Pragas e Doenças
A amendoeira é uma espécie considerada como bastante resistente a pragas e doenças. Contudo, esta cultura é atacada por diversos tipos de agentes, pelo que o aumento da resistência às pragas e doenças que afetam a amendoeira é um dos maiores desafios para os investigadores que trabalham no melhoramento genético da espécie.
De entre as pragas e doenças que afetam a amendoeira, merecem referência as pragas causadas por nemátodes, insetos e afídeos ou piolhos, assim como uma série de doenças causadas por vírus, bactérias e fungos.
Nemátodes
Estes organismos de pequenas dimensões (normalmente com menos de 2,5 milímetros) constituem uma preocupação na raiz das amendoeiras, com várias espécies de Meloidogyne (que causam galhas nas raízes infetadas) reportadas como afetando largas áreas de amendoal no Mediterrâneo. Um dos principais objetivos do melhoramento genético nos porta-enxertos (a parte da raiz e caule que serve de suporte à parte superior da planta) usados nas amendoeiras é, além da resistência a fungos e bactérias, a resistência a nemátodes.
Insetos
Uma das pragas mais importantes da amendoeira na região mediterrânica é a causada pela Monosteira (Monosteira unicostata). Estes insetos de pequenas dimensões (entre 2,2 e 2,5 milímetros) picam as folhas e alimentam-se delas, provocando manchas, queda de folhas e perdas de produção. Os seus ataques também acontecem noutras árvores (espécies de fruto, como a pereira, ameixieira, pessegueiro, cerejeira e espécies florestais, como o choupo, o plátano ou a cerejeira brava).
Outra praga é a causada pelo coleóptero Capnodis tenebrionis, chamado de carocho negro quando o inseto é adulto, ou de cabeça de prego quando se trata da larva. Este inseto afeta a amendoeira e diversas outras árvores do género Prunus (prunóideas) incluindo a ameixieira, a cerejeira ou o pessegueiro. Embora os insetos adultos possam causar desfoliações, os danos são provocados sobretudo pelas suas larvas e são maiores em anos mais secos e em que há pouca humidade no solo. As larvas perfuram a base do tronco e da raiz, alimentando-se da madeira. A abundância de aves, sapos, lagartos e cobras, que se alimentam do inseto, ajudam a reduzir o problema.
Afídeos ou piolhos
O piolho cinzento (Disaphis plantaginea), o piolho verde (Aphis pomi) e o pulgão-lanígero (Eriosoma lanigerum) são comuns em culturas como macieiras e marmeleiro, mas surgem também na amendoeira. Tipicamente, as folhas enrolam, tornam-se quebradiças e no seu interior aparecem meladas (substâncias açucaradas produzidas por estes insetos e resultantes da alimentação de seiva), enquanto os rebentos terminais atrofiam.
Legenda: Carocho negro – Capnodis tenebrionis; piolho verde – Aphis pomi; pulgão-lanígero – Eriosoma lanigerum
Vírus
Destacam-se o vírus do nanismo das prunóideas (Prune dwarf virus) e o vírus dos anéis necróticos (Prunus necrotic ringspot virus), ambos do género Ilarvirus da família Bromoviridae.
Como os vírus são difíceis de controlar, devem seguir-se estratégias que promovam o estabelecimento de pomares limpos, tomando cuidado nas enxertias para prevenir que o material vegetal e os instrumentos usados contenham vírus.
Há estratégias que podem ser aplicadas para eliminar vírus em plantas doentes, mas são técnicas morosas, que apenas se aplicam para estabelecer pomares novos e sãos: envolvem cultura de meristemas (os pequenos rebentos, apicais ou axilares), termoterapia (tratamento pelo calor) e quimioterapia.
Contudo, sabe-se que um amendoal limpo pode ser contaminado em pouco tempo e, segundo estudos realizados, o próprio pólen (transportado pelas abelhas e necessário à fertilização e produção de semente) pode ser o agente de propagação do vírus. Por exemplo, o vírus do nanismo das prunóideas foi encontrado dentro de grãos de pólen viáveis.
Embora as doenças virais estejam longe de causar danos tão nocivos na amendoeira como os que a doença-da-sharka (Plum Pox vírus) causa noutras espécies de Prunus, o desenvolvimento de estratégias de resistência a vírus nas amendoeiras também tem sido estudado.
Bactérias
De entre as doenças que afetam a amendoeira e são provocadas por bactérias, as mais comuns são a mancha bacteriana das prunóideas (causada por Xanthomonas campestris pv. pruni ou Xanthomonas arboricola pv. Pruni), a Xilella fastidiosa e o cancro bacteriano da amendoeira causado por Pseudomonas syringae. Estes organismos causam manchas, necroses (por morte das células) e cancros nas folhas e frutos, assim como declínio dos ramos, especialmente em primaveras húmidas, o que pode comprometer as flores e frutos em ramos de frutificação.
• A mancha bacteriana é considerada uma das mais graves doenças em árvores do género Prunus, devido ao seu impacte económico. Assim, a bactéria Xanthomonas arboricola pv. pruni está listada como organismo de quarentena na legislação fitossanitária da União Europeia (Diretiva EU 2000/29/EC), e incluída na lista A2 da Organização Europeia para a Proteção das Plantas – EPPO/OEPP.
• Pelo perigo que lhe está associado, a Xilella fastidiosa também está listada como organismo de quarentena na Diretiva EU 2000/29/EC e incluída na Lista A1 da EPPO/OEPP. Além das medidas existentes na União Europeia, Portugal tem um plano de ação para erradicar esta bactéria e os vetores que a disseminam.
• O cancro bacteriano da amendoeira (causado por Pseudomonas syringae pv. syringae, P. syringae pv. morsprunorum, P. syringae pv. syringae e P. amygdali) manifesta-se por manchas em frutos e folhas, pela necrose de ramos e por cancros em troncos e ramos, podendo levar à morte da árvore.
Fungos
Algumas das mais preocupantes doenças que afetam a amendoeira em Portugal são a moniliose (Monilinia laxa), a lepra da amendoeira (Taphrina deformans), a antracnose (Colletotrichum acutatum), o cancro da amendoeira (género Diaporthe/Phomopsis) e os fungos que atacam as raízes.
• A moniliose da amendoeira, causada por espécies de fungos Monilia ou Monilinia laxa (Aderh. & Ruhl.), é particularmente preocupante em condições de elevada humidade, condições estas que são comuns na fase de floração. A doença causa a murchidão das flores e a mumificação dos frutos, podendo infetar os ramos e causando cancros que podem levar à sua morte.
• A lepra da amendoeira deve-se à Taphrina deformans (Berk.), um fungo que ataca de forma mais grave o pessegueiro, mas que se observa também na amendoeira. A doença reconhece-se facilmente pela deformação e enrolamento das folhas, que ficam avermelhadas. Se não for tratada, conduz ao progressivo enfraquecimento da árvore.
• A antracnose, causada por Colletotrichum acutatum, tem vindo a ganhar importância pelas perdas de produção que causa. Afeta folhas, frutos, rebentos e raminhos jovens.
• O cancro da amendoeira tem grande impacte económico nos amendoais Mediterrânicos. É causado por um fungo que prolifera pouco no inverno, mas tem crescimento ativo na primavera, provocando sintomas como a gomose (um género de goma viscosa). A doença transmite-se unicamente pela chuva e é favorecida pelos altos níveis de azoto no solo e pelo clima húmido. Os fungos infetam os gomos novos e libertam uma toxina (fusicoccina) que faz com que os estomas (os poros das folhas que regulam as trocas gasosas) deixem de funcionar. Os estomas passam a ficar permanentemente abertos, o que causa a desidratação e seca das folhas, dos ramos e, em último grau, de toda a árvore.
Como a difusão desta doença de planta em planta é muito lenta e a planta pode demorar vários anos a desenvolver sintomas (ou seja, demora a perceber-se que a árvore está doente), não existem tratamentos específicos e a sua erradicação de um pomar é muito difícil e dispendiosa.
O desenvolvimento de métodos moleculares para identificação de variedades de amendoeira naturalmente resistentes tem grande valor em programas de melhoramento e existem alguns estudos conduzidos com esse objetivo. A identificação das diferenças na genética entre as variedades tolerantes e as variedades sensíveis (particularmente em genes associados à resposta natural da planta à infeção – genes R), pode permitir o desenvolvimento de marcadores moleculares que ajudem à seleção precoce.
O fungo que causa este cancro é atualmente chamado Diaporthe amygdali (Delacr.) Udayanga, Crous & K.D. Hyde, sendo antes conhecido por Fusicoccum amygdali Delacr., na sua forma imperfeita, ou Phomopsis amygdali (Del.) Tuset and Portilla, na forma perfeita.
• De entre os fungos que atacam a raiz da amendoeira, destaca-se a Phytophthora spp., sobretudo em solos calcários, mas também o Verticillium dahliae e a Armillaria (A. mellea, A. tabescens) como os mais prejudiciais. Como não existem medidas curativas, o controlo destas doenças passa pela prevenção. No caso de árvores enxertadas, recomenda-se o uso de porta-enxertos com baixa suscetibilidade a estes fungos.
Desenvolvido em colaboração com Margarida Oliveira e Pedro Barros.
M. Margarida Oliveira é bióloga e professora catedrática no ITQB NOVA (Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, da Universidade Nova de Lisboa). É doutorada em Biotecnologia Vegetal pela Universidade de Lisboa (Faculdade de Ciências) onde foi docente de 1985 a 2008. É vice-diretora do ITQB NOVA (desde 2011), coordena a unidade de investigação da FCT “Green-it – Biorecursos para a Sustentabilidade”, e dirige o Laboratório de Genómica Funcional de Plantas no ITQB NOVA. Tem desempenhado diversas funções a nível público em instituições como, por exemplo, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica – ASAE, o Centro Operativo e Tecnológico do Arroz – COTArroz, a Sociedade Portuguesa de Fisiologia Vegetal – SPFV/SPBV).
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Pedro M. Barros é biólogo, mestre em Bioinformática pela Universidade de Lisboa (Faculdade de Ciências) e doutorado em Biologia Molecular pela Universidade Nova de Lisboa. Investigador no ITQB NOVA, no laboratório de Genómica Funcional de Plantas. É membro da Unidade de Investigação “Green-it – Biorecursos para a Sustentabilidade” do ITQB NOVA.
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