Emergência de ‘proprietários florestais indiferentes’
Este estudo evidenciou uma transição de ‘proprietários florestais clássicos’, com orientação claramente económica, para a emergência de ‘proprietários indiferentes’, cujo interesse na floresta reside em manter as propriedades na família e como reserva económica para o futuro. Esta transição, fruto das mudanças no mundo rural, onde a agricultura e a floresta já não representam a principal fonte de rendimento, foi também registada noutros estudos.
Apesar da maior parte dos proprietários florestais inquiridos em Mação ter referido que mantêm pequenas intervenções nas suas propriedades, a ausência de gestão florestal ativa foi um dos principais problemas identificados, sendo notório o abandono e o absentismo dos proprietários florestais. De facto, este abandono, juntamente com a fragmentação da propriedade, o reduzido contributo da floresta para o rendimento familiar e os incêndios frequentes e recorrentes, têm desencadeado um sentimento generalizado entre os pequenos proprietários: não intervir parece ser a única solução viável para as suas propriedades.
No entanto, a fragmentação da propriedade florestal não foi reconhecida como um problema pelos proprietários florestais e outros residentes inquiridos, e a necessidade de organização dos proprietários e de gestão agrupada não foi identificada como uma solução para os problemas identificados. Já no grupo dos técnicos e decisores locais, regionais e nacionais a definição de uma estratégia de desenvolvimento rural e o apoio à gestão agrupada foram as soluções mais salientadas.
Estas diferenças de perceções sobre a floresta entre os vários atores demonstram a necessidade de uma maior discussão e sensibilização para os desafios que afetam as florestas e a gestão florestal em Portugal, reafirmando a importância do ordenamento da paisagem rural, onde a estrutura da propriedade e os modelos de gestão florestal serão aspetos fundamentais. A articulação entre as políticas e as necessidades e interesses dos atores emerge como fundamental neste caminho, e representa um dos compromissos do CoLAB ForestWISE, em articulação com os seus associados e parceiros académicos, empresariais, da administração pública e outros atores do território.