É verdade que os espaços de floresta são grandes acumuladores de vegetação, e consequentemente, de combustível e que, por isso, o risco é maior e a permanência e o efeito dos incêndios nestas áreas são mais sentidos. Mas depositar todo o ónus de tamanha catástrofe sobre um sector estrutural para a nossa economia, transmitindo para a sociedade civil o dogma de que “as extensas manchas verdes de floresta de hoje serão os incêndios de amanhã”, é um erro. Esta constatação levou, aliás, a que o termo “incêndios florestais” fosse revisto, e atualmente falamos em “incêndios rurais”, exatamente para evidenciar a sua ocorrência sobre o território rural, mais amplo e complexo do que apenas a floresta.
Por outro lado, conotar tão negativamente o sector florestal produtivo e as indústrias de base florestal que lhe estão associadas, responsáveis pela gestão de extensas áreas de floresta segundo padrões de gestão florestal sustentável reconhecidos e validados internacionalmente, é de uma injustiça tremenda. Injustiça sobretudo porque, apesar de a sociedade reconhecer a importância ambiental das florestas, é relutante em admitir que as funções de proteção dos solos e dos recursos hídricos, e de conservação ambiental são igualmente cumpridas em florestas geridas de forma sustentável para o cumprimento de um outro objetivo: o de obtenção de produtos de origem florestal (função designada como de produção).
Para o cumprimento dos objetivos de índole climática e ambiental assumidos pelo Estado Português e pela própria União Europeia, e para a intervenção individual que é exigida a cada um de nós na “emergência climática” que vivemos, um dos grandes desafios dos próximos anos no nosso país está, a meu ver, na capacidade da sociedade reinventar a paisagem. E, porque a floresta ocupa 33% do território, na capacidade de reinventar a maneira como olhamos, conhecemos e utilizamos a nossa floresta.
Esta ação de reinvenção passará sobretudo pela desmistificação de algumas verdades pré-concebidas e de outros tantos preconceitos sobre a floresta, e pelo reconhecimento abrangente do sector florestal como um todo. Um sector capaz de gerar riqueza ambiental, mas também social e, sobretudo, económica e que, como um todo, poderá cumprir eficazmente todas as funções que adota de forma una e indissociável (proteção, conservação, produção, silvopastoricia, recreio), e responder a todos os desafios que lhe são atribuídos.
A nova Estratégia Europeia para as Florestas negligência a conciliação das suas múltiplas funções e objetivos, assentando numa visão limitada, que espelha as noções da sociedade civil e os seus preconceitos sobre a floresta.
Este reconhecimento pela sociedade de que o papel da floresta é muito mais abrangente do que simplesmente a sua função ambiental é tanto mais premente quando a própria Comissão Europeia publica uma Estratégia Europeia para as Florestas que parece negligenciar as múltiplas funções da floresta, doutrinando numa perspetiva unilateral de conservação e de cumprimento exclusivo de objetivos ambientais. A nova estratégia florestal europeia descura a capacidade de a floresta poder acolher, em simultâneo, múltiplos objetivos e funções, sem que estes se contradigam ou inviabilizem. E o facto de a Comissão Europeia publicar uma nova estratégia que assenta nesta ideia tão limitada do que deverão ser as florestas em 2030 mostra bem como a sociedade civil em geral pensa a sua floresta e o que pretende para o seu futuro.
Parece-me, pois, fundamental que a sociedade civil seja cada vez mais bem informada, de forma factual, credível e isenta de preconceitos, recorrendo para tal a fontes de informação cada vez mais credíveis e cientificamente validadas, a estatísticas oficiais e robustas, a dados publicados por entidades reconhecidas. Fontes como o portal www.florestas.pt são um exemplo para uma boa comunicação e informação, capaz de desmistificar alguns preconceitos sobre a floresta e esclarecer devidamente a sociedade civil.
Mais do que doutrinar, a comunicação social deverá ser o veículo para a criação de massa critica, para a criação de opiniões fundamentadas, para o crescimento de ideias que suportem a reinvenção do nosso território e da nossa floresta. Em última análise, a comunicação de informação descomplexada e abrangente poderia contribuir para que a sociedade civil reagisse de forma crítica e construtiva à publicação da Estratégia Europeia para as Florestas 2030.