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Árvores Monumentais

Carvalho de Calvos, a árvore centenária que inspira educação ambiental

Ao longo de mais de 500 anos de história, o carvalho mais antigo da Península Ibérica não teve uma vida fácil. Possui uma cratera na base que chegou a ser revestida por cimento, teve ramos amputados por doença e sobreviveu a fogueiras. Ainda assim, o Carvalho de Calvos manteve o porte e a beleza. Hoje é valorizado como património único do concelho e do país e deu até origem a um centro de educação ambiental.

Conhecido também como Carvalha Grossa, Carvalha da Tojeira ou de Fondoua, é por Carvalho de Calvos que este carvalho-alvarinho (Quercus robur L.) ganha maior notoriedade, aproveitando o nome da povoação onde assenta raízes: Calvos, em Póvoa de Lanhoso.

Com mais de 500 anos – verificados por um estudo de datação feito em 2011, através do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, segundo informação prestada pelo Centro de Interpretação do Carvalho de Calvos ao Florestas.pt –, este é o exemplar de Quercus robur mais antigo da Península Ibérica. Considera-se, ainda, que é o segundo mais antigo da Europa.

Apesar da idade respeitável, esta árvore continua a apresentar um porte altivo e uma copa robusta. E, mesmo perante a falta de material lenhoso na base do tronco, o Carvalho de Calvos chega já a uma altura aproximada de 30 metros. O perímetro do tronco na base é de 11,5 metros, segundo as medições oficiais do Registo Nacional de Arvoredos de Interesse Público, que remontam a 2015.

Ao longo do tronco, ramos e folhas, esta árvore serve de “residência” a vários seres vivos. O mais icónico é a vaca-loura (Lucanus cervus), a maior espécie de escaravelhos existente em Portugal. Estes insetos, que são uma espécie protegida, dependem de árvores antigas, sobretudo de folha caduca, como é o caso do carvalho-alvarinho.

Em 2019, este carvalho imponente da Póvoa de Lanhoso foi um dos finalistas na competição pelo título de Árvore Portuguesa do Ano. A votação pública garantiu-lhe o sexto lugar no ano em que a Azinheira Secular do Monte Barbeiro ganhou a competição nacional – e representou depois Portugal na final europeia.

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© Câmara Municipal de Póvoa de Lanhoso

Contemporâneo da era dos Descobrimentos, o Carvalho de Calvos está classificado como Árvore de Interesse Público desde 22 de agosto de 1997.

Visitar o Centro de Interpretação do Carvalho de Calvos

Nos últimos 15 anos, a importância local desta árvore ganhou nova força, através das atividades do Centro de Interpretação do Carvalho de Calvos (CCIC). Inaugurado em 2005, na mesma propriedade onde se encontra o Carvalho – que foi adquirida a privados pelo município da Póvoa de Lanhoso –, este espaço promove a educação e a sensibilização ambiental, incentivando a uma utilização mais responsável dos recursos naturais.

A ligação ao Quercus robur centenário é, naturalmente, um dos principais focos do CCIC. O centro foi criado como um espaço de apoio à interpretação do Carvalho de Calvos, assim como dos ecossistemas envolventes, com o objetivo de divulgar a importância deste exemplar. Nesse sentido, o Carvalho é também o tema de um dos três blocos de exposições permanentes existentes no CICC. Os outros dois são dedicados aos ecossistemas florestais e ao botânico e etnógrafo Gonçalo Sampaio, natural da povoação de Calvos. O espaço promove ainda visitas técnicas e diversas outras atividades para escolas, turistas e famílias.

© Câmara Municipal de Póvoa de Lanhoso

A árvore histórica e o centro de interpretação podem ser encontrados no Parque do Carvalho de Calvos. Com uma área de 3,1 hectares, o espaço convida a passeios pela natureza. É também possível observar uma horta social dedicada à agricultura biológica, um canteiro de plantas aromáticas e medicinais, um parque de merendas e diversas instalações criadas por artistas nacionais e internacionais no âmbito das residências artísticas de “Ecoarte”, que promoveram sinergias entre ecologia e arte.

Com esta iniciativa, o Carvalho de Calvos tornou-se inspiração para a sensibilização ambiental de vários públicos e o protagonista de um espaço de lazer e cultura municipal. Por vezes, são precisamente as árvores que nos deixam ver (melhor) a floresta e a natureza.