Gestão Florestal
Fazer a limpeza da floresta significa fazer uma gestão equilibrada da vegetação que cresce espontaneamente em zonas florestais, agroflorestais e arborizadas. A acumulação desta vegetação, que acontece mais intensamente na fase inicial de crescimento das árvores (antes das copas projetarem as suas sombras), compete com as espécies plantadas e acarreta riscos relacionados com a propagação de incêndios.
Esta limpeza da floresta é também designada como gestão de combustíveis, pois o seu objetivo é reduzir a quantidade de vegetação disponível que, em caso de incêndio, alimenta a combustão e propagação das chamas. Neste sentido, significa o corte e remoção total ou parcial – em determinadas faixas de terreno –, das ervas, arbustos e árvores que ali crescem espontaneamente.
O objetivo é interromper a continuidade da vegetação, em altura e em extensão, e reduzir a quantidade de material vegetal (vivo e morto) que se acumula sobre o solo, de modo a minorar o risco de propagação das chamas que são alimentadas por esta vegetação.
Por lhe ser identificado este benefício na diminuição do risco de incêndio, a redução da carga de vegetação e a criação de zonas de descontinuidade, através das chamadas Faixas de Gestão de Combustível, tornou-se uma obrigação legal nos territórios rurais em Portugal. Saiba de que constam estas obrigações de limpeza de terrenos.
A gestão de combustíveis é apenas uma das operações que fazem parte das atividades regulares ou boas práticas de gestão em povoamentos florestais. Os seus objetivos não se limitam à redução do risco de incêndio, já que estas boas práticas abrangem outras operações. Incluem, por exemplo, os desbastes (para remoção de árvores demasiado próximas ou que apresentem fragilidades), as desramações e as podas de formação (para melhorar a verticalidade dos troncos ou a forma das copas), assim como as podas sanitárias (para eliminar ramos mortos ou com sintomas de pragas e doenças) e a remoção de plantas invasoras.
Além de assegurarem a existência de aceiros e caminhos florestais, promovendo a descontinuidade da vegetação e a facilidade de acesso à área florestal, estas atividades de limpeza da floresta permitem manter as melhores condições de saúde e desenvolvimento dos povoamentos florestais. Neste caso, o corte e remoção da vegetação espontânea são feitos seletivamente, de forma a manter esta vegetação (ou parte dela) nos locais em que os benefícios naturais da sua presença se evidenciam e a removê-la noutros locais, que servem especificamente o objetivo da redução do risco de incêndio.
A vegetação espontânea pode aumentar o risco de incêndio e competir com as árvores pelos recursos (água, luz e nutrientes, por exemplo), mas tem benefícios que importa considerar e valorizar. Assim, a limpeza da floresta não significa que o seu corte e remoção sejam práticas a generalizar. Entre os benefícios da vegetação, tanto da matéria vegetal viva como da morta, salientam-se:
– Protege as plantas mais jovens do vento, do excesso de sol e da geada numa altura em que ainda se estão a desenvolver e a adaptar, podendo até ser essenciais para o desenvolvimento de espécies tolerantes à sombra e que não suportam excesso de luz solar.
– Fornece abrigo e alimento para muitos seres vivos, pelo que a manutenção desta vegetação é importante para a biodiversidade que existe acima do solo, mas também no interior do solo.
– É um fator de proteção do solo contra a erosão. Esta importância reforça-se em áreas específicas, como por exemplo as que envolvem as linhas de água (para onde tendem a escoar e a concentrar-se as águas da chuva), pelo que a limpeza da floresta não deve ser feita nas margens de cursos de água e lagoas (normalmente numa largura mínima de 10 metros), sendo geralmente desaconselhada qualquer atividade de mobilização do solo nesta área.
– É uma fonte relevante de matéria orgânica, com um importante contributo para a formação do solo e seu enriquecimento em nutrientes. A decomposição desta vegetação é uma etapa essencial do ciclo de nutrientes, já que as ervas mortas e as folhas e ramos que caem são decompostos em substâncias mais simples, essenciais ao crescimento das outras plantas.
De resto, nas zonas onde estão identificados valores naturais relevantes, sejam eles recursos vitais – como a água -, ou habitats com interesse para a conservação e espécies sob proteção, devem pesar-se os prós e contras da presença (ou remoção, mesmo parcial) da vegetação espontânea e os impactes negativos que podem ter as intervenções de limpeza da floresta.
Caso de Estudo
Em 45 anos registaram-se 42 incêndios rurais na freguesia de Alvares. A maior parte da área ardida resultou de grandes incêndios. O passado recente veio reforçar que o risco de grandes incêndios é elevado, mas não inevitável. Entre 2017 e 2018, um projeto-piloto demonstrou que há várias estratégias possíveis para que o território de Alvares aumente a resiliência ao fogo ao longo das próximas décadas. Conheça este caso de estudo.
Gestão Florestal
Tradicionalmente, a gestão florestal estava focada no fornecimento duradouro de madeira, simplificando os ecossistemas florestais e assumindo que era possível o seu controlo. A constatação de que as florestas são sistemas complexos, com componentes ecológicos, sociais e económicos que se entrecruzam, tem levado a uma alteração no foco da gestão: da árvore para o ecossistema.
Gestão Florestal
Num contexto de recursos naturais limitados e alterações climáticas, a gestão ativa e responsável do território é essencial. Nas áreas florestais, permite conciliar as diferentes funções da floresta, incluindo produção de bens e serviços essenciais, proteção, conservação, recreio, enquadramento e valorização da paisagem, assegurando as necessidades da sociedade e o equilíbrio ambiental.