Conhecer

Caso de Estudo

Alvares: resiliência ao fogo com ordenamento e gestão florestal

Em 45 anos registaram-se 42 incêndios rurais na freguesia de Alvares. A maior parte da área ardida resultou de grandes incêndios. O passado recente veio reforçar que o risco de grandes incêndios é elevado, mas não inevitável. Entre 2017 e 2018, um projeto-piloto demonstrou que há várias estratégias possíveis para que o território de Alvares aumente a resiliência ao fogo ao longo das próximas décadas. Conheça este caso de estudo.

Em junho de 2017, o grande incêndio de Góis (distrito de Coimbra) destruiu cerca de 6 mil hectares em Alvares, o equivalente a 60% da área da freguesia. Embora de grandes proporções, este não foi um acontecimento único: desde 1975, 42 incêndios rurais devastaram cerca de 20 mil hectares, ou seja, o correspondente a duas vezes a área da freguesia.

Várias zonas, principalmente no centro e nordeste de Alvares, arderam mais de três vezes nos últimos 40 anos. Cerca de 90% da área ardida resultou de 10 grandes incêndios, cada um com mais de mil hectares de área afetada.

Apesar deste histórico de incêndios, o elevado potencial produtivo deste território tem levado os proprietários a manter a aposta na produção florestal. Mas, se nada for feito, o rendimento estará comprometido, além da ameaça que incide sobre edificações e pessoas, com várias zonas de Alvares sob risco muito elevado em caso de incêndio.

A paisagem montanhosa de Alvares, com vales e cumes que se entrecruzam e fortes declives (só 8% da freguesia é relativamente plana), contribui para elevar o risco de incêndio e também a dificuldade do combate.

Evolução dos incêndios rurais em Alvares, 1975-2017

Case-Study-Alvares-gif

Fonte: CEF / Projeto “Alvares: um caso de resiliência ao fogo”.

PROJETO: “Alvares: um caso de resiliência ao fogo”

LOCALIZAÇÃO: Alvares, Góis


TEMAS

    • Incêndios Rurais
    • Gestão Florestal

Acesso Rápido


WEBSITE OFICIAL DO PROJETO

A freguesia de Alvares situa-se numa das principais regiões florestais de Portugal continental e tem um elevado potencial de produção de madeira, assim como uma grande diversidade de espécies florestais.

Fonte: CEF / Projeto “Alvares: um caso de resiliência ao fogo”.

O DESAFIO

Será possível mudar esta realidade em Alvares?

O CEF – Centro de Estudos Florestais, do ISA – Instituto Superior de Agronomia (Universidade de Lisboa), pensa que sim. A resposta foi dada pelo projeto “Alvares: um caso de resiliência ao fogo”, que traçou o diagnóstico das fragilidades e ameaças da freguesia e modelou várias estratégias com potencial de reduzir o número de grandes incêndios, a extensão da área ardida e o risco para as populações ao longo das próximas décadas.

Este projeto-piloto de reflorestação de Alvares nasceu pela mão do ISA e de um grupo de proprietários florestais da freguesia, envolvendo também uma vasta equipa técnico-científica e o apoio financeiro do Jornal Observador. Desenvolvido entre finais de 2017 e 2018, o projeto foi reconhecido, no ano seguinte, com o prémio “Floresta e Sustentabilidade” da CELPA, na categoria “Inovação e Ciência”.

O DIAGNÓSTICO

Uma realidade comum a muitas comunidades rurais

À semelhança da realidade encontrada em muitas outras localidades portuguesas, existem três fatores que se conjugam para explicar o histórico de incêndios e a área ardida em Alvares.

1. Alterações na paisagem e aumento da área florestal

A alteração das dinâmicas rurais e do uso do solo, com o abandono do modelo agro-silvo-pastoril tradicional – com pequena agricultura, pastagens e alguma floresta –, levou ao aumento da área florestal e de matos, o que resultou numa paisagem fechada e com combustíveis em continuidade.

A taxa de cobertura dos espaços florestais aumentou de 10% para 90% nos últimos 100 anos e na sua composição predominavam, antes do incêndio de 2017, densos eucaliptais e pinhais, que na maioria dos casos careciam de planos de gestão.

Floresta fechada e contínua em 90% da freguesia

Menos de 1/3 da floresta beneficia de gestão de combustíveis

2. Abandono rural e o envelhecimento da população

Desde 1960, Alvares perdeu 75% da sua população. Na freguesia viviam cerca de 812 pessoas (dados do INE, 2012) e 47% tinha mais de 65 anos de idade. Mais de metade era pensionista ou reformada e apenas 28% estava empregada.

Só cerca de um terço da superfície florestal tem proprietários residentes. A maioria vive em Coimbra ou Lisboa.

A freguesia de Alvares inclui 36 povoações de dimensões e número de habitantes variável: Cortes (com 208 pessoas, é a maior), Alvares (123) e Chã (95) reúnem 54% da população. Algumas povoações não têm residentes permanentes (como Boiça e Caniçal) e 31% têm menos de quatro habitantes.

812 habitantes, 47% com mais de 65 anos

2/3 dos proprietários não reside em Alvares

3. Fragmentação da propriedade e escassa gestão florestal

O minifúndio é comum em toda a região. A dimensão da propriedade é pequena e as parcelas são dispersas e fragmentadas. Em média, um proprietário em Alvares possui 5,8 terrenos (prédios/artigos rústicos), cada um com cerca de 0,5 hectares (5 mil metros quadrados) de área.

No total existem 2904 proprietários privados que detêm cerca de 90% da superfície florestal e duas empresas da indústria papeleira – Altri e The Navigator Company. Embora só 10% da área pertença à indústria, a floresta sob gestão das empresas representa 16%, incluindo 6% de área arrendada.

O facto de muitos proprietários residirem fora da freguesia dificulta a gestão florestal das suas parcelas, nomeadamente a limpeza de matos (gestão de combustíveis). Estimou-se que só cerca de 30% da floresta de Alvares tivesse algum tipo de gestão de combustíveis, com metade a ser assegurada pelas indústrias. Nas áreas não geridas, a acumulação de biomassa era muito elevada antes do incêndio de 2017.

A gestão florestal feita maioritariamente em pequena escala dificulta a valorização económica .

+2900 proprietários individuais detêm 90% da floresta

0,5 hectares de área média em cada parcela florestal

Como referido, este diagnóstico tem pontos comuns com grande parte das áreas rurais portuguesas. Por essa razão, torna-se ainda mais relevante partilhar o conhecimento do projeto-piloto de Alvares com outras comunidades e entidades nacionais – em particular, com os 19 municípios que integram o Pinhal Interior. Esta é uma área com cerca de 452 mil hectares (16% da região Centro) e uma população residente que rondava, em 2015, 161 mil indivíduos (7,1% da região Centro). À semelhança de Alvares, nestes municípios a área de floresta e matos é superior a 70% do território e predominam os povoamentos de pinheiro bravo e eucalipto.

O responsável pela extensão dos fogos é a falta de gestão florestal, sublinhou José Miguel Cardoso Pereira, coordenador deste projeto ao jornal Observador, alertando para a extensão e continuidade da biomassa acumulada, que funciona como combustível em caso de incêndio. Para ele não são as espécies de árvores escolhidas o fator mais importante para a ocorrência de incêndios, mas a existência de matos altos.

Fonte: CEF / Projeto “Alvares: um caso de resiliência ao fogo”.

OBJETIVOS E MEDIDAS

O que fazer para alterar esta realidade?

Para diminuir a vulnerabilidade aos incêndios rurais há que reduzir a frequência da ocorrência de fogos, tornar a floresta numa fonte de rendimento atrativa para os proprietários, promover a gestão ativa, apoiar o fortalecimento da economia local e melhorar a segurança da população.

Estes objetivos requerem uma atuação em três grandes eixos: ordenar a paisagem, intensificar a gestão florestal e promover a segurança de pessoas e bens.

É preciso diversificar a composição da floresta e estimular a produção florestal, mas também investir na abertura da paisagem, criando áreas com menos vegetação. A compartimentação do território e a criação de faixas de proteção, que salvaguardem habitações e núcleos sociais, podem funcionar como barreiras em caso de incêndio, garantindo também o acesso dos sapadores a toda a freguesia, mesmo às zonas mais remotas.

Neste sentido, determinaram-se quatro medidas essenciais:

– Manter a produção florestal como a principal fonte de rendimento, mas diversificar as fontes de receita.

Alvares tem condições favoráveis para a produção florestal. Além do pinheiro, do eucalipto e dos carvalhos, encontram-se outras espécies pertencentes à vegetação natural da região, como o medronheiro, o castanheiro e o vidoeiro/bétula. Existem também excelentes condições naturais para melhorar ou instalar novas pastagens, garantindo assim boas condições para o gado doméstico e para a fauna bravia. A diversificação das espécies permite diferentes usos e a possibilidade de considerar outras fontes de receitas como o turismo, a caça ou a pesca.

– Abrir a paisagem para assegurar espaços livres.

O projeto aconselha que 30% do território não tenha povoamentos florestais, criando espaços abertos à volta das povoações como medida de defesa de pessoas e património e de compartimentação da paisagem. Recomenda-se a criação de uma rede primária de áreas abertas nas cumeadas da freguesia, a qual deve ser mantida regularmente para assegurar que a biomassa não se acumula. Os proprietários impedidos de plantar nestas áreas – ou seja, os que cedem parte dos seus terrenos para criação da rede primária – deverão ser compensados da sua perda produtiva.
Estas medidas ajudam a reduzir a propagação das chamas e a assegurar o acesso dos sapadores em caso de incêndio.

– Diversificar a composição da floresta, de modo a que nenhuma espécie florestal represente mais de 70% da área total arborizada da freguesia.

A escolha das espécies mais interessantes para a floresta de Alvares deverá estar associada a projetos de arborização definidos com base em dados relativos ao solo (pedologia), relevo e clima, assim como a dados silvícolas e a objetivos de gestão. Para referência, o Dossier Técnico do Projeto apresenta uma tabela com um grupo de espécies a considerar. Na lista constam espécies protegidas como o azevinho (Ilex aquifolium), a azinheira (Quercus rotundifolia) e o sobreiro (Quercus suber); espécies a privilegiar, como o medronheiro (Arbustus unedo), o castanheiro (Castanea sativa), o carvalho-alvarinho (Quercus robur), o cipreste-do-buçaco (Cupressus lusitanica) ou a cerejeira-brava (Prunus avium) entre outras, nativas e exóticas (como por exemplo plátanos, ciprestes, eucaliptos, pseudotsugas e abetos).

– Aplicar modelos de silvicultura e de organização do espaço adaptados às condicionantes das áreas mais sensíveis do ponto de vista ecológico ou paisagístico.

Em Alvares existem áreas de proteção de habitats e espécies sujeitas a regimes especiais de gestão, como o sítio Serra da Lousã na Rede Natura 2000. Nestas áreas, além das margens das linhas de água, há necessidade de medidas de salvaguarda das funções de conservação e proteção da floresta.

Considerados estes requisitos, o restante território da freguesia tem condições para a produção florestal – essencialmente produção de madeira –, de acordo com técnicas silvícolas adequadas à conservação do solo e da água (em especial nos terrenos de maior declive), à preservação das linhas de água e à diversificação de habitats.

O futuro da freguesia de Alvares – e de tantas outras com características semelhantes – depende da recuperação ecológica e económica da área ardida e da gradual transformação da paisagem, para a tornar mais resiliente aos incêndios florestais. Isto só é possível com modelos de silvicultura e de organização da paisagem alinhados com os objetivos da gestão florestal, de modo a que o rendimento compense a gestão e conservação, como refere o relatório técnico “Alvares – um caso de resiliência ao fogo ”.

Importa aumentar a área florestal gerida em Alvares e estimular os proprietários não-industriais a gerir os seus povoamentos de acordo com uma estratégia comunitária de médio-longo prazo, definida à escala da paisagem.

A criação de uma ZIF – Zona de Intervenção Florestal é considerada fundamental para agilizar a ação concertada do grande número de proprietários florestais e, assim, aumentar a área gerida. Trata-se de agregar as propriedades, facilitando a gestão florestal em larga escala.

Refira-se que 40% dos proprietários revelaram uma atitude favorável à eventual delegação da gestão florestal numa entidade comum. Os resultados constam de um inquérito a 221 proprietários, que representam 35% da área de floresta.

Manter a produção florestal como a principal fonte de rendimento enquanto se diminui a área produtiva (deduzidas as áreas destinadas a espaços livres) implica a intensificação da gestão florestal e o aumento da produtividade dos povoamentos, através da adoção de melhores práticas silvícolas. A redução do risco de incêndio, através da redução das cargas e continuidade de combustível, ajudará também a aumentar a rendibilidade florestal de forma indireta.

O nível de risco das povoações depende da exposição ao incêndio – probabilidade de um incêndio ocorrer e atingir a povoação – e da vulnerabilidade da população em caso de incêndio, sobretudo tendo em conta o perfil envelhecido. Depois de identificar as povoações com maior risco de incêndio e as possíveis consequências, é essencial definir prioridades nas intervenções de emergência e socorro.

Da análise efetuada no projeto, concluiu-se que metade das povoações apresentavam risco “alto” e “muito alto”, com elevada probabilidade de serem severamente atingidas por um grande incêndio e com muitos elementos expostos ao risco (pessoas e edifícios). Em paralelo, verificou-se que só 40% das povoações tem um edifício com condições para servir de abrigo comunitário em caso de incêndio, ao qual todos cheguem em até 20 minutos.

Recomendou-se, assim, a implementação de medidas de segurança através da adaptação ou criação de locais de abrigo, da definição e sinalização de vias de evacuação das populações, da definição de protocolos de evacuação (a treinar em simulacro) e da adoção de comportamentos de autoproteção.

Fonte: CEF / Projeto “Alvares: um caso de resiliência ao fogo”.

RESULTADOS / PROJEÇÕES

Menos incêndios, mais segurança para as pessoas e maior produtividade florestal

O projeto estudou diferentes cenários, que contemplam níveis variados de implementação das medidas acima propostas, o que se traduz em diferentes escalas de resultados. No entanto, para todos eles, os resultados são mais favoráveis do que a alternativa de não fazer nada.

Explore as projeções do projeto Alvares, por tema, através dos três separadores:

Pessoas mais seguras: número de povoações com risco “alto” e “muito alto” de incêndio reduz-se de 17% a 33%

O ordenamento da paisagem – especialmente a implementação de espaços abertos (compartimentação do território) e a gestão – reduz a exposição ao incêndio, diminuindo a probabilidade de que chegue às povoações. O risco associado à vulnerabilidade da população é mais difícil de gerir, devido ao perfil sociodemográfico da população (idade e nível de instrução, por exemplo). Este mantém-se, independentemente das intervenções que sejam efetuadas, pelo que as medidas propostas têm um impacte mais evidente na redução da exposição do que na redução do risco.

A opção mais eficiente na redução do risco de incêndio é a que combina a implementação da rede primária de áreas abertas com uma gestão florestal moderada. Nas povoações com risco “muito alto” de incêndio, esta opção pode levar a uma redução no risco de até 80%.

De um modo geral, a implementação das propostas deste estudo permitiria uma redução de 17% a 33% no número das povoações identificadas com um risco “alto” e “muito alto” de incêndio, caso as intervenções de compartimentação do território (com, pelo menos, o primeiro e segundo troços de rede primária implementados) e de intensificação da gestão florestal forem combinadas.

Acréscimos de rendibilidade florestal e de retorno para proprietários e sociedade

As propostas de implementação da rede primária e de intensificação da gestão florestal têm um impacte considerável no aumento do rendimento para os proprietários florestais privados e no aumento dos benefícios económicos externos para a sociedade, nos próximos 36 anos.

Se não houver alterações na gestão e considerando que haverá incêndios, nos próximos 36 anos a floresta irá render à freguesia cerca de 0,5 milhões de euros, correspondendo à produção de cerca de 1 milhão de m3 de madeira de eucalipto. Contudo, se os proprietários industriais conseguem ter lucro, os restantes proprietários terão prejuízo, porque com operações silvícolas em terrenos muito pequenos e sem escala de atuação (escala esta que seria viável através de uma ZIF ou de outro formato de cooperação), o valor da madeira não cobre os custos. Na mesma situação de gestão, mas considerando a hipótese de não haver incêndios florestais, ao fim dos 36 anos a mesma madeira iria render à freguesia 5,3 milhões de euros (e não 0,5 milhões).

Num cenário de intensificação da gestão florestal, gerindo mais 15% (gestão moderada) ou 30% (gestão elevada) de área, os aumentos de rendimento médio projetados variam entre os 220% e os 308%, podendo a freguesia obter um máximo de 2 milhões de euros de retorno da venda de madeira.

Os diferentes níveis de implementação e extensão de faixas da rede primária também influenciam os resultados. Foi estudada uma rede total com uma área de 1220 hectares, com diferentes extensões e prioridades: principal – P1 correspondeu à execução de um terço da rede (cerca de 450 hectares); intermédio – P2 incluiu a execução de dois terços da rede (cerca de 900 hectares); e integral – P3, que englobou a totalidade da rede. O aumento da rendibilidade florestal varia entre 100% e 393%, dependendo do nível da rede implementada e da intensificação da gestão. O valor mais elevado, correspondente a um rendimento de venda de madeira de 2,5 milhões de euros, implica a implementação da rede prioritária P1 e um aumento em 30% da área florestal gerida (mais 300 hectares por ano).

O retorno não será igual para todos os proprietários não-industriais e só os que apliquem uma “gestão completa”, baseada na adequada instalação de povoamentos com recurso a material genético melhorado, fertilizações, gestão de combustível frequente e controlo de pragas (práticas semelhantes às da gestão industrial) irão beneficiar do aumento da rendibilidade.

Variação de rendibilidade florestal à escala da freguesia, em função de diferentes cenários de gestão e extensões da rede primária, nos próximos 36 anos.

Case-Study-Alvares-gráfico

* Sem incêndios florestais, o valor da venda da madeira passaria de 0,5 milhões de euros para 5,3 milhões de euros
** Se a gestão florestal dos proprietários não industriais passasse a ser conjunta, com subcontratação agrupada de operações silvícolas, a rendibilidade passaria de 2,5 milhões de euros para 4,6 milhões de euros.

Fonte: CEF / Projeto “Alvares: um caso de resiliência ao fogo”.

O custo das operações florestais continua a ter um grande peso no saldo médio de cada proprietário não-industrial. Com uma gestão florestal conjunta e subcontratação de operações silvícolas de forma agrupada, a opção mais rentável de implementar – os 450 hectares da rede com prioridade mais alta (P1) e uma gestão elevada – poderia render 4,6 milhões de euros em vez dos 2,5 milhões de euros – mesmo considerando a ocorrência de incêndios.

Número de grandes incêndios pode diminuir 30%, com menos 37% de área ardida

No melhor cenário previsto, em que toda a rede primária é constituída e a gestão florestal é intensificada a níveis elevados, a área ardida em Alvares poderá reduzir-se em 37% durante os próximos 36 anos. A esta combinação corresponde também uma redução de 30% na probabilidade de ocorrência de grandes incêndios (os de dimensão superior a mil hectares ) e uma diminuição de cerca de 40% na emissão de gases com efeito de estufa.

Partindo do princípio de que os próximos 36 anos são semelhantes aos últimos 36, esta redução de 37% equivale a dizer que se poderia evitar a devastação pelo fogo de uma área equivalente ao total ardido entre 2003 e o final de 2017 em Alvares: 86 km2 que correspondem a cerca de 86% da área da freguesia.
Além dos impactes diretos na freguesia, importa ainda ter presentes os impactes positivos, embora indiretos, na redução da área ardida nas freguesias vizinhas.

Existem soluções intermédias com resultados igualmente positivos. Por exemplo, ao combinar apenas a implementação do troço prioritário da rede primária (cerca de 33%) com um aumento da gestão florestal a um nível moderado (em vez de elevado), a área ardida no futuro poderia reduzir-se em 26%.

A implementação de medidas de gestão e ordenamento de paisagem é essencial. Se nada for feito, Alvares continuará exposto a incêndios, com a perda de vastas extensões de floresta, património e vidas humanas.

Em conclusão, as propostas apresentadas no âmbito do projeto têm benefícios ambientais, sociais e económicos, que podem resultar em ganhos líquidos superiores a dois milhões de euros nos próximos 36 anos. Como termo de comparação, importa lembrar que só o incêndio de junho de 2017 provocou no concelho de Góis perdas e danos estimados pelas autoridades competentes em cerca de 20 milhões de euros. Quanto à resiliência ao fogo, o principal desafio do projeto, as projeções são também positivas, com uma diminuição de até 37% de área ardida.

Para conhecer o projeto em detalhe, consulte o Relatório Técnico.