Um pavilhão industrial e um troço rodoviário são o resultado das primeiras demonstrações portuguesas de que os resíduos da indústria da pasta e papel podem integrar novos materiais de construção e contribuir para a meta “resíduos zero”, numa lógica de economia circular.

Um pavilhão industrial e um troço rodoviário, ambos na região de Aveiro, são os primeiros resultados visíveis em Portugal da aplicação de resíduos da indústria da pasta e papel em estruturas de betão pré-fabricado para construção civil e em misturas betuminosas para pavimentação de estradas.

Os resíduos da indústria da pasta e papel resultam de um processo integrado de matérias-primas utilizadas e reutilizadas em diferentes sequências de produção, até se tornarem pequenos grãos e cinzas – cinzas de cal, grãos e sedimentos (chamados dregs e grits). Apesar da sua produção já integrar um processo de valorização química circular, o seu ciclo de vida pode tornar-se ainda mais longo agora que foi comprovada a sua viabilidade como matérias secundárias no fabrico de materiais de construção.

Os dois pilotos demonstradores foram desenvolvidos no âmbito do projeto europeu de investigação e inovação paperChain – Novos Mercados de Nicho para os Resíduos da Indústria de Pasta e Papel com base na Economia Circular – e, em ambos os casos, os resíduos da indústria de pasta e papel permitiram substituir (e economizar) recursos primários (como o calcário) e encontrar sinergias entre empresas de diferentes sectores que geram benefícios económicos e ambientais de parte a parte.

As cinzas de cal foram usadas como elemento de consistência (fillers) em betão pré-fabricado, que foi por sua vez aplicado na construção de estruturas de um pavilhão industrial, em Ílhavo. Pórticos com pilares de 10 metros de altura e asnas (estruturas para suporte de telhado) com 20 metros de comprimento foram construídos com a substituição parcial de recursos naturais, atualmente utilizados na indústria de betão pré-fabricado, por estes resíduos. Pilares e asnas foram intencionalmente deixados expostos para avaliação da resistência do material aos elementos naturais.

Os dregs e grits foram aplicados como agregados finos e fillers em asfalto betuminoso na camada superior do pavimento da estrada em Cacia, num total de 2800 m². A ideia inicial era integrá-los nas camadas de base, mas a aplicação na camada de desgaste permitirá avaliar um limite de resistência mais ambicioso, já que esta camada, como o nome indica, é a que está sujeita a maior atrito. Inicialmente tratados por um operador de gestão de resíduos, os dregs e grits foram integrados na formulação final do material betuminoso regularmente usado na pavimentação.

Resíduos da indústria de pasta e papel na construção, química e minas

Os dois demonstradores estão agora sob monitorização técnica e ambiental, um processo que ajudará a validar a durabilidade a longo prazo e o desempenho técnico das soluções circulares. Os testes estão a ser realizados pela Universidade de Aveiro e pelo RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, duas das entidades que integram o projeto europeu paperChain.

Este projeto de investigação e inovação promove a aplicação dos resíduos da indústria da pasta e papel em três sectores – construção civil, sector químico e sector mineiro – através de execução de cinco demonstradores de circularidade que envolvam implementações em larga escala. Portugal é um dos países que integra o consórcio europeu cujas obras, agora concluídas, são as suas primeiras e inéditas demonstrações no sector da construção civil.

O paperChain junta um total de 20 parceiros de cinco países. Em Portugal, e além da Universidade de Aveiro e do Instituto de Investigação RAIZ, participam o Cluster Habitat Sustentável e três empresas que atuam nas diferentes vertentes do projeto: The Navigator Company (produção de pasta e papel), Spral (fabrico de betão pré-fabricado) e Megavia (sector da construção de estradas e obras públicas).