Pragas e Doenças
Existem várias pragas do amieiro (Alnus spp.), incluindo as que são provocadas por invertebrados – especialmente insetos –, embora não representem, normalmente, danos significativos para a saúde destas árvores nem sejam economicamente relevantes, pois são causadas por organismos de espécies nativas, às quais o amieiro está adaptado (e tem resistência).
A lista destas potenciais pragas do amieiro inclui, entre outras, as causadas por organismos como os besouros desfolhadores Agelastica alni e Melasoma aenea, que se alimentam das folhas, diminuindo o crescimento das árvores; o coleóptero Cryptorhynchus lapathi, que faz galerias na madeira; e o ácaro Eriophyes laevis, que faz galhas nas folhas.
Mais preocupante do que estas pragas do amieiro é o chamado “declínio do amieiro”, uma infeção causada por um grupo de organismos, normalmente designado por complexo Phytophthora alni, que é composto por vários oomicetas (organismos semelhantes a fungos que produzem zoósporos), provenientes de outros territórios (exóticos) e pertencentes ao género Phytophthora.
Este complexo Phytophthora alni inclui a espécie Phytophthora uniformis e os híbridos Phytophthora x multiformis e Phytophthora x alni. Este último, resultante do cruzamento dos dois anteriores, é o híbrido mais agressivo.
Este declínio começou por ser observado nos anos 1990, no Reino Unido, tendo-se depois dispersado por várias regiões europeias. Foi reportado na Península ibérica, pela primeira vez, em 2010. Em Portugal, foi identificado em 2016.
Como se trata de um complexo de organismos exóticos, de entrada relativamente recente no nosso território, os amieiros estão expostos a algo novo (sem tempo suficiente de se adaptarem ou criarem defesas) e encontram-se muito vulneráveis à infeção, que não se consegue eliminar.
Os organismos começam por infetar os hospedeiros, entrando pelas lenticelas do tronco (pequenos orifícios que servem como órgãos de arejamento e que podem ser encontrados nos troncos e raízes), frequentemente durante períodos de cheias, e espalham-se depois pelo resto da árvore, danificando os tecidos do floema e do câmbio (tecidos relacionados com o transporte de substâncias orgânicas e com a formação da madeira).
Os principais sintomas da infeção são o amarelecimento e queda das folhas, o declínio e a morte dos ramos, e as necroses com exsudação escura no tronco das árvores (manchas no tronco, visíveis na imagem abaixo). Estes sintomas agravam-se, podendo levar à morte das árvores.
© Patricia María Rodríguez-González
A água facilita a deslocação dos zoósporos que dispersam a doença. Assim, as árvores que crescem em zonas alagadas ou a jusante de outras árvores infetadas, estão mais vulneráveis. No entanto, a propagação pode acontecer também por outros vetores, como animais ou atividades humanas – por exemplo, pelo uso de ferramentas ou calçado que estejam infetados ou pela plantação de novos amieiros com material vegetal de viveiro igualmente infetado, sendo esta a causa mais comum da expansão da doença.
Para evitar a propagação desta infeção, deve:
– Desinfetar as ferramentas e o calçado e ter atenção à utilização de plantas de viveiro que possam estar infetadas, pois esta tem sido uma das principais formas de disseminação da doença na Europa.
– Privilegiar a regeneração natural, em vez de usar plantas de viveiros, que podem servir de veículo à propagação.
São estas também as recomendações do projeto ALNUS, que avaliou o estado do declínio do amieiro em Portugal, estudando a variabilidade de resiliência de diferentes populações a esta infeção.
O que fazer se detetar sintomas de doenças e pragas do amieiro?
Se detetar um amieiro com sintomas deste declínio, que é mais preocupante, aconselhe-se sobre as medidas a tomar junto do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Floretas – Divisão de Fitossanidade Florestal (fitossanidade.florestal@icnf.pt) ou Direções Regionais -, uma vez que não existe um plano de atuação previamente definido para as pragas do amieiro.
Poderá ainda contactar a equipa do projeto ALNUS, pelo email alnus.project@gmail.com
– Conteúdo desenvolvido em colaboração com Patricia María Rodríguez-González, professora no Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa e Investigadora no grupo ForProtect do CEF – Centro de Estudos Florestais e do Laboratório Associado TERRA. Trabalha nas áreas de Ecologia de florestas paludosas e ripárias; ecologia funcional e de comunidades; dendroecologia e ecohidrologia; e restauro fluvial.
Pragas e Doenças
As novas doenças não afetam só os seres humanos. As plantas também se deparam com organismos recém-chegados, que ameaçam a saúde e vida de centenas de espécies, com consequências negativas para o equilíbrio dos ecossistemas e graves perdas para a produção florestal e agrícola.
Espécies Florestais
É uma das árvores mais características das florestas ribeirinhas portuguesas, acompanhando os cursos de água permanentes, mas o “nosso” amieiro é, afinal, uma espécie diferente da que se encontra na Europa temperada. Conheça-o neste artigo em colaboração com Patricia María Rodríguez-González.