Comentário

Ana Paula Rodrigues Malojo

A Floresta como espaço de aprendizagem - o exemplo da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister, Alcobaça

A Floresta é uma riqueza finita que importa preservar. É função da escola reconhecer e sensibilizar para a qualidade e importância que este recurso tem para o desenvolvimento harmonioso das paisagens naturais e agrícolas, para a saúde e para a biodiversidade terrestre – de espécies vegetais e animais. A Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister, Alcobaça (EPADRC) assume esse compromisso social, desenvolvendo vários projetos na sua área florestal, em contexto de formação.

Sendo muito mais do que um simples aglomerado de árvores, autóctones e outras, mais ou menos ordenado, a riqueza da floresta vai muito para além da dimensão económica. As suas dimensões ambiental e social tendem a ser esquecidas. Mas não podemos ignorar que a floresta tem funções como proteger o solo da erosão, fornecer 40% de toda a energia renovável do mundo, fornecer água potável para mais de 33% das maiores cidades do mundo, concentrar a maior parte da biodiversidade terrestre e, acrescentemos a estas qualidades o seu elevado valor paisagístico e recreativo.

Por todas estas funções da floresta, é fundamental agir pedagogicamente junto de jovens e da comunidade. E sim, a floresta também é um laboratório para aprender e ensinar; é um local de atividades físicas e lúdicas. É esta a perspetiva que adotámos na Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister.

Sensibilizar os mais jovens e a comunidade em geral para o valor da floresta nas suas dimensões ambiental, económica e social, para a necessidade de preservar as espécies autóctones, a biodiversidade do espaço florestal e para as suas potencialidades enquanto promotora de saúde e bem-estar, motivou, na Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister, projetos vários.

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Alunos envolvidos no projeto “Cabras Sapadoras”, na Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister. © EPADRC

O Percurso Verde (percurso pedestre de cerca de dois quilómetros), aberto à comunidade, que permite conhecer as espécies autóctones da área florestal da escola e a prática de exercício físico, foi um projeto inspirador, que ganhou dimensão e foi complementado com outros percursos, outros projetos:

– Circuito de Manutenção: ao longo do Percurso Verde foi instalado um circuito de manutenção. Os caminhantes podem fazer exercício físico pois vão encontrar oito equipamentos de madeira (escolha sustentável e integrada no espaço rural) para a prática de exercício físico. Este circuito é também usado nas aulas da disciplina de Educação Física.

– Percurso de Orientação: Percurso usado nas aulas da disciplina de Educação Física. Também está aberto à comunidade.

– Projeto Cabras Sapadoras: Os caminhantes podem observar os nossos caprinos que vivem felizes na área florestal, uma gestão de pastoreio que permite o controlo de matos na floresta, prevenindo incêndios e a gestão da paisagem e da biodiversidade.

– Quinta Pedagógica EPADRC: ao longo do Percurso Verde, os caminhantes podem observar várias espécies animais na Quinta Pedagógica (galinha fracas; codornizes; peru preto português; porquinhos da Índia; equinos; pombos capuchos; caprinos; o porco Malhado de Alcobaça…), um projeto desenvolvido pela turma do Curso de Tratador/a de Animais em Cativeiro.

Estes projetos, criados pelos alunos em contexto de formação, com o objetivo de refletirem o espaço floresta, os espaços verdes e a sua biodiversidade, ganharam dimensão na sustentabilidade da exploração agrícola da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister e são hoje aproveitados para sensibilizar toda a comunidade envolvente e os visitantes para a necessidades de preservação das espécies vegetais e animais, promovendo a sustentabilidade dos espaços.

Os diferentes projetos, hoje reconhecidos e premiados, foram desenvolvidos em função da sua complementaridade e importância para a formação dos alunos. Todos eles foram criados no âmbito da formação dos alunos dos cursos profissionais (10º, 11º e 12º ano) de Técnico/a de Gestão Florestal e Ambiental e de Técnico/a de Produção Agropecuária e do curso de educação e formação (9º ano) de Tratador/a de Animais em Cativeiro.

O primeiro projeto teve início no ano letivo de 2020/2021 e, a partir daí, as turmas foram desafiadas a desenvolver novos projetos, sempre em função da sua complementaridade e da sua relevância para a gestão do espaço florestal (cerca de dois hectares).

Esta ação da escola, alinhada com uma estratégia de formação assente nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tem, também, como objetivo, nas áreas de formação que desenvolve, alertar para os desafios globais que se colocam à Educação, e à escola em particular, e que são tanto mais importantes, se se considerar a formação de futuros técnicos agrícolas onde práticas verdes, sustentáveis, de preservação dos recursos naturais (água, floresta, biodiversidade) e o combate às alterações climáticas ganham uma dimensão primordial.

Não descurando os restante ODS, a Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister, dá especial atenção, na capacitação e qualificação dos seus alunos a cinco destes Objetivos:

  • 4 – Educação de Qualidade;
  • 13 – Ação Climática;
  • 15 – Proteger a Vida Terrestre;
  • 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes;
  • 17 – Parcerias para a implementação dos objetivos.

O futuro prepara-se na escola. O planeta conta connosco!

Julho de 2024

O Autor

Ana Paula Rodrigues Malojo é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas – variante Ensino de Português e Francês – e pós-graduada em Administração Escolar e em Património Alimentar e Desenvolvimento do Território.

Professora de Português e Francês de profissão, é Diretora da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister, Alcobaça, desde 2017.

Defensora do Ensino Profissional, pauta a sua ação, na gestão da escola, pela valorização desta modalidade de ensino, e pelo seu reconhecimento como alternativa válida para os jovens que optam pela via profissionalizante como escolha de futuro.

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