maior sobre a cultura do sobreiro: Subericultura. Editada em 1950 pelo Ministério da Economia, continua a ser, ainda hoje, considerada como um tratado científico sobre a espécie.

Mais de 30 anos de contributos de Vieira Natividade

A atividade profissional de Vieira Natividade teve início em 1925 e 1926, ainda antes de sair do ISA, como professor na “Escola Agrícola Feminina Vieira Natividade”, instituição criada pelo seu pai. Uma vez terminada a sua formação e ao longo de mais de 30 anos, foi engenheiro agrónomo (com foco na fruticultura), silvicultor, investigador, cientista, divulgador, estratega e técnico com grande capacidade de planeamento e execução.

Com uma forte cultura humanista, sentido de pertença à sua região – Alcobaça – e preocupado com o atraso agrícola do país, tirou partido dos seus dons de escrita e oratória para produzir dezenas de trabalhos e para percorrer o país, a conhecer a realidade do campo e a ajudar os proprietários a resolver os seus problemas.

Contributos para a subericultura e silvicultura biológica

Vieira Natividade ingressou na então Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas (DGFSA) em 1930. Três meses depois foi nomeado diretor da Estação de Experimentação do Sobreiro e do Eucalipto, organismo recém-criado em Alcobaça para estudar as causas da decadência da produção de cortiça de qualidade e reverter a situação. Ali desenvolveu trabalhos durante 20 anos, boa parte do tempo em comissão gratuita de serviço, acumulando esta missão com outros compromissos profissionais.

Durante todo este período, foi um dos mais fortes defensores da reprodução e melhoramento genético do sobreiro. Defendia uma exploração que preservasse a árvore e estava convicto de que o apuramento da espécie, pela seleção dos melhores exemplares, poderia aumentar a sua produtividade e resistência às pragas e doenças.

Os seus conhecimentos de fruticultura influenciaram a forma como abordou as técnicas aplicadas à cultura do montado. Entre outras temáticas, estudou a constituição cromossómica das espécies dos carvalhos nacionais (sobreiro, azinheira e o seu híbrido) e realizou estudos no âmbito da histologia (estudo da estrutura dos tecidos vegetais e suas funções), fisiologia, genética e comportamento da cultura do sobreiro, esclarecendo aspetos até então desconhecidos e propondo novas práticas de condução, em especial para a poda e descortiçamento.

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“Nenhuma árvore dá tanto exigindo tão pouco”

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Joaquim Vieira Natividade entre João Lopes Fernandes e António Sardinha d’Oliveira, em frente ao sobreiro que transplantou de uma lande da Serra de Grândola para a Herdade dos Leitões, em 1957. O transplante ficou registado, assim como as palavras de Vieira da Natividade: “Estávamos ali três pessoas e um sobreiro, mas confesso que acreditei e acredito que éramos ao todo quatro pessoas de boa vontade”.

Em 1943, no Congresso Nacional de Ciências Agrárias, Vieira Natividade apresentou a noção inovadora em Portugal de silvicultura biológica: “o silvicultor é chamado a intervir para melhorar qualitativa e quantitativamente o rendimento da floresta; todavia, nessa intervenção deparam-se-lhe limitações impostas pela fisiologia da comunidade vegetal. A silvicultura intensiva tem, portanto, que possuir uma sólida base biológica (…) O estabelecimento de métodos culturais científicos em silvicultura tem que se apoiar no estudo profundo da biologia da árvore e da biologia da floresta”.

Neste contexto, coordenou estudos completos sobre a vegetação existente nos sobreirais e identificou associações e perturbações do equilíbrio fitossociológico devido à intervenção humana: a ausência de associações naturais de vegetação com murta, folhado, aderno-bastardo, medronheiro, entre outros, e a abundância de estevas e lavandas em ambientes mais degradados. Estas dinâmicas impediam a sucessão progressiva que conduzia ao “clímace, expressão perfeita da harmonia sociológica”.

Para além das espécies que integram as comunidades vegetais, Vieira Natividade destacou outro dos fatores naturais de produção: o solo. “Não é o bosque apenas uma comunidade de plantas superiores. Os musgos, as algas, as hepáticas, os líquenes, os fungos e as bactérias, por um lado, por outro os ínfimos protozoários, os moluscos, os vermes, os artrópodes e os vertebrados, também nos interessam, não no campo simples da sistemática, mas como elementos construtivos ou destrutivos dentro da floresta. A vida no solo florestal é muito mais intensa do que no solo agrícola e o seu estudo deve ocupar lugar de grande relevo na moderna silvicultura”, referiu.

O capítulo “O Ambiente Suberícola Português” da sua obra “Subericultura” é dedicado, em grande parte, à noção de silvicultura biológica, com um conceito muito apoiado em estudos fitossociológicos e na proteção do solo e da sua fertilidade: “A conservação da fertilidade da terra constitui um dos problemas mais prementes da subericultura portuguesa. O declínio alarmante do teor de matéria orgânica cada vez mais inferioriza as condições físicas do solo, acentua a perda de bases, facilita o trabalho erosivo, enfraquece a atividade microbiana, torna mais profunda a aridez. O empobrecimento dos solos dos sobreirais agrava-se de dia para dia”.

Depois de “Subericultura” ter sido publicado, Vieira Natividade abandonou a Estação de Experimentação do Sobreiro e do Eucalipto, por decisão própria, desgastado pela falta de meios de trabalho. “Em 25 anos de vida profissional, não tenho feito outra coisa senão principiar”, referiu. A perda de técnicos continuou até ao encerramento da instituição, em 1956.

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A obra de referência da subericultura portuguesa

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Com João Lopes Fernandes, proprietário que seguiu as diretrizes de “Subericultura” e promoveu visitas de estudo e observação de boas práticas.

O estudo e os avanços das culturas de árvores fruteiras

O interesse de Vieira Natividade pela produção frutícola levou-o a iniciar-se na genética e no estudo do melhoramento das espécies, logo no início da sua carreira.

Em 1926 integrou a Comissão Organizadora do II Congresso Nacional de Pomologia, sob orientação do Professor Joaquim Rasteiro, e destacou-se com o trabalho “Método de Caracterização das Variedades de Peras Portuguesas ou Tidas como Tais”, estruturando um método taxonómico que constituiu a primeira tentativa de classificação de castas de pereiras por chaves dicotómicas.

Em 1932-1933 frequentou a John Innes Horticultural Institution, em Londres, onde se especializou em Genética e Citologia. Destes contactos e estudos resultou um trabalho inovador na área da citogenética, a tese “A Improdutividade em Pomologia – Estudo Fisiológico e Citológico”, com o qual concorreu a professor no ISA, em 1933 (cargo que não veio a exercer, depois de ter ficado em segundo lugar no concurso, então ganho pelo catedrático de Arboricultura, André Navarro).

Em 1937, Vieira Natividade regressou à John Innes Horticultural Institution e estagiou no Instituut voor Veredeling van Tuinbouwgewassen, nos Países Baixos, instituições de pesquisa especializadas no apuramento das plantas.

Ainda em 1937 foi nomeado investigador da Estação Agronómica Nacional, onde fundou o Departamento de Pomologia, que dirigiu até 1958. Esta Estação funcionava ao lado da Estação de Experimentação do Sobreiro e do Eucalipto, em Alcobaça, e sob a sua orientação, desenvolveram-se projetos nacionais relacionados com as espécies pomológicas – pereiras, oliveiras, videiras, castanheiros e muitas outras. As abordagens incluíram estudos de cariologia (cromossomas) e genética, assim como de multiplicação vegetativa de castas e clones selecionados, tendo sempre em consideração o aumento do valor económico que daí poderia resultar para melhorar a vida dos produtores.

Num país sem tradição de trabalhos genéticos, Vieira Natividade pode ser considerado um dos pioneiros dos estudos citogenéticos em Portugal. E foi também o fundador da moderna horticultura (sensu lato) no país: o seu trabalho deu início à fruticultura industrial: da produção em árvores dispersas passou-se à plantação de pomares contínuos.

Neste contexto, desenvolveu estudos, experimentou e implantou redes de pomares-modelo e criou núcleos de assistência técnica pelo país, distribuídos nas regiões produtoras. A partir dos campos experimentais em Alcobaça (que mantêm até hoje uma ligação à fruticultura, através da Estação Nacional de Fruticultura de Vieira Natividade), irradiou conhecimento técnico para todo o país.

Em paralelo, promoveu periodicamente cursos de especialização e atualização de conhecimento para técnicos agrícolas, formações práticas para trabalhadores rurais e fruticultores, assim como conferências sobre os fundamentos científicos da poda em árvores fruteiras.

Em 1967, um ano antes da sua morte, foi inaugurada a Estação Nacional de Fruticultura em Alcobaça, que, em 1981, viu o seu nome alterado para Estação Nacional de Fruticultura de Vieira Natividade, em reconhecimento dos “incontestáveis e notáveis serviços prestados (…) à causa da fruticultura”. Em 2015, é feita ali uma exposição de elogio ao homem e ao cientista.

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Caricatura feita por Francisco Valença, publicada no jornal Sempre Fixe nº 252 de 18 de março de 1931. Fonte: Hemeroteca Digital da Câmara Municipal de Lisboa

Um líder e planeador notável

Vieira Natividade aliava a sua grande capacidade de ação e execução com uma vocação para a conceção e planeamento. Neste sentido, definiu estratégias, planos e campanhas em Portugal, reconhecidas além-fronteiras. Disciplinado e disciplinador, exigente com os seus colaboradores, tinha ainda grande aptidão para mobilizar equipas e criar à sua volta uma atmosfera de ordem e tranquilidade.

Assim, além dos muitos cargos de direção que ocupou, esteve envolvido em muitas outras iniciativas entre 1930 e 1968. Eis alguns exemplos.

Logo em 1930, a convite do Ministro da Agricultura, elaborou o plano da “Campanha da Fruta”, que definiu as bases para a futura Junta Nacional de Exportação de Frutas. Nesse mesmo ano publicou o livro “Os Frutos – colheita, acondicionamento, comércio e transporte”.

Em 1936 foi nomeado representante dos Serviços Florestais na Junta Nacional da Cortiça (JNC). Foi ele quem criou o Boletim Cortiça, meio de divulgação desta Junta, com o artigo ilustrado “O que é a Cortiça” (que depois correu mundo em diversos idiomas) e que promoveu boa parte das suas edições (19 dos seus 30 números tiveram a sua colaboração).

Em 1944, após muitos dos soutos (pomares de castanheiros) terem sucumbido à doença da tinta, o Estado decidiu começar a respetiva reconstituição. Coube a Vieira Natividade reunir uma equipa de técnicos florestais e delinear o “Plano para a Reconstituição e Defesa dos Soutos Portugueses”, que juntou a DGFSA e a Junta Nacional das Frutas.

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Vieira Natividade não se conformava com o crónico atraso agrícola do país e com o desinteresse e apatia generalizados, tendo feito do combate a este estado das coisas um verdadeiro “apostolado” em prol da ciência arborícola – suberícola e frutícola.

Na sua base de trabalho, em Alcobaça, foi criada a então chamada “máquina dos castanheiros” que, um ano depois, começou a beneficiar vários produtores transmontanos, com o tratamento dos castanheiros. Pelo menos até 1960, as brigadas de combate ao mal da “tinta” percorreram a maioria dos concelhos de Trás-os-Montes, fornecendo castanheiros bem enraizados e nas melhores condições de sanidade. A partir de hibridações sistemáticas entre castanheiros portugueses, japoneses e chineses, conseguiram obter-se, em Alcobaça, castanheiros resistentes à doença da tinta para serem multiplicados e ensaiados.

Em 1950, já como chefe da delegação portuguesa na subcomissão da FAO dedicada à floresta mediterrânica, apresentou o “Plano para o Fomento e Defesa da Subericultura Mediterrânica”, um documento que foi adotado como plano de trabalho e levou à eleição de Vieira Natividade como presidente do então criado “Grupo de Trabalho Permanente sobre a Cortiça”. Em 1958 foi também eleito vice-presidente da “Silva Mediterrânea”, pela FAO.

Em 1953 foi incumbido, pela DGFSA, de estudar a organização das Estações Federais de Ensaios Agrícolas na Suíça e, seis anos depois, nomeado responsável pelo “Empreendimento Fruticultura” do II Plano de Fomento (um dos Planos Governamentais que começaram a ser implementados no Estado Novo, em 1953, para promover o desenvolvimento económico e a indústria). Foi com este “Empreendimento” que começaram a definir-se as aptidões dos terrenos, procedendo-se depois à instalação de pomares nas zonas mais adequadas. Finalmente, transmitiam-se aos profissionais locais todos os conhecimentos relacionados com a manutenção das explorações.

Em 1962, o então Ministro da Economia, Ferreira Dias, visitou Alcobaça e os trabalhos que observou levaram-no a criar o Centro Nacional de Estudos e de Fomento da Fruticultura. Vieira Natividade foi nomeado seu diretor. Dificuldades várias fizeram com que este Centro só ficasse concluído e operacional em janeiro de 1968. Natividade confessou, nessa altura, com emoção: “Agora sim, agora tenho finalmente condições para trabalhar”. Meses depois, a 19 de novembro de 1968, morria em Alcobaça.

Uma vida cheia e uma obra com centenas de contributos

Além dos dons de escrita e oratória, que o destacaram como conferencista e divulgador entre pares e para o mundo rural, Vieira Natividade possuía também uma forte veia criativa: deixou-nos desenhos, fotografias, filmes e anúncios publicitários.

Dos mais de 300 trabalhos que publicou ao longo de cerca de 40 anos, constam artigos científicos nas suas áreas de eleição – a subericultura e fruticultura –, mas também publicações e intervenções sobre agronomia, silvicultura, economia e política agrícola e florestal, olivicultura, horticultura e resinagem.

Abordou ainda temas literários, artísticos, históricos e biográficos, focando, inclusive, a ligação umbilical entre a história da humanidade e das florestas: “A floresta, berço do homem, que lhe deu alimento, que lhe forneceu o primeiro abrigo, a primeira arma, a primeira ferramenta; que lhe proporcionou, talvez, o primeiro sentimento estético e nele acordou a primeira comoção mística; a floresta, de que fez a caravela que lhe permitiu conhecer a extensão do seu mundo, e a primeira cruz que simboliza as grandezas e as misérias, as injustiças e as heroicas renúncias desse mesmo mundo – permanecerá indissoluvelmente ligada aos destinos do homem”.

Além de livros, artigos técnicos, relatórios, comunicações, escreveu vários artigos de opinião para jornais que, à época, tinham grande audiência: “O Século”, “Diário de Lisboa”, “Diário Popular”, “Notícias Agrícola”, “Novidades”, entre outros.

De salientar que, entre 1926 e 1968, existem publicações suas todos os anos, exceto em 1933, o ano em que concorreu a professor catedrático do ISA. “Subericultura”, de 1950, tornou-se uma obra de referência internacional (foi depois traduzida para outros idiomas), mas são de referir muitos outros contributos. Saiba mais sobre alguns dos artigos e livros que ilustram uma obra de vida.

A par destes contributos, são ainda de referir outros feitos que espelham a amplitude dos seus campos de interesse. É o caso da Olaria de Alcobaça Lda., que fundou com dois sócios, um deles seu irmão, com o objetivo de inovar nos produtos de cerâmica, mantendo as raízes portuguesas e o estilo da região de Coimbra. A primeira fornada de loiça vidrada data de outubro de 1927.

Outro exemplo vem de “Flores, Mundo de Beleza”, um documentário escrito e dirigido por Vieira Natividade, já a cores. Produzido pela então DGFSA, representou Portugal em diversos certames internacionais. Em 1963, em Trieste, num concurso de cinema da especialidade, o documentário recebeu um diploma de honra.

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Caricatura por Armando Boaventura. Fonte:
Vida rural. Semanário da Lavoura nº 299, 7 de fevereiro de 1959.

Este foi apenas um dos muitos reconhecimentos de Vieira Natividade e da sua obra. Entre eles, refiram-se os títulos:

  • Fellow” da American Association for the Advancement of Science (1940).
  • Sócio correspondente da Real Academia de las Ciencias Fisicas, Exactas y de la Naturaleza de Espanha (1940).
  • Grande Oficial da Ordem do Mérito Agrícola e Industrial – Classe de Mérito Agrícola (1951), por decreto da Presidência da República.
  • Sócio correspondente (1952) e efetivo (1955) da Academia das Ciências de Lisboa, Classe de Ciências.
  • Sócio Honorário da Associação Central da Agricultura Portuguesa (1960), tendo-lhe sido conferida, mais tarde, a Medalha de Ouro por serviços prestados à agricultura nacional.
  • Doutor honoris causa pela Universidade de Toulouse (França, 1967), pelo seu contributo para o avanço da fruticultura, também a nível europeu.

Ex-libris de Vieira Natividade, esta é a imagem que o identifica na sua obra: o Mosteiro de Alcobaça e uma árvore de fruto, a “maior riqueza”, nas palavras de Natividade: “Por que persistimos em menosprezar a árvore de fruto? Por que razão nós, tão pobres de bens, desdenhamos tal riqueza?”

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Quem o conheceu, retrata-o como um trabalhador incansável, de carácter forte, perseverante e perfeccionista. Um homem de olhar penetrante, com um carácter complexo e um feitio nem sempre fácil – podia ser distante, glacial, afável ou caloroso, consoante as circunstâncias e os interlocutores –, e com uma disciplina draconiana. E, como o próprio reconhecia, era parco no viver e desprendido de bens materiais, o que justificava com graça, ao dizer ser “magro, de fraco alimento e sem filhos para alimentar”.

Eis os testemunhos de quem com ele privou:

“São os homens que, com o seu saber, a sua inteligência, a sua criatividade, perseverança e carisma, fazem a diferença e asseguram o êxito das instituições e das políticas, quer no plano conceptual, quer na sua execução. Vieira Natividade fez a diferença, deixando uma obra notável. A fruticultura e a subericultura, sem ele, não seriam o que são hoje”

Neiva Vieira, engenheiro silvicultor, apaixonado pela história da floresta e pela sua divulgação.

“A par de Gaussen e Pavari, Vieira Natividade integrou o grupo dos três mais categorizados Mestres Florestais da Silvicultura Mediterrânica”

Albino de Carvalho, cientista na área da tecnologia dos produtos florestais.

“Vieira Natividade, este gigante agrónomo-silvicultor”

Aurélio Quintanilha, investigador na área das ciências biológicas e dos precursores da Biologia em Portugal.

“Natividade falava das suas coisas com rigor, clareza de exposição, contenção e recato, quase humilde”

Fernando Catarino, biólogo e professor universitário.

“O último monge-agrónomo de Santa Maria de Alcobaça, precursor em Portugal das Ciências Ecológicas”

 Manuel Gomes Guerreiro, silvicultor e primeiro reitor da Universidade do Algarve.

Um agradecimento especial a José Neiva Vieira, engenheiro silvicultor apaixonado pela história florestal e pela sua divulgação, pela disponibilização de grande parte da informação aqui reunida.