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“Associativismo florestal”, por Rita Bonacho

Existem cerca de 150 associações florestais em Portugal, mas estima-se que apenas 16% dos proprietários façam parte delas. Este é um dos mais baixos níveis de associativismo florestal a nível europeu e contribui para um problema de fragilidade económica.

Fazer parte de uma organização não está entre as prioridades de muitos produtores e este facto não é o único a fragilizar o associativismo florestal. Ele confronta-se também com a falta de comunicação, hoje uma ferramenta essencial para aplicar o conhecimento desenvolvido em áreas-chave do sector florestal, desde as tecnologias à gestão de recursos naturais e à consciência ambiental.

A elevada dependência de fundos e apoios públicos, assim como a pequena dimensão da propriedade, são outras das ameaças e fraquezas identificadas. Existe vontade política de financiar o associativismo florestal e o tecido produtivo, refere Rita Bonacho, Presidente da Associação de Produtores Florestais de Coruche, mas falta uma estratégia consistente e independente de ciclos políticos. Também na questão da propriedade, sublinha, o Estado poderia ter um papel agregador, através do emparcelamento, por exemplo, o que ajudaria à viabilidade económica de parcelas muito pequenas, sobretudo na região Norte, que acabam por ser abandonadas e contribuem para alimentar os ciclos de incêndios a que temos assistido.

Três pilares que beneficiam do associativismo florestal

Apesar destas realidades, o associativismo florestal tem permitido fazer um trabalho notável, bem ilustrado pela realidade da APFC – Associação de Produtores Florestais de Coruche, em particular em três grandes pilares que são transversais ao movimento associativo:

1. Valorização económica, com o desenvolvimento de mecanismos e ferramentas que permitem determinar o calibre, qualidade e preço da cortiça recolhida pelos associados, uma informação essencial para que os produtores possam negociar a sua cortiça no mercado;

2. Gestão florestal mais eficaz, nomeadamente pela via da certificação e pela promoção da gestão de grupo, que contribuiu para a certificação da gestão florestal de praticamente 100% dos associados;

3. Proteção da floresta, pela via da prevenção, com a criação de um serviço integralmente financiado pelos associados que, além de cinco equipas no terreno, gere as faixas de gestão de combustível.

Ao serem potenciados pelo associativismo florestal, estes três pilares contribuem para que se produza mais, com melhor qualidade e com muito maior responsabilidade ambiental. O aumento de produtividade e de retorno que lhe está associado é essencial para que haja capacidade para preservar o bem público, nomeadamente os importantes serviços do ecossistema que a floresta a todos proporciona.

Importa, pois, que esta evolução seja conhecida por quem vive longe das áreas rurais e que tem, muitas vezes, uma perceção distorcida do que se passa no terreno. Comunicar com clareza é fundamental para dar a conhecer o mundo rural, promovendo oportunidades para alterar perceções erradas e identificar as reais barreias à produção sustentável.

Sobre o Formador

Rita Bonacho é licenciada em gestão de empresas e começou por desenvolver a sua atividade profissional como gestora de marca e gestora comercial.

Em 2002, dedicou-se ao sector agrícola e florestal, como empresária, e foi na sequência desta experiência que, cinco anos depois, integrou a Direção da Associação de Produtores Florestais de Coruche, primeiro como membro e desde 2013 na respetiva presidência.

Em 2020, integrou também os órgãos sociais da Orivárzea –Orizicultores do Ribatejo S.A.