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Indicadores Florestais

Floresta portuguesa ocupa mais de um terço do país

Com uma extensão superior a três milhões de hectares, a floresta é o principal uso do solo em Portugal e ocupa mais de um terço do país.

Estes são alguns dos dados a reter do 6.º Inventário Florestal Nacional (IFN6 2015) e da Carta de Uso e Ocupação do Solo de Portugal Continental de 2018 (COS2018), os dois levantamentos geográficos que fornecem dados sobre a floresta portuguesa, sua representatividade e evolução.

Tanto o IFN6 (levantamento oficial da responsabilidade do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, que detalha o estado da floresta portuguesa), como o COS2018 (informação geográfica de uso e ocupação do solo de natureza temática, sob a forma de inventário, produzida pela DGT – Direção-Geral do Território) traçam o retrato do estado da floresta portuguesa e ambos indicam que a floresta é a ocupação mais representativa do solo nacional. O primeiro reporta ao ano de 2015 (publicado em 2018) e o segundo apresenta dados 2018 (publicado em 2020).

Dada a diferença de indicadores e metodologias – por exemplo, o COS divide o espaço em unidades de paisagem (polígonos), enquanto o IFN se baseia num conjunto de pontos – cada um dos levantamentos apresenta valores distintos.

Principais ocupações do solo em Portugal Continental

CARTA DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO 2018 (2020)

6.º INVENTÁRIO FLORESTAL NACIONAL 2015 (2019)

Ocupação do solo - Inventário Florestal Nacional

Segundo o relatório IFN6 36% do solo nacional era ocupado, em 2015, por áreas florestais, seguindo-se as áreas de matos e pastagens (31%), área agrícola (24%), solo urbano (5%), improdutivos e águas interiores (2% cada). Estes dados dão conta de uma evolução ligeiramente positiva na área da floresta: em comparação com 2005, ano sobre o qual incide a avaliação do 5.º Inventário Florestal Nacional, há mais 8,3 mil hectares de floresta (uma variação de +0,6%).

Já de acordo com a Análise Temática da COS2018, a floresta portuguesa ocupava perto de 39% do território continental: 38,8% ou 3460 milhares de hectares. Se considerarmos a floresta e os sistemas agroflorestais, a área arborizada soma 47%. O total da área de floresta indica uma perda pouco expressiva entre 2015 e 2018 (perda anual média de 592 hectares), invertendo um acréscimo que se registava desde 1995. Este crescimento foi mais notório até 2007 (ganho anual médio superior a 13,5 mil hectares entre 1995 e 2007), embora se tenha mantido até 2015.

Refira-se que a nomenclatura da COS foi reformulada para a produção da COS2018 e passou a haver mais classes de ocupação. Por exemplo, a COS2018 separa agricultura, pastagens, sistemas agroflorestais e florestas, que estavam anteriormente agrupados em duas classes: uma de áreas agrícolas e agroflorestais (culturas agrícolas, pastagens permanentes, áreas agrícolas e sistemas agroflorestais) e outra de florestas e meios naturais e seminaturais (florestas, matos, vegetação herbácea natural e zonas com pouca vegetação). Embora alguns números gerais possam ser comparados, esta versão da COS deixa de ser compatível com as versões anteriores (COS1995, COS2007, COS2010 e COS2015), refere a própria entidade, que indica estarem a ser feitas alterações e correções que darão lugar a novas versões destas Cartas.

Os valores nacionais estão em linha com os 45,1% de floresta e áreas florestadas (180 milhões de hectares) registados na União Europeia (UE-27) em 2020 e indicados na edição desse ano do Agriculture, forestry and fishery statistics do Eurostat e do State of Europe’s Forests 2020 Report: 38,3% de floresta (162,4 milhões de hectares) e 5% de área arborizada (21 milhões de hectares) na EU-28. Este mesmo relatório indica 227,35 milhões de hectares de floresta e mais 26,74 milhões de hectares de outras áreas florestadas, que cobrem 38,4% da área da Europa.

Os Inventários Florestais são feitos sob coordenação do ICNF desde 1964 e revistos a intervalos de cerca de 10 anos. Devido a esta periodicidade, o estado da floresta portuguesa apresentado no IFN6 “é forçosamente diferente da sua situação atual”, como sublinha o documento. Desde a avaliação de 2015, há a realçar os “severos incêndios rurais de 2017 e 2018 (Monchique)” que, estima-se, “tenham afetado uma área arborizada de 274 mil hectares”.

Evolução da ocupação do solo por floresta (milhares de hectares), 1995 – 2018

CARTA DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO 2018 (2020)

6.º INVENTÁRIO FLORESTAL NACIONAL 2015 (2019)

Como evoluiu a área florestal em Portugal ao longo do tempo?

Ao longo da história, a dimensão da área florestal em Portugal variou muito. A primeira avaliação formal data de 1874, na sequência do trabalho do militar Gerardo Pery, publicado em “Geografia e Estatística Geral de Portugal e Colónias como um Atlas”. Nesse ano, a área de floresta estimada rondava os 640 mil hectares, ou seja, cerca de 7% da área total de Portugal. Este valor reflete o processo de desflorestação para a construção naval nos finais do século XV e início do século XVI, a necessidade de produzir alimentos, a emigração e as guerras.

A partir de 1886, foram criadas as bases dos Serviços Florestais e deu-se início à reflorestação de áreas incultas e à fixação de dunas com pinheiros (Pinus spp.).

Evolução histórica da área de floresta, 1860 – 2020

Área de floresta - gráfico de evolução entre 1860 e 2020

Fonte: Inventário Florestal Nacional  – A dinâmica da ocupação florestal do solo desde o séc. XIX a 2050, José Uva (2015), ICNF

Evolução da ocupação das principais espécies e formações florestais, 1902 – 2010

Gráfico da evolução da ocupação das principais espécies e formações florestais, 1902 - 2010

Fonte: Floresta Comum, a partir de dados do ICNF

No século XX, a área florestada foi aumentando até à década de 70 devido à plantação de pinheiros, assim como de sobreiro (Quercus suber L.) e azinheira (Q. ilex L.) e, desde a década de 50, também de eucalipto (Eucalyptus sp.). Em 1995, a área florestada chegou aos 3,3 milhões de hectares (dados do 4.º Inventário Florestal, indicados no IFN6).

Nos últimos anos, tem-se verificado um decréscimo na área de pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e de montados de sobreiro e azinheira, assim como um crescimentona área de eucalipto, pinheiro-manso (P. pinea L.) e outras folhosas. Mesmo assim, os montados de sobro e azinho representam um terço da floresta nacional.

Floresta seminatural e plantada predomina em Portugal e na Europa

A diversidade e a composição das áreas florestais europeias foram influenciadas pelas atividades humanas, pelo que as florestas originais estão praticamente extintas no “Velho Continente”. Na União Europeia (EU-28), a floresta natural (não tocada pelo Homem) correspondia em 2020 a 3,655 milhões de hectares, cerca de 2,4% da área florestal. Na Europa, as florestas naturais representam cerca de 2,2% da área florestal, ou seja, existem 4,684 milhões de hectares de florestas não tocadas pelo Homem.Em Portugal, essa percentagem é bem menos expressiva: cerca de 0,67% (22,24 mil hectares) da área florestal total, de acordo com dados de 2015 no Forest Europe (Indicador 4.3a Naturalness).

A chamada floresta seminatural, composta por espécies nativas e introduzidas, que se regeneram naturalmente ou por plantação, é largamente dominante: 94% (quase 200 milhões de hectares) da área florestal da Europa em 2020 (e 93,2% quando se considera a EU-28), segundo o State of Europe’s Forests 2020. Sem as florestas plantadas, a área florestal nacional seria, por isso, significativamente menor.

Em Portugal, estas áreas seminaturais representavam, em 2015, 78,4%.

Já em termos globais e de acordo com o Global Forest Resources Assessment 2020 (FRA2020), a área de florestas plantadas aumentou 123 milhões de hectares entre 1990 e 2020, embora o ritmo de crescimento tenha abrandado na última década: crescimento médio anual de 3.06 milhões de hectares entre 2010 e 2020 face a 5,13 milhões entre 2000 e 2010.

A área global de floresta plantada perfaz, assim, 7% da floresta no mundo, o equivalente 293,8 milhões de hectares, indica este relatório, que divide esta área em dois grandes grupos: 55% de floresta plantada para restauração de ecossistemas e proteção dos respetivos serviços (solo e água, entre outros) e 45% de plantações com objetivos de produção.

Já a floresta primária totaliza cerca de 34% da área florestal mundial, o que equivale a 1,1 mil milhões de hectares. Embora represente cerca de um terço da floresta, esta classe – que o FRA2020 define como floresta de espécies nativas que se regeneram naturalmente – tem vindo a diminuir. Entre 2010 e 2020, perdeu em média 1,2 milhões de hectares por ano, um valor significativo, mas bastante menor do que o registado nas duas décadas anteriores: mais de 3,4 milhões de hectares a cada ano entre 1990 e 2010.

Áreas de floresta natural, seminatural e plantada
(em percentagem das áreas totais de floresta)

Gráfico Floresta Portuguesa

Dados nacionais de 2015, em Forest Europe; Dados europeus/EU-28 de 2020, em State of Europe’s Forests 2020 (Tabela 28: Indicador 4.3A3a Naturalness ); Dados mundiais de 2020, FAO – Global Forest Resources Assessment 2020.
Nota: Portugal não forneceu dados relativos ao tipo de floresta para o relatório de 2020 do Forest Europe, pelo que só existem dados de tipo de floresta para 2015.

A floresta primária é especialmente reduzida no continente europeu (excluindo a Rússia), onde ocupa apenas 4,18 milhões de hectares, cerca de 3% da área florestal reportada pelos países e integrada no FRA 2020, uma dimensão muito inferior à das outras grandes regiões do globo: 49% na América do Sul, 43% na América do Norte e Central, 38% em África, 21% na Oceânia e 15% na Ásia.

A Rússia é o local do mundo com mais floresta primária em termos absolutos – 255,2 milhões de hectares -, mas há países como o Suriname, a Venezuela ou a Guiana Francesa em que quase toda a floresta existente (95% ou mais) é intocada pela atividade humana.

Note-se que estes dados, relativos a áreas ocupadas por espécies nativas que se regeneram naturalmente, são assinalados pelo FRA2020 como pouco seguros, uma vez que vários países não reportam esta dimensão e outros apoiam-se nas áreas protegidas para a calcular.

A Europa (excluindo a Rússia) destruiu a quase totalidade da floresta natural ao longo dos séculos: a maioria das áreas “sobreviventes” até aos dias de hoje situa-se na região do Danúbio-Cárpatos, refere a organização ambiental WWF. Presume-se que, fora deste “Coração Verde”, mesmo as espécies consideradas nativas na Europa Ocidental tenham sido plantadas, com a sua manutenção garantida por regeneração natural e também por corte e replantação. A destruição da floresta natural resultou da desflorestação intensiva ocorrida no continente europeu até ao século XVIII.

Floresta mundial continua a diminuir

A área de floresta mundial foi estimada em 4,06 mil milhões de hectares (4,10 mil milhões em 2010), pelo FRA 2020. Isto significa que 31% do solo terrestre está coberto por floresta. Mais de metade (54%) concentra-se em apenas cinco países: Federação Russa, Brasil, Canadá, Estados Unidos da América e China.

Embora este relatório alerte que poucos países têm dados fiáveis sobre a variação da área florestal ao longo dos últimos anos, ele estima que a área global se tenha reduzido em 178 milhões de hectares nas últimas três décadas. Apesar desta tendência, o ritmo de perda tem sido menos acentuado do que no passado: a redução média anual chegou a ser de 7,8 milhões de hectares entre 1990 e 2000, passou para 5,2 milhões por ano entre 2000 e 2010, e voltou a diminuir para 4,7 milhões anuais entre 2010 e 2020.

Evolução da área global de floresta, por região, 1990 – 2020

África, Sul e Sudeste asiático, América Central e do Sul são as grandes regiões onde as maiores perdas continuam a ocorrer, tendência de algum modo compensada na Europa, América do Norte, Caraíbas, Oceânia e em algumas regiões da Ásia (oeste, este e centro), onde a reflorestação tem permitido aumentar a área florestada.

Evolução da área de floresta mundial

Artigo original publicado em janeiro de 2020. Última atualização a 7 de junho de 2023.