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Turismo e Lazer

Mata Nacional do Buçaco: “O melhor é perdermo-nos nela”

Saramago partilhou, no seu livro Viagem a Portugal, o que sentiu ao conhecer a Mata Nacional do Buçaco (ou Bussaco, na grafia antiga, ainda encontrada na cultura local). Duas dicas: vale a pena ler e vale a pena visitar. Para facilitar, a primeira dica começa já aqui.

Eis o que a Mata do Buçaco despertou nNobel da Literatura“O viajante passeia, entregando-se sem condições, e não sabe exprimir mais do que um silencioso pasmo diante da explosão de troncos, folhas várias, hastes, musgos esponjosos, que se agarram às pedras ou sobem pelos troncos acima e quando os segue com os olhos dá com o emaranhado das ramagens altas tão densas que é difícil saber onde acaba esta e começa aquela. A mata do Buçaco requer as palavras todas e estando ditas elas, mostra como ficou tudo por dizer.” 

Porque vale a pena visitar a Mata Nacional do Buçaco?  

O impacte da Mata Nacional do Buçaco no escritor português parece evidente no livro Viagem a Portugal. Mas o que torna tão singular esta área protegida, visitada anualmente por pessoas de todo o mundo? A resposta está numa combinação emblemática de património natural, arquitetónico e cultural. Numa extensão de 105 hectares com um microclima muito particular, a Mata Nacional do Buçaco possui cerca de 250 espécies de árvores e arbustos com exemplares notáveis (entre as cerca de 700 espécies de árvores, exóticas e indígenas, que compõem esta área protegida).

No meio da vegetação emblemática, o Convento de Santa Cruz do Buçaco surge como marca inigualável da história local: foi o estabelecimento da Ordem dos Carmelitas Descalços no Convento, em 1630, que incentivou a criação da envolvente natural. A maioria da área da Mata (cerca de 80%) é ocupada pelo Arboreto, espaço natural reflorestado pelos monges Carmelitos Descalços a partir de uma pequena floresta aí existente. Como resultado das ações de reflorestação ao longo do tempo, é hoje possível passear entre cedros-do-Buçaco (Cupressus lusitanica, que na verdade são ciprestes e não cedros), sequoias (Sequoia sempervirens e Sequoiadendron giganteum), araucárias (Araucaria angustifolia), eucaliptos (Eucalyptus obliqua, Eucalyptus regnans e Eucalyptus globulus) e abetos-de Douglas (Pseudotsuga menziesii), entre outras espécies introduzidas a partir de 1850 no Arboreto.

O património da Mata é ainda composto pela Floresta Relíquia e pelo Pinhal do Marquês. A primeira contempla uma formação de plantas autóctones no extremo Sudoeste da mata com três habitats distintos: o carvalhal de carvalho-alvarinho (Quercus robur) e carvalho-negral (Quercus pyrenaica); o loureiral, dominado pelo loureiro (Laurus nobilis) e com presença de medronheiro (Arbutus unedo) e azevinho (Ilex aquifolium); e o adernal, uma formação vegetal singular dominada por adernos (Phillyrea latifolia) de grande porte. Já o Pinhal do Marquês encontra-se atualmente em reconversão, depois da degradação causada pela praga do nemátodo-da-madeira-do-pinheiro (Bursaphelenchus xylophilus) e pelo ciclone Gong (em 2013). Os trabalhos de reconversão incidem na remoção das espécies exóticas invasoras – como as acácias, que se disseminaram severamente na área do pinhal – e na plantação de espécies autóctones. 

Para complementar o “passeio verde” no Buçaco, recomenda-se a visita ao Jardim Novo, que envolve o Convento, e ao Vale dos Fetos, dois espaços ajardinados que embelezam o local. De forma a preparar a sua visita, consulte o Mapa de Árvores Notáveis da Mata Nacional do Buçaco.

A “Viagem a Portugal” de Saramago 

As palavras de José Saramago sobre a Mata Nacional do Buçaco decorrem de uma viagem por Portugal, feita pelo autor em 1979 e 1980, a convite da editoria Círculo de Leitores – que, com o livro Viagem a Portugal, assinalou o seu 10.º aniversário.  

Atualmente, o livro é disponibilizado pela Porto Editora e, como refere a sua sinopse, é um misto de recordações, crónica e narrativa. Embora não seja propriamente um “Guia de Viagem”, torna-se uma excelente companhia para quem gosta de viajar e conhecer mais sobre Portugal, a sua paisagem, história e património, explorando novos destinos ou regressando aos lugares mais marcantes. 

Embora a Mata do Buçaco esteja atualmente em condições diferentes das que encontrou Saramago – sobretudo pelos estragos causados pela tempestade Leslie, em outubro de 2018 –, decorre um projeto de recuperação ao esplendor desta floresta pública.