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Saúde e Bem-estar

Banhos de floresta: 6 razões para experimentar

Os japoneses têm uma longa tradição de viver em harmonia com a floresta. Nos anos 80 do século XX, para combater os altos níveis de stress, começaram a apurar este antigo costume com a prática do shinrin yoku (shinrin significa floresta, yoku é banho). Hoje, os banhos de floresta são uma terapia com conhecidos benefícios para a saúde.

Os “poderes curativos” da floresta não se devem a nenhum efeito mágico ou sobrenatural e vários estudos científicos, desenvolvidos por diferentes equipas na Ásia, Europa e EUA –reunidos pela Associação Nature & Forest Therapy – evidenciam que há pelo menos seis razões para experimentar os banhos de floresta:

1. Reduzem o Stress, e os vários sintomas que lhe estão associados, desde ansiedade, a dores de cabeça, alergias, tensão e fadiga.

 

2. Diminuem o ritmo cardiáco e a tensão arterial, dois indícios presentes nas doenças que mais matam em Portugal: as cardiovasculares.

 

3. Reforçam o sistema imunitário, aumentando a resistência do nosso corpo contra as doenças e a sua capacidade de lutar contra elas, e dimunuem o tempo de convalescença.

4. Preservam reservas de energia, reforçando a capacidade física, resistência e vitalidade.

 

5. Melhoram a concentração, essencial às capacidades de aprendizagem, produtivas e criativas.

 

6. Contribuem para o relaxamento e a melhoria do sono, dando ao nosso corpo e mente o descanso de que necessitam para se manter saudáveis.

Em Portugal já é possível experimentar os banhos de floresta, com acompanhamento especializado. É o caso do Instituto de Banhos de Floresta Portugal, uma empresa de turismo de natureza que organiza workshops, passeios na floresta e até programas de imersão para empresas.

Como é que a floresta causa alterações fisiológicas?

Da psicologia à imunologia, as conclusões indicam: os estímulos dos banhos de floresta têm efeitos fisiológicos e psicológicos positivos.

A redução dos níveis de stress, ritmo cardíaco e tensão arterial é associada à diminuição da produção de algumas hormonas, reduzindo-se a libertação de químicos, como o cortisol, que nos deixam em estado de alerta permanente, ou seja, em stress.

Como o sistema de resposta aos estímulos que desencadeiam o stress deixa de ser constantemente ativado, a atividade do sistema nervoso simpático (responsável pelas reações de resposta que nos desgastam) diminui, reduzindo o metabolismo do nosso corpo, o que se traduz numa diminuição da adrenalina, dos batimentos cardíacos, da tensão arterial e até do açúcar no sangue.

Por sua vez, os banhos de floresta estimulam a atividade do sistema nervoso parassimpático, conservando a energia que seria inutilmente desperdiçada, melhorando o humor, a concentração, a digestão, a capacidade de relaxar, descansar e dormir, assim como o sistema imunitário.

A prática pode ainda promover um aumento do número das células que constituem a linha da frente da defesa do nosso corpo contra as doenças (um tipo de linfócitos citotóxicos conhecido como killer cell), como sugere um estudo de 2007 da Nippon Medical School. Uma das explicações avançadas é que a multiplicação destas células é estimulada pelos fitocidas, químicos produzidos naturalmente pelas árvores para se defenderem de ataques de microrganismos.

Outros estudos avançam que os banhos de floresta podem ajudar no tratamento de doenças, incluindo a diabetes, assim como no combate ao cancro, como refere a revisão sistemática da literatura sobre o tema, publicada na Environmental Research, em 2018. Neste último caso, pensa-se que o aumento da atividade dos linfócitos ajuda o sistema imunitário a reconhecer e destruir mais eficazmente as células tumorais.

Receitas de floresta e natureza

A estes benefícios somam-se os psicológicos, igualmente reconhecidos pelas autoridades de saúde de vários países, que têm vindo a incluir nos seus cuidados preventivos e terapêuticos os banhos de floresta.

O Japão foi pioneiro, até porque esta é uma estratégia chave para combater o Karoshi (morte causada pelo excesso de trabalho), responsável pelo desaparecimento de muitos nipónicos. As questões laborais sobre o Karoshi contribuíram para mais de 2000 suicídios no Japão, em 2015, de acordo com dados citados no primeiro White Paper do governo japonês. Outros países se seguiram, a exemplo da Escócia, onde as “Prescrições de Natureza” são já uma realidade.

Estudiosos sem relação com o movimento shinrin yoku também apontam a natureza e a floresta como formas de equilíbrio. É o caso do jornalista e escritor norte-americano Richard Louv, que fala de conceitos como o “transtorno de défice de natureza” e a “vitamina N” (N de natureza) para relacionar várias desordens diagnosticadas às crianças e jovens urbanos imersos em tecnologias, desde o défice de atenção à obesidade, com a falta de contacto com a natureza.

Estas abordagens levaram à constituição da organização não-governamental Children and Nature Network e têm contribuído para alertar pediatras, professores, educadores e arquitetos para novas formas de ajudar a prevenir e tratar algumas doenças infantis cada vez mais prevalentes nos chamados países desenvolvidos.

“Quanto mais tecnológicos nos tornamos, de mais natureza necessitamos.” É este o alerta de Richard Louv, para quem “o futuro pertencerá aos indivíduos, famílias, empresas e líderes políticos que conseguirem ter um profundo entendimento sobre o poder do mundo natural e que saibam como equilibrar o virtual com o real”.