Floresta Portuguesa
Há duas razões principais que terão contribuído para o Eucalyptus globulus se tornar a espécie de eucalipto mais expressiva em Portugal.
A primeira relaciona-se com a boa adaptação desta espécie de eucalipto às características do solo e do clima, incluindo temperatura, radiação solar, vento, chuva e humidade do ar (condições edafoclimáticas), o que ajudou ao seu estabelecimento. Das várias centenas de espécies de eucalipto, nem todas conseguem esta mesma adaptação às condições do nosso país. Por exemplo, o chamado eucalipto arco-íris (Eucalyptus deglupta) só sobrevive nas regiões equatoriais (mais húmidas e quentes) do globo e não consegue adaptar-se às nossas temperaturas de inverno. Ou seja, noutros climas e geografias, outros eucaliptos encontram condições adequadas para formar populações estáveis.
A segunda decorre da descoberta de que a madeira desta espécie de eucalipto permite elevada qualidade e rendimento no fabrico de pasta e papel. A procura contribuiu para esta espécie ser mais plantada e valorizada em termos socioeconómicos, tornando-se numa fonte de rendimento para comunidades rurais e produtores florestais em Portugal e nos poucos outros países em que a espécie está adaptada e apresenta boa taxa de crescimento, como é o caso da vizinha Espanha, Austrália, Chile, Etiópia, Uruguai e China. Para se ter uma noção desta produtividade, basta considerar que por cada 100 kg de madeira da espécie E. globulus se obtêm cerca de 53 kg de fibra de celulose – cerca de 53% de rendimento – bastante acima dos 40% conseguidos com a madeira de pinho e até dos 48% obtidos com a madeira de outras espécies de eucaliptos plantados no Brasil.
O papel das florestas de produção de madeiras de fibra curta, como o eucalipto, não pode ser substituído facilmente por florestas de fibra longa (como é o caso dos abetos e pinheiros) ou fibras longas com origem em gramíneas (bambu ou cana-de-açúcar) ou outras plantas anuais como o cânhamo ou a juta-de-java (kenaf). Por um lado, as propriedades físicas das fibras (particularmente o comprimento, diâmetro e espessura), bem como as suas propriedades químicas, não permitem a sua utilização em papéis de impressão de elevada qualidade. Por outro lado, a plantação destas últimas espécies competiria com a produção agrícola. O uso destas fibras é reservado, na maior parte dos casos, para a produção de pastas e papéis com propriedades especiais.
Destacam-se múltiplas outras aplicações do Eucalyptus globulus, que vão dos óleos essenciais à energia, passando por novos materiais biológicos – nomeadamente nanofibras de celulose e lenhina – que estão já a ser extraídos da biomassa residual desta espécie de eucalipto, assim como dos desperdícios das indústrias que o transformam, e a ser utilizados em áreas tão diversas como a saúde, cosmética, alimentação, tratamento de águas residuais, compósitos e bioplásticos para novas tecnologias, embalagens e automóveis, entre muitos outros fins industriais.
Espécies Florestais
Eucalipto é o nome comum dado a muitas espécies dos géneros Eucalyptus, Corymbia e Angophora. A boa adaptação ao solo e clima nacional, a rapidez de crescimento e as propriedades da madeira contribuíram para que uma se destacasse em Portugal – o Eucalyptus globulus. Descubra mais sobre a espécie neste artigo em colaboração com o autor João Ezequiel*.