Avaliamos o estado das manchas de vegetação natural, bosquetes, bosques, matos e matagais, prados e galerias ribeirinhas para estabelecer áreas de maior interesse e realizamos inventários fitossociológicos, onde fica registada a abundância, dominância e associações entre espécies de flora, assim como a identificação e descrição das comunidades vegetais e espécies presentes. Foi assim que identificámos, entre outras:
- A “Quase Ameaçada” Cheirolophus uliginosus, no Parque das Serras do Porto;
- A “Vulnerável” carnívora erva-pinheira-orvalhada (Drosophyllum lusitanicum) no sudoeste alentejano e na charneca do Tejo;
- As “Criticamente em Perigo” Rhaponticum exaltatum e Quercus canariensis, respetivamente, em Penamacor e no Sudoeste.
No caso da fauna, são efetuados pontos de observação e escuta, procurados vestígios — pegadas, tocas, regurgitações — e usadas tecnologias adequadas a diferentes grupos, como a fotoarmadilhagem para os mamíferos. A avaliação estende-se a outros organismos, como os insetos, em que é complementada com a aplicação de ferramentas inovadoras, como o ADN ambiental.
Os dados recolhidos são depois transformados em cartografia georreferenciada que integra o nosso Sistema de Informação Geográfica. Com base nestas avaliações, definimos Zonas de Conservação, Áreas de Proteção e Áreas de Alto Valor de Conservação (conjuntamente, totalizam já mais de 12 mil hectares). Para cada uma, são delineadas medidas de conservação, mitigação ou restauro, atualizadas regularmente.
A mesma informação é partilhada com as equipas que planeiam e implementam as operações de silvicultura, para que apliquem a hierarquia de mitigação de impactes e saibam onde e como atuar. Isto é muito importante uma vez que as práticas de gestão aplicadas podem ter efeitos muito dispares na preservação dos valores naturais e nomeadamente na conservação e promoção da biodiversidade.
Condicionar a circulação de pessoas e máquinas, a mobilização do solo e o uso de fitofármacos, estabelecer faixas de proteção aos cursos de água e zonas-tampão nas áreas onde estão identificadas espécies de flora RELAPE ou em fases críticas para a reprodução e nidificação de espécies que estão presentes em determinado local são alguns exemplos, mas há muitos outros. Entre eles, refiram-se:
- Manter e criar heterogeneidade, intercalando zonas com interesse para a conservação com zonas de plantação. Com isto, estamos a criar a diversidade e descontinuidade, que proporcionam condições de alimentação, refúgio e reprodução, e que podem funcionar como corredores ecológicos para facilitar a dispersão natural das espécies e o intercâmbio genético entre populações;
- Manter manchas de vegetação natural ou árvores de grande porte no interior dos povoamentos e junto deles, gerindo a sua presença de modo a evitar incêndios, mas a assegurar a proteção do solo e o abrigo e alimento para a fauna;
- Promover a diferenciação entre zonas adjacentes de plantações florestais, intercalando árvores de diferentes idades, que cumprem diferentes funções ecológicas, e desfasando ciclos de crescimento e corte;
- Promover a regeneração natural assistida e o restauro ecológico.
Com estas práticas, nas propriedades que gerimos, há espaço para os eucaliptos que nos dão a matéria-prima natural essencial, mas também para os zimbrais, sobreirais (que também nos fornecem outra matéria-prima – a cortiça) e bosques de outros carvalhos, medronhais e galerias ripícolas de amieiros, salgueiros e freixos. Sob as suas copas convivem dezenas de aromáticas e melíferas, fungos, líquenes e musgos. Por sua vez, esta diversidade suporta grande variedade de vida animal, desde as vistosas águias-de-bonelli, que nidificam em grandes árvores (inclusive em velhos eucaliptos, na Serra d’Ossa), aos esquivos tourões e genetas, passando por répteis e anfíbios ibéricos, como o lagarto-de-água e a salamandra-lusitânica.
Não só esta diversidade é possível, como é desejável para manter e reforçar o equilíbrio dos ecossistemas e dos serviços que nos prestam. Assumimos, por isso, a conservação, manutenção e requalificação dos nossos valores naturais como um compromisso contínuo e um pilar essencial da nossa gestão.