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Floresta Portuguesa

O que são espécies autoincompatíveis?

Espécies autoincompatíveis são aquelas cujas flores não são fertilizadas pelo próprio pólen. Ou seja, embora as plantas produzam flores com estruturas femininas e masculinas (hermafroditas), o pólen que fertiliza as flores de uma árvore tem de vir de outras árvores que sejam compatíveis, pois só assim o pólen consegue germinar e fertilizar o óvulo. Este processo designa-se por polinização cruzada, e na amendoeira o transporte do pólen é normalmente assegurado pelas abelhas.

muitos exemplos de espécies autoincompatíveis na família das Rosáceas (a ameixeira japonesa, Prunus salicina, e a cerejeira, Prunus subg. Cerasus) bem como noutras famílias botânicas como as Betuláceas (aveleira, Corylus avellana), ou as Leguminosas/Fabaceae (trevo branco, Trifolium repens), entre outras, mas nem todas usam os mesmos mecanismos ou têm o mesmo nível de autoincompatibilidade. A amendoeira é uma das espécies em que esta característica é particularmente marcante, já que atinge os 100% de infertilidade. Ou seja, sem polinização cruzada por árvores compatíveis, não há formação de sementes – as amêndoas.

Para a planta este é um meio de reforçar o seu vigor híbrido, ou seja, de aumentar a sua diversidade genética e potencial de adaptação. Na amendoeira, que evoluiu em estepes áridas, desertos e regiões montanhosas, sujeita a condições severas e erráticas, a evolução para a autoincompatibilidade terá sido uma estratégia reprodutiva, para aumentar a capacidade de adaptação e resistência a ambientes agrestes e pouco acolhedores. Mas para os produtores de amêndoa este é um entrave adicional.

Atualmente as amendoeiras são propagadas por enxertia. Para garantir a produção de semente nestas espécies, o produtor tem de combinar no seu pomar variedades de amendoeira compatíveis entre si e cuja época de floração seja coincidente. Em paralelo, é necessário garantir que o pólen migra das variedades polinizadoras para as produtoras de fruto, um trabalho assegurado pelas abelhas, as grandes obreiras nestes pomares. Recomenda-se que sejam usadas entre 4 a 10 colmeias por hectare para otimizar a polinização nos amendoais.

Mesmo em pomares de espécies autocompatíveis, as abelhas podem ajudar a maximizar a fertilização e a produção de fruto. No entanto, nem tudo é positivo neste trabalho dos polinizadores, pois algumas doenças virais são propagadas através do pólen que as abelhas transportam de uns pomares para os outros.

Acresce que, de entre as árvores de fruto, a amendoeira é a que floresce mais cedo. Esta característica (regulada por diversos fatores, como o número de horas de frio a que o botão floral, formado no verão, é sujeito durante o outono e inverno) é pouco desejável, pois no inverno as abelhas estão ainda pouco ativas e o risco da ocorrência de geadas ameaça as flores e compromete a fertilização. A floração tardia tem sido, por isso, uma característica desejada nos programas de melhoramento genético desta espécie e o tempo de floração objeto de diversos estudos.

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