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Dinâmica Rural

Porque “sobreviveram” o sobreiro e a azinheira à utilização excessiva dos restantes carvalhos?

O carvão de sobreiro tem um elevado poder calorífico e era muito usado como fonte de energia para fundir metais na Casa da Moeda e para produzir sabão e vidro. A procura por sobreiro para estas atividades, mas também para a construção naval, levou a que o seu corte começasse a ser proibido por decretos reais a partir de meados do século XVI, incluindo pela “Lei das árvores” de 1565.

Nesta época, os montados eram sujeitos a diversos tipos de procura, potencialmente conflituosos entre si:

a procura “aristocrática”: os nobres viam os montados como terrenos de caça grossa (urso, javali, veado, etc.), onde podiam passar tempo de lazer e de preparação para a guerra;

a procura “popular”: os montados serviam como fonte de madeira, lenha, produção agrícola e zona de pastoreio extensivo, para a população em crescimento;

a procura “comercial”: corte dos sobreiros para a construção naval, lenha para carvão e extração da cortiça para exportação com destino ao norte da Europa.

Nos finais do século XVII (1680), o monge beneditino de Reims, D. Pierre Perignon, descobriu que as rolhas de cortiça natural não saltavam, como as cavilhas de madeira e cânhamo embebidas em azeite, usadas até então para tapar as garrafas de Champanhe. As rolhas de cortiça passam assim a ser preferidas como vedante para as garrafas.

O interesse comercial pela cortiça, aliado à diminuição do rendimento dos cereais, falta de mão-de-obra e aumento da procura por carne de porco, impulsionou a aposta nos montados como sistema extensivo, onde a oliveira e o sobreiro permitiam a produção simultânea de vários bens, nomeadamente cortiça e azeite, e a sua conjugação com as pastagens para o gado e a produção de cereais.

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