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Biodiversidade

Habitats da floresta portuguesa: um refúgio de biodiversidade

Dos valores naturais, ao abrigo de múltiplas espécies de fauna e flora, as florestas são verdadeiras reservas de biodiversidade. Em Portugal, os habitats naturais da rede Natura 2000 com interesse prioritário de conservação vão desde os matagais de loureiro na serra de Monchique aos zimbrais nas dunas da Figueira da Foz. Apesar da sua importância, a maioria das áreas identificadas como zonas de interesse comunitário encontra-se em estado inadequado de conservação.

O provérbio “por haver tantas árvores, há quem não veja a floresta” refere a importância de ver a floresta para além das árvores. Esta perspetiva é mais do que certa quando o tema em causa é a biodiversidade e quando olhamos para ecossistemas florestais, que são a “casa” de espécies arbóreas, mas também habitats para animais, plantas, fungos e muitos outros microrganismos.

As florestas mundiais contêm mais de 60 mil espécies de árvores e providenciam habitats para 80% das espécies de anfíbios, 75% dos pássaros e 68% dos mamíferos, indica o relatório The State of the World’s Forests 2020. Cerca de 60% das plantas vasculares do mundo encontram-se nas florestas tropicais, com muitas espécies ainda por descobrir e esta biodiversidade escondida é uma das razões para preservar estes locais intocados.

A área da bacia do Mediterrâneo é considerada um hotspot de biodiversidade, sendo o terceiro mais rico em termos de diversidade de plantas, atrás dos Andes Tropicais e da região de Sonda (Sudeste Asiático). Cobrindo mais de dois milhões de quilómetros quadrados, de Portugal à Jordânia e da Itália a Cabo Verde, a bacia do Mediterrâneo alberga cerca de 10% da flora mundial (na qual o montado é um ecossistema particularmente relevante), com cerca de 25 mil espécies, mais de metade endémicas desta área.

Pela sua situação geográfica e climática – entre o Mediterrâneo e o Atlântico – Portugal tem uma elevada taxa de biodiversidade na terra e no mar, refere a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ECNB 2030, capítulo “Portugal, Biodiversidade e Capital Natural – Uma Leitura Atual). Na União Europeia, é o décimo país com maior percentagem de área integrada na Rede Natura 2000 (que identifica áreas de interesse comunitário de conservação): 22% da superfície terrestre nacional está incluída nesta rede.

De acordo com dados da União Internacional da Conservação da Natureza, citados pela ECNB 2030, existem em Portugal 35 mil espécies de animais e plantas – ou seja, 22% das espécies descritas na Europa e 2% das que existem no mundo.

Bacia do Mediterrâneo alberga cerca de 10% da flora mundial

Habitats-da-Floresta-Gráfico

Com mais de um terço do solo ocupado por floresta, este ecossistema é essencial para a biodiversidade em Portugal. As florestas ocupam 23% da Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP), na qual existem 27 habitats, arbóreos e arbustivos, de importância especial de conservação, ao abrigo da Rede Natura 2000. Nestes habitats, podemos encontrar várias espécies de plantas, assim como mamíferos ou répteis únicos, entre muitos outros animais.

Conhecer os habitats prioritários de Portugal

Criada nos anos 90 pela União Europeia, a Rede Natura 2000 permite identificar as principais áreas de conservação de habitats e espécies raras, ameaçadas ou vulneráveis nos Estados-Membro. Os sítios identificados pela Rede baseiam-se na Diretiva Habitats – relativa à proteção dos habitats, fauna e flora, e na Diretiva Aves – relativa à conservação de aves selvagens. Os habitats e espécies incluídas na Rede são considerados como de interesse comunitário e cada país tem o dever de vigiar e cuidar da conservação destas áreas e entregar relatórios de progresso a cada seis anos. No caso de espécies ou habitats assinalados como “prioritários” pela União Europeia – em risco de desaparecimento ou de maior importância para a conservação –, esta responsabilidade é ainda maior. A cobertura geográfica da Rede Natura 2000 pode ser consultada neste mapa interativo.

Os habitats naturais de interesse comunitário estão inseridos em nove grandes grupos: além das florestas, são também contempladas áreas costeiras, dunas, zonas de água doce, charnecas e matos de zonas temperadas, matos esclerofilos, formações herbáceas, turfeiras e pântanos. Todos estes grupos incluem habitats particularmente vulneráveis em Portugal, cuja conservação é considerada prioritária.

Infelizmente, a maioria destes habitats (prioritários ou não) apresenta um estado de conservação inadequado em Portugal (numa escala de avaliação que varia entre favorável, inadequado, mau e desconhecido), com destaque para as turfeiras e dunas – que são as áreas mais degradadas.

Nos habitats de floresta da Rede Natura 2000, mais de 60% apresentam um grau inadequado de conservação, de acordo com dados da Agência Portuguesa do Ambiente, o que tem um efeito negativo em termos de perda de valores naturais e de biodiversidade. Esta é, aliás, uma questão preocupante em todo o mundo: desde 1970, só nas florestas, registou-se uma redução em mais de metade (53%) da vida selvagem, destaca o relatório Below The Canopy, da WWF. Das oito milhões de espécies identificadas no planeta, um milhão está em risco de extinção, alertam a IPBES – Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos e a IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza, que na sua Lista Vermelha de Espécies ameaçadas identifica só na Europa 1677 espécies em risco (incluindo 58% das árvores endémicas europeias) de um total de 15060 avaliadas.

Ao abrigo da Rede Natura 2000, foram definidas 62 Zonas Especiais de Conservação em Portugal Continental, assim como 88 tipologias de habitats naturais de paisagem protegida, dos quais 17 são considerados prioritários. Estão também registadas 121 espécies de flora e 52 espécies de fauna.

Galeria: 5 habitats naturais prioritários

Explore, na galeria abaixo, as características de cinco habitats naturais da Rede Natura 2000 existentes em Portugal e identificados como prioritários a nível europeu. Além destes, existem também habitats prioritários de vegetação rasteira, formação rochosa ou em área marinha. O esforço consistente de conservação e expansão da área destes habitats, em linha com os compromissos europeus, permite a manutenção destes valores naturais e da biodiversidade associada.