Conceitos de ética ambiental e experiências inovadoras desafiam a forma como nos relacionamos com as plantas, árvores e florestas. Nesta reflexão, Sofia Guedes Vaz desafia-nos a pensar na forma como encaramos a natureza.
A ética ambiental surgiu nos anos 60 e 70, quando começaram a ser identificados problemas ambientais e se reforçou a necessidade de pensar de forma mais estruturada sobre a nossa relação com a natureza.
As primeiras abordagens foram feitas como uma extensão da ética tradicional. Primeiro tínhamos questionado como lidamos connosco mesmos, depois com outros iguais a nós e, nesta altura, questionou-se também a forma como lidamos com outros diferentes de nós – e esses ‘Outros’ poderiam ser os animais, as plantas… a natureza.
Na sequência destas questões, em 1973, Routley propôs uma reflexão teórica: questionou se seria ético que, após um colapso total, o último ser humano existente na Terra eliminasse, tanto quanto possível, todos os outros seres vivos. A resposta generalizada foi “não”. Mas qual o argumento que justifica esta resposta? O argumento é que os seres vivos têm valor por si mesmos e não só em relação ao ser humano. É este valor intrínseco da natureza, sem ter o ser humano como elemento central, que está na base da ética ambiental e das suas reflexões filosóficas.
Vários outros filósofos dedicaram-se a esta disciplina do saber, postulando diferentes teorias e novas correntes de pensamento, mas até recentemente nenhuma se centrou especificamente no reino vegetal. Na filosofia ocidental, as plantas tenderam a ser excluídas da esfera moral, eventualmente por serem tão diferentes dos animais. Mas será que são assim tão diferentes? Será que comunicam? Que aprendem? Que têm memória? Que sentem?
Embora Darwin, no século XIX, tivesse observado reações de stress nas plantas, só muito recentemente a biologia e ecologia se abriram ao estudo e às experiências com plantas, começando a demonstrar que também elas comunicam, que aprendem, que têm memória…
Há quem defenda até que têm imaginação. Quem o avança é Monica Gagliano, que reproduziu com plantas uma experiência similar à do condicionamento de Pavlov. Em vez de um cão que ouvia um som antes de receber comida e que, depois de muito repetida a experiência, passou a salivar apenas por ouvir o som, Monica pegou numa planta que se voltava em direção à luz, mas antes que esta luz surgisse condicionou a planta com a suave brisa de uma ventoinha. Depois de inúmeras repetições, a planta começou a voltar-se ao sentir a brisa, antecipando ou imaginando que a luz do sol estaria prestes a chegar.
Mais recentemente, alguns filósofos ambientalistas desenvolveram uma aproximação à ética através da ontologia, o ramo da filosofia que estuda o “ser” e, neste caso, o “ser planta”. Michael Mader é um dos que se tem dedicado a este ramo da ética ambiental e filosofia vegetal, com as plantas como sujeito, considerando-as como seres vivos e não como objetos de uso ilimitado.