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Turismo e Lazer

Passadiços do Paiva: esqueça os degraus, é a vista que faz perder o fôlego

Num cenário idílio, os Passadiços do Paiva oferecem um passeio de beleza natural de mais de oito quilómetros por algumas das maravilhas geológicas e biológicas do Arouca Geopark. Sempre pela margem do rio Paiva e através de praias fluviais, é um caminho para se encantar num dos mais belos territórios de Portugal.

Para ver é preciso fechar os olhos. A recomendação parece uma contrassenso, mas só assim vai conseguir prestar toda a atenção ao murmurinho agitado do rio Paiva. É a partir destas águas inquietas – onde o rafting é desporto de eleição – que se ergue a paisagem ao seu redor, em rasgos de verde e pedra. Assim que o Paiva lhe conquistar os ouvidos e a atenção, é altura de abrir os olhos e preparar-se para descobrir a paisagem única que tem pela frente. Os Passadiços do Paiva esperam por si.

Inaugurados em 2015, os Passadiços são o resultado do engenho humano a da natureza. A construção, em tábuas de madeira, oferece um passeio privilegiado por uma paisagem intocada, que se assume como santuário de biologia, geologia e arqueologia.

A proeza é tal que a atração já conquistou, por quatro anos consecutivos, o “óscar” do turismo mundial (World Travel Awards) do Melhor Projeto Europeu de Desenvolvimento Turístico – em 2016, 2017, 2018 e 2019. Nos dois últimos anos, foi também considerada como Melhor Atração Turística Europeia de Aventura, garantindo, em 2018, a liderança mundial nessa categoria.

Passo a passo, são mais de oito quilómetros de percurso – que facilmente duplicam para 16 km, caso resolva aventurar-se numa ida a e volta deste trajeto linear – no vale do rio Paiva, em pleno Arouca Geopark, reconhecido pela UNESCO como património geológico da Humanidade.

Por onde começar o trajeto?

Caminho pelos passadiços do Paiva

Poderá cumprir este ritual inicial – fechar os olhos, ouvir, inspirar e começar o passeio pelos Passadiços de olhos bem abertos – na praia fluvial do Areinho ou de Espiunca, no concelho de Arouca. Estas são as duas extremidades dos Passadiços entre as quais se estende o percurso, pelo que é possível começar por qualquer um dos locais.

Fica, no entanto, a recomendação de quem sabe (neste caso, da Câmara Municipal de Arouca): para suavizar o esforço físico, faça o sentido Areinho-Espiunca. Nesta direção, a subida é ligeiramente mais fácil (450 degraus contra 310). Se a sua intenção corajosa é fazer a ida e volta dos Passadiços, use a estratégia inversa. Ou seja, comece em Espiunca, vá até Areinho e volte atrás. Desta forma, evita também terminar os 16 quilómetros pela margem do Paiva com uma exigente subida pelos degraus.

Qual a dificuldade do percurso pelos Passadiços do Paiva?

O percurso é classificado com um nível de dificuldade alto. A prova de resistência está, sem dúvida, nos desníveis acentuados (muitas vezes com degraus) no percurso. Se optar pelo trajeto Areinho-Espiunca conte com 30 minutos iniciais sempre a subir, mas não esmoreça. Depois desse primeiro esforço, a maioria do passeio é a descer ou a direito.

Caso consiga guardar um resto de fôlego na subida, prepare-se para o perder por completo. É que lá em cima, com o vale do Paiva à vista desarmada, a beleza natural que se estende até à linha do horizonte é de cortar a respiração.

No centro de tudo, está o rio, com uma das águas mais limpas da Europa. Aproveite a paisagem e tire a fotografia da praxe a partir dos miradouros dos Passadiços do Paiva, assim que “conquistar” a subida inicial.

Os pontos de paragem são comuns ao longo do percurso, assim como as áreas de sombra. Sensivelmente a meio do passeio, os Passadiços confluem numa outra praia fluvial, a praia do Vau, onde é possível merendar ou ir a banhos em plena natureza.

O que ver ao longo do percurso nos Passadiços do Paiva?

O passeio de oito quilómetros pelos Passadiços permite-lhe aceder a cinco geossítios (locais de interesse geológico) com características singulares.

  • Falha da Espiunca – mesmo junto à ponte da Espiunca, herda o nome da aldeia onde começam os Passadiços do Paiva (ou terminam, dependendo do percurso que escolher). Trata-se de uma falha geológica de importância histórica, polvilhada de quartzitos negros com mais de 550 milhões de anos e que é um ilustre exemplar do sistema de falhas surgido durante o processo de formação das serras do Montemuro e maciço da Gralheira.

 

  • Gola do Salto – um salto com pernas de gigante seria, talvez, a melhor forma de transpor o desnível de quatro metros que caracteriza este geossítio. É o desnível mais acentuado do rio Paiva e, por isso mesmo, faz as delícias de quem se lança na adrenalina de um percurso de rafting – além do valor geomorfológico existente no local.

 

  • Praia do Vau (zona de recreio e lazer) – esta praia fluvial é a zona de eleição para descansar a meio do percurso nos Passadiços do Paiva. Ao contrário da zona mais estreita do rio, aqui as águas são calmas e convidam a mergulhos refrescantes. É também uma oportunidade para observar, em detalhe, o opulento corredor verde representante das espécies da região: freixos (Fraxinus angustifolia), fetos-reais (Osmunda regalis) ou a espécie endémica portuguesa Anarrhinum longipedicellatum (com as suas delicadas flores arroxeadas), por exemplo. A flora dá abrigo a diversas espécies de animais, como a salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), a borboleta-imperador-pequena (Apatura ilia) ou a libélula Macromia splendens. Com acesso por degraus, a praia dispõe de bar de apoio, zona de marmitas e ponto de partida/chegada de vários percursos desportivos em águas bravas.

Ponte suspensa: a recompensa para quem é imune a vertigens

Sobre a praia do Vau, há uma forma diferente de olhar o rio Paiva e a paisagem natural que o rodeia: percorrer a ponte suspensa que une as duas margens – a fazer lembrar um filme de aventura –, na zona onde antigamente se fazia a travessia de barca entre Canelas e Alvarenga. A ideia pode parecer assustadora, mas a perspetiva por cima do rio compensa qualquer receio. Do outro lado da ponte, há um outro acesso à praia do Vau.

  • Cascada das Aguieiras – uma cascata, um castelo e muita biodiversidade é o que poderá encontrar nesta queda de água que embeleza ainda mais a garganta do Paiva. Para vislumbrar este recanto basta afrouxar o passo do passeio nos Passadiços e parar no miradouro. Na margem oposta, a queda abruta da água em sucessivos desníveis (ao longo de mais de 160 metros) chama logo a atenção por entre vegetação e rocha. Do miradouro é possível observar também o cabeço rochoso onde está implantado o Castelo de Carvalhais, que provavelmente serviria para controlar a passagem no rio no início do século X.

 

  • Garganta do Paiva troço mais estreito do rio Paiva e reconhecido pelas águas bravas ideais, por exemplo, a prática de rafting e hidrospeed. A ponte de pedra de Alvarenga (na entrada dos Passadiços pelo Areinho) oferece a vista perfeita para as extensas escarpas de paredes graníticas, nas quais o Paiva se encaixa. Como contraste, é possível ver também, do outro lado da ponte, o vale do Paiva bem mais aberto (as propriedades geológicas das diferentes rochas justificam as grandes diferenças na paisagem à medida que o rio passa).

Procure a flora e fauna que se esconde na Garganta do Paiva
– Nas paredes rochosas: manchas coloridas em tons verde-limão marcam a presença do líquen Acospora hilaris.
– Nas fendas das rochas: diversas aves de rapina encontram refúgio quando não estão em voo sobre o vale.

Arouca Geopark: a natureza vestida a múltiplas cores

Com uma área de mais de 300 quilómetros quadrados, o Arouca Geopark é um “museu geológico a céu aberto” onde se inserem os Passadiços do Paiva. No entanto, este território esconde mais do que tesouros geológicos: por entre as pedras, a vida irrompe em garridos tons e formas. Ao passear pelos vários percursos pedestres do Geopark aproveite as sombras dos castanheiros (Castanea sativa), dos carvalhos (Quercus sp.) e dos pinheiros (Pinus sp.). Vá à descoberta das flores brancas dos cantarinhos (Narcisus triandrus), dos molhos de alecrim-da-serra (Dichiptera aromatica L.) em cor púrpura, das carquejas (Baccharis trimera) amarelas e das anémonas-dos-bosques (Anemone trifólia L.), entre muitas outras espécies que habitam a região.

Passadiços do Paiva | Informações úteis

 

Extensão
8,7 quilómetros (dificuldade alta).

Características do percurso
Linear. Passadiço de madeira (com alguns degraus ao longo do trajeto). Três troços de terra batida. Atravessar a “Ponte suspensa” é opcional.

Duração
Cerca de 2h30

Preço
1€ (grátis para crianças até aos 11 anos, inclusive).

Transportes
A ligação entre as duas extremidades dos Passadiços pode ser feita de táxi.

Marcação prévia
Obrigatória, no Portal online de Reservas. Poderá comprar um ingresso no próprio dia (na loja interativa de turismo de Arouca ou na Praia Fluvial do Areinho), mas sujeito ao limite diário de visitas.

Onde começar
Em Espiunca (40°59’34.67″N 8°12’41.19″W) ou Areinho (40°57’9.68″N 8°10’33.05″W), concelho de Arouca.
O percurso é menos exigente na direção Areinho-Espiunca.


Estacionamento
Gratuito, junto às entradas de Espiunca e Areinho.


Onde ficar
O Arouca Geopark tem uma lista de alojamentos recomendados para pernoitar na região