Entre os desafios deste espaço partilhado por múltiplos usos, a conservação do solo é outra das prioridades. O gado, embora desempenhe um papel crucial na gestão da biomassa e consequente redução do risco de incêndio, contribuiu para a compressão dos solos, especialmente na Charneca do Infantado, onde o seu impacte interfere também com a regeneração natural dos sobreiros.
Compatibilizar a criação animal com a conservação dos solos e a regeneração do montado é uma preocupação da gestão, ajudando a que o gado não permaneça todo o ano nesta área. Em abril, os bovinos saem para as pastagens das lezírias, onde permanecem até setembro ou outubro. Em paralelo, delimitou-se “um conjunto de ilhas e de corredores ecológicos dos quais o pastoreio é excluído, para que as várias populações (mamíferos, invertebrados) se possam desenvolver e trocar património genético”, acrescenta o gestor.
Desde 1992 que a área de sobreiro é gerida sob um plano de ordenamento que dividiu a propriedade em nove folhas – termo muito utilizado na agricultura e que consiste na divisão da exploração em parcelas. O objetivo é que anualmente seja feita a tiragem de cortiça “apenas numa das folhas, para tentarmos ter produções mais ou menos equivalentes todos os anos”.
Amenizar as flutuações nos volumes de cortiça disponíveis anualmente é importante num produto com tanta relevância para a Companhia das Lezírias e este processo de ordenamento mantém-se em curso, procedendo-se a ajustes nos anos de descortiçamento.
Nesta zona cruzada pela influência atlântica e mediterrânica, em que o clima tem grandes amplitudes térmicas, a regeneração natural do pinheiro-bravo é outra das preocupações. A regeneração desta espécie “tem muita dificuldade em passar o verão”, refere Rui Alves com base em dados empíricos. Contudo, “não nos faz sentido converter a atividade florestal numa atividade agrícola, ou seja, começarmos a regar mesmo que apenas nos primeiros anos de regeneração”.
Apesar da Companhia das Lezírias estar localizada num dos maiores aquíferos de Portugal, a perspetiva de aumento de episódios de seca, designadamente por efeito das alterações climáticas, desfavorece o pinheiro-bravo em épocas mais quentes. Além disso, o efeito da seca na redução dos níveis de águas subterrâneas pode afetar também o crescimento da cortiça. A carência de água é, por isso, como se identifica no livro “How to balance forestry and biodiversity conservation. A view across Europe”, um dos fatores de ameaça nesta zona à “resiliência deste complexo sistema socioecológico” que é o montado.
“Temos estado atentos e a ver como é que o montado evolui”, refere o Diretor Florestal e de Sustentabilidade da Companhia das Lezírias. Embora vigilante em relação aos efeitos das alterações climáticas, não deixa de alertar para outros perigos: “Preocupamo-nos com questões globais, mas, por exemplo, o impacte local de um javali na regeneração pode ser muito pior”, pelo que os seus focos de atenção implicam questões de longo, mas também de curto prazo.