Uma área mais comum da transformação dos subprodutos do sector florestal em matérias-primas secundárias é, sem dúvida, a da energia. Nesta vertente, são vários os materiais valorizados pela indústria. Por exemplo, das aparas de madeira (transformadas por gasificação e refinação) obtém-se biogás semelhante ao gás natural, assim como calor e eletricidade, que são maioritariamente transformados em centrais de cogeração e em grande parte consumidos nos próprios processos industriais, o que permite reduzir a dependência dos combustíveis fósseis.
Mas esta é apenas uma das muitas vertentes em que a ciência e a indústria têm promovido cada vez mais formas de criar valor circular.
Por exemplo, na indústria da pasta e papel, os materiais sobrantes da transformação da madeira de eucalipto foram testados com sucesso para aplicação como floculantes nas estações de tratamento de águas residuais (ETAR). Quer isto dizer que, a partir de aglomerados de partículas de eucalipto, foram criados flocos que conseguem remover os contaminantes presentes nas águas residuais, e que podem substituir os tradicionais floculantes de origem fóssil (petrolífera). A inovação foi desenvolvida em 2000, no âmbito do projeto europeu ECOFLOC, com o envolvimento da Universidade de Coimbra, da Universidade de Leeds (Reino Unido) e de uma empresa suíça dedicada ao tratamento de águas residuais.
As cinzas das caldeiras desta mesma indústria são também um subproduto que está a ser estudado e testado para incorporar em materiais de construção, como o cimento e as argamassas. Esta foi uma das linhas de investigação desenvolvida no âmbito do projeto inpactus, um dos maiores já desenvolvidos em Portugal no âmbito da bioeconomia e biotecnologia (concluído em 2022).
Nesta linha de investigação, o inpactus comprovou, por exemplo, ser possível substituir 17% do cimento por cinzas (cinzas volantes) na formulação de argamassas, sem comprometer as respetivas propriedades. Estas cinzas, que seguiam habitualmente para aterro, permitem ainda produzir outros materiais não estruturais, como é o caso de vasos ecológicos, que podem substituir materiais como o plástico ou a cerâmica.
Outro subproduto desta indústria é o chamado licor negro, que resulta do cozimento da madeira (processo inerente à produção de pasta para papel). Também ele foi também avaliado, no âmbito do inpactus, para isolamento de compostos com potencial valor acrescentado. Neste caso, foi testada a eletrólise como método mais sustentável (sem compostos químicos) para o isolamento de lenhina presente no licor negro. Este componente da madeira foi também alvo de estudo e comprovou-se o seu potencial como matéria-prima para produção de novos materiais, como é o caso (entre outros) das espumas de poliuretano, que servem vários destinos, como, por exemplo, a produção de isolantes usados na construção civil.