Bioeconomia
Os conceitos de reciclagem, biodegradação e compostagem surgem muitas vezes associados, mas o seu significado não é o mesmo, não só em termos dos processos inerentes a cada um, mas também nos materiais ou compostos a que estes processos dão origem.
Um material reciclável pode ser recuperado, transformado e reutilizado para dar origem a novos produtos, economizando matérias-primas e outros recursos; biodegradável é todo o material que pode ser decomposto naturalmente por microrganismos, podendo o resultado da decomposição ser, ou não ser, ambientalmente seguro; compostável é um material que se decompõe naturalmente, transformando-se num composto benéfico para o solo.
Apesar de tudo o que é compostável ser biodegradável, o contrário nem sempre é verdade, e nem tudo o que é reciclável é biodegradável ou compostável.
Vejamos com mais detalhe o que é reciclagem, biodegradação e compostagem, o que os caracteriza, os pontos em comum e o que os distingue:
– Reciclagem
É a capacidade de um material ser reprocessado e transformado em novos produtos, algo que acontece normalmente com materiais como o plástico reciclável, o vidro, o metal e o papel e cartão.
Na União Europeia, o material de embalagem mais reciclado tem sido o papel e cartão: a taxa de reciclagem tem sido superior aos 80% desde 2008. Seguem-se as embalagens de metal e vidro, com taxas de reciclagem de perto de 80%. As embalagens de plástico têm mantido taxas de reciclagem mais baixas, de cerca de 40%.
De notar que para um material ser reciclado é preciso garantir que está vazio (no caso das embalagens), que é separado corretamente, depositado no local de recolha adequado e que existem infraestruturas de reciclagem.
Além disso, há materiais que são infinitamente recicláveis e outros que podem ser reciclados um número de vezes limitado. O vidro pode ser infinitamente reciclado, enquanto o papel, por exemplo, tem ciclos finitos de reciclagem, sendo necessário adicionar novas fibras para que mantenha as suas características. E estes ciclos não são iguais em todos os tipos de papel.
Por exemplo, num papel produzido a partir de madeira de Eucalyptus globulus as fibras permitem fazer até 10 ciclos de reciclagem sem que os produtos percam resistência (após o décimo ciclo, será sempre necessário introduzir fibras virgens no processo). Num papel produzido a partir de pinheiro-silvestre, as fibras começam a apresentar alterações ao segundo ciclo de reciclagem, dando origem a produtos de papel reciclado com menos resistência do que se tivessem sido produzidos com a fibra virgem.
– Biodegradação
Biodegradável significa que o material pode ser decomposto de forma natural – num determinado período e em certas condições de temperatura, humidade, luz, tipo de solo – por microrganismos (como fungos e bactérias), dando origem a dióxido de carbono, água e biomassa.
A capacidade de dado material ser decomposto depende da temperatura, humidade e quantidade de microrganismos decompositores. Quando se afirma que um material é biodegradável assume-se que a sua degradação ocorre num intervalo curto de tempo – de dias, semanas ou alguns meses. No entanto, alguns materiais podem demorar vários anos – nalguns casos centenas de anos – a biodegradar-se: se o processo demorar mais do que algumas semanas ou meses, os materiais não costumam ser considerados biodegradáveis.
Os materiais biodegradáveis incluem o papel, os restos de alimentos e alguns plásticos. De notar que nem todos estes materiais são ambientalmente seguros, quer pelo tempo que podem demorar a decompor-se, quer pelas substâncias tóxicas que podem libertar durante a decomposição.
– Compostagem
A compostagem está relacionada com os compostos atóxicos que são originados pela decomposição de determinados produtos e materiais orgânicos, ou seja, só podemos falar de compostagem quando os compostos gerados pela decomposição não têm características nocivas – tóxicas ou venenosas.
Assim, um produto é compostável se for feito de um material biodegradável que se desintegre em compostos que não provocam efeitos ecotóxicos e podem ser integrados no ambiente, sem causar danos. Também neste caso, as condições de temperatura e (principalmente) de humidade vão ser importantes para o processo de degradação.
O processo de compostagem ocorre num período relativamente curto (geralmente em 90 a 180 dias) quando estão reunidas as adequadas condições específicas de temperatura e humidade – seja em compostagem industrial ou doméstica. Deste processo origina-se matéria orgânica que melhora a qualidade do solo. Restos de alimentos, folhas de árvores ou ervas caídas, papel e cartão não revestidos e alguns tipos de bioplásticos (como PLA) permitem dar vida a este novo composto que pode ser valorizado como fertilizante orgânico.
Enquanto a reciclagem é um processo artificial – industrial, dependente da intervenção humana, pois não ocorre naturalmente no meio ambiente –, os processos de biodegradação e compostagem são naturais e dependem do ambiente para se realizar: da temperatura, da humidade, do solo e dos micro-organismos decompositores nele presentes.
Nos processos naturais de biodegradação e compostagem, as velocidades de degradação vão ser diferentes consoante as condições ambientais. Assim, um material biodegradável num determinado local pode não o ser noutro local.
Não é demais reforçar que no processo natural de biodegradação podem gerar-se compostos nocivos, pelo que, neste caso, natural não é sinónimo de positivo para a natureza.
Um ponto comum entre reciclagem e compostagem é que ambos permitem dar nova vida a produtos e materiais que, há algumas décadas, eram descartados como lixo, reduzindo o uso de novos recursos naturais.
Bioeconomia
Motivadas pela procura de alternativas sustentáveis ao plástico, centenas de equipas por todo o mundo dedicam-se à investigação e desenvolvimento de bioembalagens. Um dos objetivos mais ambiciosos é a produção de garrafas de papel, mas dezenas de soluções permitem já reduzir a componente das embalagens que depende do petróleo.
Bioeconomia
Vão começar a chegar ao mercado ainda em 2024 as primeiras embalagens de celulose moldada “made in Portugal” e as únicas no mundo provenientes de fibras de Eucalytpus globulus. Esta inovação é uma alternativa aos plásticos e esferovites de origem fóssil usados, por exemplo, para acondicionar refeições prontas na restauração ou vender carne e peixe frescos nos supermercados.
Ambiente
Até 2050, poderá haver mais plástico do que peixe nos oceanos. Este cenário reforça a urgência de encontrar alternativas aos plásticos, com materiais menos poluentes, de origem renovável e com elevada taxa de reciclagem, como os que provêm da floresta. Da próxima vez que for às compras, olhe para as embalagens para fazer uma escolha mais consciente.