Conta-se que uma princesa nórdica, casada com um rei mouro, adoeceu de tristeza porque no Algarve, onde viviam, lhe faltava o manto branco de neve da sua terra. Mas esta tristeza desvaneceu-se quando se deparou com a beleza dos campos cobertos de branco, não pela neve, mas pelas pétalas das amendoeiras em flor que nasciam em pleno inverno.
A lenda mourisca das amendoeiras em flor é apenas uma das muitas histórias que cruzam esta espécie, que romanos, visigodos e muçulmanos já cultivavam na Península Ibérica. Com a Reconquista Cristã, esta cultura continuou a ser feita por leoneses, castelhanos e aragoneses (espanhóis), que consideraram a amendoeira tão viril que lhe deram um nome masculino, Almendro. Já os portugueses, encantados pelas amendoeiras em flor e “seduzidos pela cor branca florida, ou rosada, a compararam à delicadeza feminina, chamando-lhe amendoeira”, conta o professor e historiador Adriano Vasco Rodrigues, em “Amendoeira: sua história e influência cultural”.
Não é, por isso, de estranhar que a amêndoa integre a dieta mediterrânica desde tempo remotos e que, em especial nas regiões onde a amendoeira tem maior presença, se multipliquem as suas aplicações gastronómicas e perdurem mitos e tradições em torno da amêndoa e da amendoeira, cujo florescer antecipado é símbolo de fertilidade e de renascimento em diferentes culturas, assim como inspiração para inúmeros artistas.