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Árvores Monumentais

Cedro-do-buçaco do Príncipe Real: a primeira árvore classificada em Lisboa

O cedro-do-buçaco do Príncipe Real é a mais antiga árvore classificada na capital portuguesa pelo reconhecimento do seu interesse público. Os seus 150 anos de idade comprovam a resiliência desta árvore, admirada por lisboetas e turistas, mas que já foi objeto de atos de vandalismo e até de fogo posto.

Uma das mais emblemáticas árvores da cidade de Lisboa é o cedro-do-buçaco do Príncipe Real, classificado desde 1940 como árvore de interesse público (D.G. nº 34 II Série de 12/02/1940), o que faz dela a primeira da capital a obter este reconhecimento.

Com sete metros de altura e uma configuração invulgar, o monumental e secular cedro-do-buçaco do Jardim do Príncipe Real é, na realidade, um cipreste (Cupressus). Se a sua denominação pode enganar os mais distraídos, o mesmo acontece com o seu nome científico Cupressus lusitanica. É que, apesar de a sua designação sugerir tratar-se de uma espécie portuguesa, o cedro-do-buçaco é uma árvore originária das montanhas do México e da Guatemala.

Embora menos frondosa do que outrora, a árvore tem uma copa em forma de caramanchão, com 30 metros de diâmetro médio. O perímetro do tronco na base é de quatro metros, conforme a última medição do Registo Nacional de Arvoredos de Interesse Público, que data de 2015.

Cedro-do-buçaco do Príncipe Real: 150 anos de admiração e provações

Os 150 anos de idade e as suas características únicas valeram-lhe, de entre os milhares de árvores da capital portuguesa, um lugar no grupo restrito da lista do Arvoredo com Interesse Público, estatuto que lhe foi conferido pelo ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (Refª. AIP11066143I).

A classificação de Arvoredo com Interesse Público distingue exemplares que se destacam pela sua raridade, porte, longevidade, importância histórica, significado cultural ou enquadramento paisagístico, sendo partilhada com outros três exemplares no mesmo jardim – Jardim França Borges, nome oficial do Jardim do Príncipe Real.

Apesar de serem proibidas quaisquer intervenções que possam destruir ou danificar o frondoso cedro-do-buçaco do Príncipe Real – proibição patente no Despacho (extrato) n.º 8496/2018 – ao longo dos anos esta árvore foi alvo de vários atos de vandalismo e até de fogo posto, que lhe provocaram graves danos.

O seu fim já foi vaticinado por diversas ocasiões, mas a árvore permanece como ex-libris deste local. Debaixo da sua copa funcionou uma biblioteca camarária nos anos 30 do século XX. A árvore inspirou também o livro de contos “Debaixo do Cedro” e serviu de cenário num filme de João César Monteiro e Joaquim Sapinho. Hoje, a copa desta árvore está amparada por uma estrutura metálica e o seu tronco protegido por uma cerca. Apesar destas proteções, são muitos os que não resistem a saltar a cerca ou pendurar-se nos seus ramos, alheados dos cuidados que merece este cedro-do-buçaco.

O jardim romântico, oficialmente designado por Jardim França Borges, nome atribuído em 1915 em honra do fundador do jornal O Mundo, assenta sobre o reservatório de águas subterrâneas da Patriarcal, construído em 1864, para integrar o abastecimento de água a Lisboa a partir do Aqueduto das Águas Livres. É conhecido como Jardim do Príncipe Real, em homenagem a D. Pedro V, filho primogénito da rainha D. Maria II.

Além do cedro, que é na realidade um cipreste, neste jardim foram plantadas outras espécies de árvores que têm atualmente um porte majestoso. Uma das mais altas é a araucária-colunar (Araucaria columnaris) com cerca de 140 anos e 30 metros de altura (KNJ1/102). Perto dela encontram-se três figueiras-da-austrália ou árvores-da-borracha (Ficus macrophylla), com a mesma idade e que se destacam pelas suas dimensões e raízes aéreas (AIP11066145I, AIP11066144I e AIP11066142I).

Cedro do Bucaço

Uma das três árvores-da-borracha do Jardim França Borges

Um equívoco na origem do nome cedro-do-buçaco

A designação Cupressus lusitanica advém do facto de a classificação inicial desta espécie ter sido feita a partir de exemplares provenientes de Portugal, onde foi introduzida no século XVII. O seu classificador, Philip Miller, que não conhecia o país de origem da espécie, fez a sua classificação formal em 1768, atribuindo-lhe o epíteto de lusitanica.

O erro na designação foi repetidamente cometido em diversas publicações anglo-saxónicas, desde o século XVIII, pelo que a árvore ficou conhecida na língua inglesa por Cedar-of-Goa (Cedro-de-Goa). No nosso país, o cedro-do-buçaco é também conhecido como cipreste-de-Portugal ou cipreste-do-Buçaco.

Em Portugal, o cedro-do-buçaco encontra condições ecológicas excecionais, como se pode comprovar pelos inúmeros exemplares monumentais existentes no nosso país, nomeadamente na Mata do Bussaco.