Os cinco países mediterrânicos cujo clima e a geografia mais se assemelham (Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia) foram os que viram mais território afetado por incêndios nos últimos 20 anos. Espanha foi o país com mais área ardida nos anos 80 e 90, mas desde 2000 que a área ardida em Portugal ultrapassou os registos do país vizinho. Entre 2000 e 2019, Portugal foi o país europeu (EU-27) com mais extensão de território ardido, segundo o European Forest Fire Information System (EFFIS).
Para este lamentável recorde contribuíram em particular os anos de 2003, 2005 e 2017 com vastas extensões de área ardida em Portugal, intercalados por anos de registos muito baixos, como sucedeu em 2007, 2008 e 2014, em que a área ardida nacional ficou muito abaixo de outros países mediterrânicos.
Os anos em que se regista maior área ardida em Portugal têm algo em comum: os incêndios mais devastadores ocorrem em larga maioria em dias de condições meteorológicas extremas. “A área ardida neste tipo de condições corresponde à quase totalidade da área ardida, em particular nos anos em que mais arde”, assinala um estudo do Observatório Técnico Independente (dezembro de 2020), que alerta: “São, na realidade, os dias de condições meteorológicas extremas que nos devem preocupar (…)”. Estes dias caracterizam-se por baixos valores de humidade do ar e de elevadas temperatura e velocidade do vento.
Segundo a análise efetuada, 91% do total da área ardida em Portugal em 2003 corresponde a incêndios em dias de condições meteorológicas extremas. A história repete-se em 2005, ano em que 92% da área ardida aconteceu nestas mesmas condições, e de novo em 2017, em que dos 540 mil hectares ardidos perto de 508 mil (94%) correspondem aos 72 dias de condições extremas. Recorde-se que as “condições extremas” são a classe mais elevada do índice de severidade meteorológica DSR – Daily Severity Rating, medida considerada a mais representativa da dificuldade em combater um incêndio.
Não é, por isso, de estranhar que cerca de 54% da área ardida em Portugal em 2017 tenha ocorrido durante uma onda de calor e de ventos fortes causados pelo furacão Ophelia, já em outubro, numa altura em que o país se encontrava já em situação de seca. Neste que foi o mais dramático incêndio de que há registo em Portugal, o território nacional devastado pelo fogo representou 41% de toda a área ardida na Europa.