A disponibilidade de água doce é indissociável da floresta e, tal como elas, também estes ecossistemas enfrentam várias ameaças que importa relembrar no Dia Mundial dos Rios, uma data comemorativa instituída em 2005 e que se assinala anualmente no último domingo de setembro.
Os rios são, historicamente, local de excelência para o estabelecimento de populações, pois deles depende a água para consumo e rega, além de servirem de meio para deslocação e transporte. No Dia Mundial dos Rios importa relembrar a sua importância social, económica e ambiental, assim como as diversas ameaças enfrentadas por estes ecossistemas, cujo equilíbrio depende, em grande parte, da presença das florestas.
Segundo a FAO – Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas, aproximadamente 75% da água doce acessível no mundo para usos agrícolas, domésticos, industriais e ambientais depende das florestas.
Apesar de a água ser o líquido mais abundante no planeta, apenas cerca de 3% corresponde ao que chamamos de água doce, e, desta percentagem, somente uma ínfima parte – em lagos, rios, na atmosfera e no solo – está disponível. A água doce é, assim, um recurso escasso que importa preservar e que depende em grande parte das florestas, essenciais na regulação da qualidade e quantidade da água e com influência nos padrões de chuva, na sua infiltração no solo (reservas subterrâneas) e na sua purificação.
A poluição tem sido uma das principais ameaças às reservas naturais de água doce na Terra. Contudo, nos últimos anos, o impacte das alterações climáticas constitui preocupação crescente, reforçando o papel das florestas na regulação dos fluxos de água, e, consequentemente, na disponibilidade de recursos hídricos. Com aproximadamente 80% da população mundial a enfrentar problemas de segurança hídrica, a gestão das florestas com vista à preservação e disponibilidade de água doce é cada vez mais um tema central, alerta a FAO.
As florestas ribeirinhas e as suas funções
Na envolvência de rios, lagos e riachos, as florestas ribeirinhas estão entre os ecossistemas mais diversos e complexos do mundo. Estas florestas, também chamadas de ripárias ou ripícolas, são constituídas pelas comunidades de árvores, arbustos e outros tipos de vegetação existentes nas margens dos rios e ribeiras, como freixos (Fraxinus excelsior e Fraxinus angustifolia), amieiro (Alnus glutinosa), bétula (Betula celtiberica) ou, entre muitas outras, várias espécies de salgueiros (Salix spp.).
Além de albergarem elevada biodiversidade, as florestas ribeirinhas são importantes fornecedores de serviços dos ecossistemas (os benefícios que as pessoas e a sociedade obtêm dos ecossistemas) e essenciais na disponibilidade de água com qualidade para o consumo humano. Como destaca o projeto RIVEAL, dedicado ao estudo dos serviços e valores destas florestas, elas:
- Constituem um importante filtro biológico para poluentes e nutrientes provenientes da agricultura;
- Têm um papel importante nos processos de erosão e sedimentação;
- Proporcionam retorno económico pela produção de bens (madeira, plantas aromáticas ou com propriedades medicinais, entre outros);
- Oferecem proteção contra cheias;
- Funcionam como corredores de migração para aves, mamíferos e outros animais;
- Proporcionam outros valores menos tangíveis, como os cénico-paisagísticos, recreativos, patrimoniais e culturais.
Entre as suas muitas funções, de destacar também o papel das florestas ribeirinhas enquanto sumidouros de carbono na mitigação dos efeitos das alterações climáticas, como salientou um trabalho de campo do CEF – Centro de Estudos Florestais (ISA – Instituto Superior de Agronomia): cada hectare de floresta ribeirinha analisada retinha cerca de 120 a 200 toneladas de carbono, armazenado sobretudo no tronco e ramos das árvores.
Dia Mundial dos Rios para incentivar boa gestão
As preocupações com os efeitos das alterações climáticas e a necessidade de preservar a qualidade e quantidade da água doce disponíveis fazem do Dia Mundial dos Rios uma data importante para promover a consciencialização pública e incentivar uma boa gestão e a preservação das linhas de água em todo o mundo.
O Dia Mundial dos Rios celebra-se desde 2005. Esta efeméride, comemorada anualmente em mais de 100 países no último domingo de setembro, foi criada como complemento à Década das Nações Unidas Water for Life (2005-15), uma iniciativa implementada para sensibilizar para a necessidade de preservar os recursos hídricos do planeta.