Amieiro, carvalho, choupo e faia foram as madeiras usadas nas primeiras canoas que navegaram no Mediterrâneo. Foi com elas que se construíram as embarcações mais antigas conhecidas perto deste Mar, há mais de 7 mil anos, revela o artigo “Os primeiros barcos do Neolítico no Mediterrâneo: a comunidade de Marmotta”.
São as cinco embarcações mais antigas de que há registo na região mediterrânica. Terão sido as primeiras canoas a navegar no Mar Mediterrânico e foram descobertas no sítio arqueológico de La Marmotta, na margem do lago Bracciano, na região de Lazio, Itália.
Os vestígios encontrados são testemunhos dos sistemas náuticos de há cerca de 7 mil anos, comprovando que havia já um amplo conhecimento sobre as madeiras que podiam utilizar-se na construção de embarcações, as técnicas de as trabalhar e as de navegar.
As canoas de La Marmotta, assim como a ocupação de muitas ilhas no leste e centro do Mediterrâneo durante os períodos Mesolítico e em particular Neolítico inicial, são provas irrefutáveis da capacidade dessas sociedades para viajar por estas águas, concluem os investigadores no seu artigo, publicado na revista científica digital Plos One, da Public Library of Science.
Essa capacidade significa que, nestas comunidades, já haveria conhecimento técnico para selecionar as árvores que permitiam a construção de barcos, para as cortar, para escavar ou moldar os seus troncos, assim como para criar as estruturas necessárias para que estas primeiras canoas se mantivessem estáveis e pudessem ser conduzidas.
Estas primeiras canoas, assim como muitos outros artefactos descobertos em La Marmotta, revelam como, em poucos séculos, comunidades como esta conseguiram chegar a diferentes zonas da costa europeia e africana, onde estabeleceram um modelo de vida (modelo económico) complexo, estruturado em torno de um conjunto considerável de espécies de plantas e animais domésticos. Um modelo de que “somos os mais diretos herdeiros”.
Como eram estas primeiras canoas?
As canoas de La Marmotta eram feitas de troncos únicos e na sua construção recorreu-se ao uso de fogo para facilitar a escavação do interior, o que indica um elevado nível de domínio técnico. As cinco embarcações têm dimensões e formas diferentes, o que sugere terem sido usadas para navegar em diferentes locais – lago, rio e mar – e com diferentes finalidades.
De acordo com os vestígios da madeira (avaliados por datação de carbono, com dados ajustados e submetidos a um modelo de estatística Baysiana), as primeiras canoas a cruzar o Mediterrâneo deverão datar de entre 5620–5490 a.C. e 5310–5085 a.C.
Refira-se que as canoas foram encontradas submersas, sob oito metros de água e três de sedimentos, razão pela qual se encontram relativamente bem preservadas, tendo em consideração a sua idade.