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Acácias: como reconhecer estas espécies invasoras em Portugal?

As acácias são das espécies invasoras mais comuns em Portugal. Estão identificadas um total de 11 espécies que, embora sejam diferentes, nem sempre são fáceis de distinguir. Aprenda a reconhecê-las neste artigo em colaboração com Maria Sousa.

Presentes no nosso país desde o século XIX, as acácias foram trazidas para Portugal como espécies ornamentais, pela beleza da sua floração, assim como pelo valor da madeira e dos taninos da casca, tradicionalmente usados no curtimento de peles.

Uma vez plantadas, várias espécies de Acacia expandiram-se rapidamente, ocupando novas áreas e consumindo recursos que alteram o equilíbrio dos ecossistemas. Muitas vezes impedem a regeneração de espécies anteriormente presentes.

O comportamento invasor de algumas acácias em Portugal foi reconhecido pela primeira vez na legislação em 1937. No século XXI, todas as espécies de Acacia são consideradas invasoras aos olhos da lei. Assim, de acordo com o Decreto-Lei n.º 92/2019  não é permitido o seu cultivo, nem o transporte ou comercialização de sementes ou de partes destas plantas.

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Acácias integram família das leguminosas

As acácias pertencem à família Fabaceae, também conhecida como família das leguminosas (Leguminosae), cujos frutos são vagens que contêm sementes, e à subfamília Mimosoideae.

Esta família inclui muitas dezenas de espécies que temos em Portugal e que são maioritariamente exóticas, ou seja, foram trazidas de outros lugares do mundo e aqui introduzidas. Dela fazem parte várias árvores e arbustos, assim como plantas herbáceas de elevado valor económico e nutritivo – como o grão, as favas ou os amendoins -, plantadas em Portugal e em muitos outros países como culturas alimentares.

Algumas destas espécies exóticas mantêm-se em Portugal porque são continuamente plantadas. Outras formaram populações estáveis, sem intervenção humana, e por cá permaneceram, partilhando habitat em equilíbrio com espécies nativas – foram, por isso, consideradas espécies naturalizadas. Uma pequena parte, no entanto, viu este equilíbrio interrompido por fenómenos externos (o fogo, por exemplo), que estimularam o rápido aumento das suas populações e distribuição, desencadeando um comportamento invasor.

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Na família da leguminosas, além das acácias, podemos encontrar a  alfarrobeira (Ceratonia siliqua), uma espécie mediterrânica amplamente cultivada pelos seus frutos (alfarrobas), que em Portugal tem núcleos de plantas subespontâneas (ou espontâneas), razão pela qual é considerada como “possivelmente autóctone”.

As áreas de distribuição natural do género Acacia correspondem maioritariamente a zonas de climas subtropicais e temperados quentes – principalmente Austrália e África, podendo algumas espécies ser encontradas também na zona sul asiática e nas Américas Central e do Sul.

Uma das características destas espécies é a produção abundante de sementes, que podem ficar dormentes no solo durante vários anos (em certos casos, várias décadas), até encontrarem condições adequadas para germinar. Um dos estímulos para a germinação é o fogo. Além disso, algumas espécies de acácias são resistentes à seca e conseguem desenvolver-se em solos pobres e com pH ácido, o que lhes permite viver numa grande variedade de habitats.

Como reconhecer as 11 acácias presentes em Portugal?

Em Portugal, podemos encontrar 11 espécies de acácias. São habitualmente árvores ou arbustos, de copa densa e muito ramificada, que têm um sistema radicular (raízes) extenso. Tal como nas outras espécies da família das leguminosas, os frutos das acácias são vagens, dentro das quais se podem encontrar várias sementes.

A acácia-mimosa (Acacia dealbata) é uma das mais comuns em Portugal, mas temos também acácia-de-espigas (Acacia longifolia), acácia-Austrália (Acacia melanoxylon), acácia-negra (Acacia mearnsii), espinheiro-karroo (Acacia karroo), acácia-virilda (Acacia provincialis, antes designada como Acacia retinodes), Acácia-de-Bailey (Acacia baileyana), Acácia-de-folhas-verticiladas (Acacia verticillata) e mais algumas sem nome comum: Acacia cyclops, Acacia pycnantha e Acacia saligna.

Para as distinguir, há que começar por olhar para as diferenças no tipo de folhas – folhas recompostas, filódios ou ambas em simultâneo:

–  folha recomposta – composta por vários limbos ou folíolos (superfícies aplanadas, totalmente separadas, que lembram pequenas folhinhas) dispostas sobre um eixo (ráquis) secundário ou terciário, que se subdivide a partir do eixo principal. (Aos não especialistas parecem ramificações dos caules com sequências de pequenas folhas, mas é a este conjunto que se chama folha recomposta).

– filódio – na verdade é um pecíolo (pé) que se prolonga, ganhando um formato achatado e dilatado, que se assemelha a uma folha simples (limbo).

A forma das folhas e as nervuras que as percorrem também ajudam a diferenciar as acácias. Além disso, os espinhos, as flores e as glândulas (órgãos que produzem néctar atraindo e alimentando os polinizadores) também podem servir para as identificar.

Exemplos de folhas recompostas
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1. Acácia-Austrália (Acacia melanoxylon)

A acácia-Austrália é oriunda do Sudeste da Austrália e da Tasmânia. Naturalizou-se na Península Ibérica e pode ser encontrada um pouco por todo o Portugal continental, à exceção do interior norte. É uma árvore que pode crescer até aos 30 metros de altura e pode ter aproveitamento florestal.

Tem folhas recompostas e filódios laminares, compridos e ligeiramente falciformes (em forma de foice), estando as folhas adultas reduzidas a filódios com três a cinco nervuras longitudinais.

As flores, que se reúnem em capítulos (vemo-las agrupadas numa forma arredondada), têm uma cor amarelo-pálida a esbranquiçada, e aparecem entre fevereiro e junho. As vagens são castanho-avermelhadas, achatadas e contorcidas.

Esta espécie rebenta vigorosamente a partir da touça (cepo ou tronco cortado) e da raiz. Produz grande quantidade de sementes, que podem ficar viáveis no solo por mais de 50 anos, sendo disseminadas por animais, pelo vento e pela água.

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©Raiz

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2. Espinheiro-karroo (Acacia karroo)

O espinheiro-karroo é nativo de África, desde a África do Sul até à Zâmbia e Angola. No nosso país encontra-se principalmente no litoral centro e no sul. É um arbusto ou pequena árvore que pode crescer até aos 15 metros de altura.

Acacia Karroo
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As suas folhas são caducas (ao contrário de outras acácias), recompostas e podem chegar aos 12 centímetros de comprimento. Diferenciam-se das de outras acácias por terem estípulas espinhosas (estruturas localizadas na base das folhas), esbranquiçadas e que podem ter até 10 centímetros de comprimento.

As flores surgem entre junho e setembro, de cor amarela e reunidas em grupos de quatro a seis capítulos.

As vagens são castanho-acinzentadas, achatadas e curvadas em forma de foice.

3. Acácia-de-folhas-verticiladas (Acacia verticillata)

Originaria do sudeste australiano e Tasmânia, a acácia-de-folhas-verticiladas não é muito frequente no nosso país, embora possa encontrar-se na Beira litoral, Estremadura e Algarve, em solos arenosos ou argilosos húmidos.

Cresce como arbusto ou pequena árvore, até aos cinco metros de altura.

As suas folhas, perenes, reduzem-se a filódios de cerca de dois centímetros e têm um ápice espinhoso (extremidade). Formam grupos de três ou mais em cada nó.

As flores amarelas, aparecem em maio-junho, reunidas em espigas cilíndrica com 11 a 15 centímetros, sendo maiores do que as folhas.

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4. Acácia-mimosa (Acacia dealbata)

Tal como acácia-Austrália, a acácia-mimosa é oriunda do Sudeste da Austrália e da Tasmânia. Está naturalizada na Península Ibérica e pode ser encontrada um pouco por todo o território continental português. Também conhecida apenas como mimosa, é uma árvore que pode chegar aos 15 metros de altura.

As suas flores, que aparecem entre janeiro e março, são de cor amarelo-vivo e organizam-se em capítulos, semelhantes a pequenas bolas que, por sua vez, se agrupam em cachos (panículas). Foram estes cachos vistosos que levaram à introdução desta espécie para fins ornamentais, além de ter sido também usada também com objetivos ecológicos – para fixação dos solos.

As suas folhas, perenes, são verde-acinzentadas, recompostas e podem chegar aos 12 centímetros de comprimento. Outra das suas características são as glândulas, que surgem no ráquis (ou seja, no eixo ou pé da folha composta, onde também se inserem os folíolos).

Os frutos são vagens castanho-avermelhadas, longas, achatadas e ligeiramente contraídas entre as sementes. Além de produzir muitas sementes, rebenta vigorosamente pela touça ou pela raiz depois ser cortada.

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© Raiz

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5. Acácia-negra (A. mearnsii)

Natural da Tasmânia e do sul e sudeste da Austrália, a acácia-negra encontra-se mais no litoral norte e centro de Portugal. Foi introduzida como ornamental e para a extração de taninos. É uma árvore que pode atingir os 10 metros de altura.

As suas folhas apresentam pelos, o que dá uma cor levemente dourada às extremidades dos seus ramos. As suas folhas são perenes e recompostas, podendo chegar aos 14 centímetros. Embora semelhantes às da mimosa na sua forma, as folhas diferem na cor verde-escura.

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© Raiz

As flores, que surgem entre fevereiro e maio, organizam-se em capítulos e têm uma cor amarelo-pálido. As glândulas são outro dos aspetos distintivos desta espécie: têm tamanhos diferentes e encontram-se irregularmente distribuídas pelo ráquis.

As vagens da acácia-negra são castanho-escuras, achatadas, mais ou menos retas. A espécie produz muitas sementes que ficam viáveis mais de 50 anos, além de se reproduzir por rebentos que crescem a partir da raiz e da touça (cepo ou tronco cortado). Formam, assim, povoamentos densos, impedindo o desenvolvimento da vegetação nativa.

6. Acácia-das-espigas (A. longifolia)

Nativa do sudeste da Austrália, pode ser encontrada praticamente por todo o território continental e no arquipélago da Madeira. Foi introduzida em Portugal para fins ornamentais e para controlo de erosão. O outro nome por que é conhecida, acácia-das-praias, remete para o seu habitat preferencial nas areias marítimas.

A acácia-das-espigas é um arbusto ou pequena árvore, que pode chegar aos oito metros de altura.

As suas folhas perenes são filódios laminares, de forma oblongo-lanceolada (longas e de extremidade fina).

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© Raiz

As flores, que aparecem entre dezembro e abril, são de um amarelo-vivo semelhante às da mimosa, mas encontram-se organizadas em espigas.

As suas vagens são cilíndricas, ligeiramente contraídas entre as sementes e contorcem-se quando estão maduras.

7. Acacia cyclops

Nativa da Austrália ocidental e naturalizada na Europa, a Acacia cyclops pode se encontrada no norte litoral e na zona de Lisboa, tendo sido plantada para controlo da erosão em dunas costeiras. É uma espécie que não tolera a sombra.

Esta acácia cresce como arbusto ou pequena árvore, prostrada, atingindo os quatro metros de altura.

As suas folhas são filódios, perenes, com quatro e nove centímetros, de forma linear-oblonga a oblanceolada (longa e estreita, com a forma de uma lança invertida) e com três a cinco nervuras longitudinais.

As flores amarelas, que surgem entre março e outubro, estão reunidas em capítulos, que podem surgir isolados ou em grupos de dois a três.

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As vagens são castanho-avermelhadas, onduladas ou contorcidas e as sementes, pretas, encontram-se envolvidas por um arilo vermelho carnudo.

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© Raiz

8. Acacia pycnantha

Originária do sul da Austrália, a Acacia pycnantha pode ser encontrada no centro e no sul de Portugal. É usada como ornamental e encontra-se localmente naturalizada. Cresce como arbusto ou árvore de até oito metros.

As suas folhas perenes são filódios, assimétricos na base, percorridos por apenas uma nervura. Com uma forma falciforme (em forma de foice), podem chegar aos 20 centímetros de comprimento.

As flores surgem entre janeiro e abril, amarelo-douradas, reunidas em capítulos que se agrupam em cachos compostos por 10 a 20 capítulos.

As vagens são castanho-escuras ou quase negras, achatadas e quase retas.

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9. Acácia-virilda (A. provincialis)

Originária do sul da Austrália, onde é usada para curtir couros (é uma espécie rica em taninos, tal como outras acácias), pode ser vista um pouco por todo o nosso país, exceto no interior norte e centro. A acácia-virilda é um arbusto ou pequena árvore que pode crescer até aos oito metros de altura.

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As suas folhas verde-claras são perenes e estão reduzidas a filódios estreitos, com até 20 centímetros de comprimento e uma única nervura longitudinal.

As flores, reunidas em capítulos de cor amarelo-pálido e agrupadas cachos, surgem normalmente em abril e maio, embora esta espécie consiga florir mais do que uma vez por ano.

As vagens são castanho-claras, quase retas. Cada umas das sementes encontra-se rodeada por um funículo rosado dentro das vagens (cordão que une a semente ao fruto, semelhante ao cordão umbilical).

10. Acacia saligna

A Acacia saligna é originária do este da Austrália, encontra-se naturalizada nos restantes continentes e no nosso país pode ser encontrada em dunas costeiras. Esta acácia cresce como árvore ou pequeno arbusto, até aos oito metros de altura.

As folhas, filódios que podem chegar aos 25 centímetros, são frequentemente lanceolados (em forma de lança) e de um tom verde-azulado. São semelhantes aos filódios da acácia-virilda, mas distinguem-se por serem simétricos na base, mais largos e com a extremidade curta, afiada e rígida (ápice mucronado).

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© Raiz

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© Raiz

As flores, de uma cor amarelo-dourada, aparecem entre fevereiro e maio, organizando-se em cachos compostos por até 10 capítulos.

As vagens são achatadas, retas ou curvadas e comprimidas entre as sementes.

11. Acácia-de-Bailey (Acacia baileyana)

Natural do sudeste australiano, a acácia-de-Bailey encontra-se naturalizada na zona litoral, desde o Baixo Alentejo ao Minho.

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Esta espécie pode crescer quer como arbusto, quer como uma pequena árvore, até cerca dos seis metros de altura.

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As suas folhas perenes e recompostas, têm um tom acinzentado ou azulado e apenas entre dois e cinco centímetros de comprimento.

As flores, que aparecem entre fevereiro e abril, são de uma cor amarelo-brilhante e encontram-se reunidas em capítulos que, por sua vez, estão agrupados em cachos, à semelhança da mimosa.

As  vagens são achatadas, retas a ligeiramente curvas e pouco contraídas entre as sementes.

11 acacias invasoras Portugal - como reconher

Fonte: Adaptado de Invasoras.pt

* Desenvolvido em colaboração com Maria Sousa

Maria Sousa é aluna da Licenciatura de Engenharia Florestal e dos Recursos Naturais, no Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa. Em 2024 integra a APEF – Associação Portuguesa de Estudantes Florestais, tendo o cargo de tesoureira.