Valor da Floresta
As estruturas em madeira podem considerar-se como o primeiro sistema de construção na história da humanidade. O registo arqueológico mais antigo consta de dois troncos unidos transversalmente, através de entalhes cortados de forma intencional, que terão perto de meio milhão de anos (pelo menos 476 mil).
Os vestígios destas primeiras estruturas em madeira foram identificados numa escavação arqueológica na Zâmbia, preservados sob as águas do rio Kalambo. A descoberta foi feita por uma equipa de investigadores das Universidades de Liverpool e Aberystwyth, que os datou através de luminescência, um método que avalia o tempo desde que os materiais estiveram expostos à luz.
A sua divulgação foi feita num artigo publicado na revista Nature, em 2023, que descreve grandes troncos, com marcas de corte e união por encaixe. Fariam parte de uma estrutura que poderá ter sido a base de uma plataforma ou parte de uma habitação, sugere a publicação.
“Este achado desafia a forma como encaramos os nossos primeiros antepassados. Esqueçam o ‘rótulo’ Idade da Pedra e olhem para o que estas pessoas estavam a fazer: criaram algo de novo, grande, feito de madeira. Usaram a sua inteligência, imaginação e engenho para criar algo que nunca tinham visto antes, algo que nunca tinha existido antes”, sublinhou o professor Larry Barham, um dos investigadores responsáveis.
Embora a madeira e outros materiais disponíveis na natureza tenham sido usados anteriormente, este é o mais antigo registo conhecido do que hoje consideramos como estruturas em madeira, com troncos usados como suporte para uma construção e a aplicação de técnicas (entalhe e interseção) que procuravam reforçar a sua estabilidade e resistência.
Estas e outras técnicas de construção mantiveram-se amplamente usadas ao longo do tempo, recorrendo a estruturas baseadas em elementos lineares, como toros empilhados e encaixados, ou na forma de postes e vigas que se intersetavam e triangulavam para criar “pórticos” ou “molduras” que eram depois complementados ou preenchidos com outros materiais.
Nos séculos XIX e início do XX, a madeira perdeu relevância como material estrutural de construção face à descoberta de outros materiais então considerados mais eficientes, incluindo o aço e outros metais. Acresceu a pressão urbanística de construir mais edifícios e edifícios mais altos para acolher as crescentes populações vindas do campo para trabalhar nas cidades.
No entanto, no século XX, o desenvolvimento da indústria de adesivos sintéticos (colas e resinas), conjugado com os avanços da engenharia, permitiram criar novas soluções tecnologicamente avançadas que voltaram a despertar o interesse pelas estruturas em madeira.
Estas soluções são habitualmente denominadas por “produtos estruturais de madeira” e são criadas a partir da colagem de placas, laminas ou fibras de madeira, com diferentes especificações. Permitem aplicações mais versáteis do que a madeira maciça serrada que era tradicionalmente usada para a criação de vigas ou pilares: soluções com a mesma resistência e maior leveza, mais longas do que o comprimento dos troncos ou estruturas curvas são alguns exemplos.
Esta ideia de reconstituir a fibra de madeira para produzir materiais de construção com benefícios diferentes e adicionais aos proporcionadas pela madeira original já não é nova. A patente do produto precursor destas madeiras reconstituídas pela engenharia – o contraplacado – data de 1865 e o primeiro laminado colado de madeira, mais conhecido por glulam (uma abreviatura do inglês Glued Laminated Timber), foi patenteado em 1901.
O glulam continua a ser um dos principais “produtos estruturais de madeira” e desde meados do século XX que é usado nos mais variados projetos de construção civil, desde hangares a pontes, passando por pavilhões desportivos, museus e edifícios de habitação.
É de glulam a mais alta torre do mundo construída principalmente em madeira – a torre ou observatório Pyramidenkogel, na Áustria, com 16 enormes suportes de forma ondulante, de cerca de 100 metros de altura, a envolver e estruturar a construção.
Testemunhos
Os produtos de madeira têm um efeito multiplicador do carbono que é retido nas florestas e, tal como as próprias florestas e quem as faz crescer, precisam de ser reconhecidos como parte das soluções de base natural para enfrentar as alterações climáticas. Quem o diz é Mark Wishnie, diretor de Sustentabilidade do BTG Pactual, Grupo de Investimentos que gere mais de 1,3 milhões de hectares de plantações florestais no continente americano.
Espécies Florestais
Originária do Japão e chegada ao Arquipélago dos Açores em meados do século XIX, a criptoméria (Cryptomeria japonica) é a segunda espécie mais representada na floresta do arquipélago e a primeira na Ilha de São Miguel. Não é por isso surpresa que a madeira de criptoméria traga à região autónoma um importante contributo socioeconómico. O seu valor pode ainda reforçar-se pela aposta na inovação.
Bioeconomia
Como matéria-prima, a madeira de eucalipto serve principalmente para produzir pasta de papel e papel. A estas aplicações já consolidadas, de que Portugal foi pioneiro, juntam-se hoje muitas outras, que vão da indústria alimentar aos bioplásticos e biocombustíveis. Conheça aqui algumas das inovações que mantêm Portugal na linha da frente dos biomateriais derivados do eucalipto.