Alterações Climáticas
Em 2015, o Acordo de Paris estipulou como meta manter o aquecimento global abaixo do limite de 1,5 graus Celsius (relativamente ao período pré-industrial, ou seja, à média da temperatura registada de 1850 a 1900). A partir deste valor os efeitos das alterações climáticas poderão começar a desencadear uma cascata de mudanças irreversível no sistema climático global.
O relatório especial do IPCC – Intergovernamental Panel on Climate Change, Global Warming of 1,5ºC (de 2018), indica de forma inequívoca que os impactes climáticos para um aquecimento médio global de 2 graus são significativamente mais gravosos do que os verificados com um aumento de 1,5 graus:
População global exposta a ondas de calor pelo menos uma vez em cada cinco anos | ||
Frequência de verões sem gelo no Ártico | ||
Aumento do nível médio do mar até 2100 | ||
Percentagem de animais vertebrados que perderão pelo menos metade da sua distribuição geográfica | ||
Percentagem de plantas que perderão pelo menos metade da sua distribuição geográfica | ||
Percentagem de insetos que perderão pelo menos metade da sua distribuição geográfica | ||
Percentagem da área do planeta com ecossistemas que se irão transformar | ||
Área de gelo permanente (permafrost) que irá derreter | ||
Redução da produção de trigo nos trópicos | ||
Declínio dos recifes de corais | ||
Declínio nos cardumes para pesca |
O aumento significativo da temperatura superficial do planeta desde o período pré-industrial é já uma realidade. O relatório Emissions Gap Report 2023 alerta que o mundo está a caminhar para um aumento de temperatura entre 2,5 e 2,9 graus relativamente aos níveis pré-industriais e que, até ao início de outubro em 2023, tinham sido já registados 86 dias com temperaturas 1,5 graus acima dos níveis pré-industriais (arriscando que consigamos manter-nos no limite de 1,5 graus).
É importante salientar que o aumento de temperatura sobre os continentes que se verificou nas últimas décadas tende a ser bastante superior ao verificado sobre os oceanos, uma vez que a água tem uma inércia térmica (capacidade de manter a temperatura constante) muito superior aos solos, para além de poder distribuir a temperatura em toda a profundidade dos oceanos de forma bastante eficiente, o que ajuda à sua estabilização.
Por outro lado, sabemos agora que a frequência e magnitude dos extremos de temperatura são particularmente sensíveis às alterações de algumas décimas de grau. Estudos recentes comprovam que os extremos de calor na Europa que provocaram mais impactes nos ecossistemas e nas pessoas – como em Portugal em 2017, em França no verão de 2019 ou no Sul de Espanha em abril de 2023 – teriam sido consideravelmente mais amenos na ausência do aquecimento global desencadeado pela atividade humana (antropogénico).
Um estudo de 2018, feito com base em resultados de um modelo global de alta resolução, mostra que os eventos de temperatura extrema têm repercussões muito diferentes consoante consigamos manter o limite de 1,5 graus ou de 2:
– Considerando um cenário de aumento de temperatura de 1,5 graus: os eventos extremos vão afetar 13,8% da população global pelo menos uma vez em cada cinco anos e 700 milhões de pessoas em todo o mundo (9% da população global) pelo menos uma vez em cada 20 anos;
– Num cenário de 2 graus de aumento da temperatura será afetada 36,9% da população global uma vez em cada cinco anos e mais de mil milhões de pessoas (28,2% da população global) uma vez em cada 20 anos.
O relatório do IPCC (Global Warming of 1.5 ºC, de 2018), explica que o aumento de temperatura vai originar pelo menos um verão livre de gelo no ártico em cada 100 anos se considerarmos um aumento médio de 1,5 graus e um verão em cada 10 anos num cenário de aumento médio de 2 graus.
A diminuição do gelo promove o aumento da absorção de radiação, pois o oceano é consideravelmente mais escuro do que a neve e o gelo, que refletem mais luz solar do que aquela que absorvem. Este excesso de energia absorvida pelo oceano nos meses de verão (quando as regiões a norte do Círculo Polar Ártico têm 24 horas contínuas de sol) aumenta a temperatura da superfície do Oceano Ártico, constituindo um exemplo de mecanismo de retroação (feedback) positivo (ou seja, um mecanismo que alimenta a continuidade do aquecimento e degelo).
Além disso, o degelo dos glaciares e das calotes polares, conjuntamente com a expansão térmica dos oceanos, aumentam o nível da água do mar (com o correspondente aumento dos riscos de inundações, intrusão de água salgada e impactes em ilhas, zonas costeiras e deltas) e afeta também o permafrost – o solo rico em matéria orgânica que se encontra permanentemente congelado. Quando começa a descongelar, o permafrost liberta grandes quantidades de dióxido de carbono e metano (gases com efeito de estufa) aumentando o efeito de estufa, correspondendo este fenómeno a outro importante mecanismo de retroação positivo.
Com o aquecimento global, vários ecossistemas terrestres e marinhos estão a sofrer alterações, com consequências na área de distribuição e na sobrevivência das espécies. Além da perda de habitat, aumenta a probabilidade de riscos como incêndios, pragas e doenças e proliferação de espécies invasoras.
A perda do permafrost do Ártico, estimada em cerca de 21% a 37% da sua área total se o aquecimento médio ficar no limite de 1,5 graus, sobe para 35% a 47% até 2100 (uma área equivalente a três quartos do tamanho da Austrália) num cenário de aquecimento médio de 2 graus.
Nos oceanos, o aumento de temperatura vai contribuir para a diminuição de oxigénio da água e levar ao acréscimo da sua acidez, o que, por sua vez, vai afetar o crescimento, desenvolvimento, calcificação e sobrevivência de diferentes espécies marinhas, particularmente os corais, bivalves e crustáceos.
Aprofunde algumas das consequências das alterações climáticas que já se fazem sentir.
Saiba Mais desenvolvido em colaboração com Ricardo Trigo
Ricardo Trigo é professor no Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia e investigador no Instituto Dom Luiz, no RG1 – Climate change, atmosphere-land-ocean processes and extremes
Alterações Climáticas
As florestas removem dióxido de carbono da atmosfera, ajudando a mitigar os efeitos das alterações climáticas. Em Portugal, o seu contributo tem sido positivo, exceto em anos de grandes incêndios. Em 2021, o CO2 removido pela floresta portuguesa totalizou cerca de 4,8 megatoneladas (remoção bruta) de um total de 56,5 megatoneladas de emissões nacionais de gases com efeito de estufa.
Testemunhos
Os produtos de madeira têm um efeito multiplicador do carbono que é retido nas florestas e, tal como as próprias florestas e quem as faz crescer, precisam de ser reconhecidos como parte das soluções de base natural para enfrentar as alterações climáticas. Quem o diz é Mark Wishnie, diretor de Sustentabilidade do BTG Pactual, Grupo de Investimentos que gere mais de 1,3 milhões de hectares de plantações florestais no continente americano.
Caso de Estudo
Ao contrário da maioria dos bens com origem nos espaços florestais, os serviços que são proporcionados por estes ecossistemas não são tradicionalmente transacionados, razão pela qual não lhes é atribuído um valor de mercado. Ultrapassar esta lacuna, estimando o valor económico total dos espaços florestais de Portugal foi o objetivo do ECOFOR.pt. Conheça mais sobre este projeto e sobre os seus resultados quanto a este valor.