Descobrir

Árvores Monumentais

Gigantes da floresta: dimensões e habitats fascinantes

Entre as árvores mais altas do mundo estão as sequoias e duas espécies de eucaliptos. O fascínio por estas gigantes da floresta poderia justificar-se pelo seu impressionante porte, mas além de colossais, estas “grandes e velhas” árvores têm vindo a revelar-se como importantes abrigos para muitos organismos vivos.

Além de fascinantes pela sua dimensão, as gigantes da floresta destacam-se também como importante abrigo de biodiversidade, tanto pelo seu porte como pela sua respeitável idade. Para atingirem estas dimensões, é preciso tempo e ao longo da sua vida – que se pode prolongar por vários séculos -, estas “grandes e velhas” árvores vão dar origem a uma vasta diversidade de habitats, comparativamente aos proporcionados por árvores mais jovens e de menor tamanho.

“Importantes componentes das comunidades florestais, incluindo mamíferos, aves, artrópodes e epífitas, aumentam com frequência a sua abundância e diversidade em fases avançadas do desenvolvimento dos povoamentos, pois requerem estruturas ou substratos que emergem devagar, à medida que as árvores crescem”. É esta a nota que introduz o trabalho de um grupo de investigadores que passou 30 meses a estudar e a monitorizar um hectare de floresta rico em sequoias gigantes no Prairie Creek Redwoods State Park, na Califórnia, Estados Unidos, com o objetivo de documentar detalhadamente as estruturas das árvores ali existentes e os habitats que proporcionam.

arvores_gigantes_interior_1

Para medir e documentar gigantes da floresta, como esta Sequoia sempervirens, nos EUA, e este Eucalyptus regnans, na Tasmânia, têm sido feitas várias escaladas ao topo das copas.

Alguns destes habitats estão relacionados com os danos e recuperações que as árvores vão experimentando ao longo da sua vida e outros com a multiplicidade, número e dimensão de ramos e galhos nas suas copas. Como as sequoias são árvores de grande longevidade e resistência, os danos naturais (desde vento ao fogo) vão criando cavidades – zonas de acumulação de madeira morta e de retenção de água – que formam um “laboratório” diversificado de condições naturais. Para se ter noção desta complexidade, basta perceber que só em cinco destas gigantes da floresta viviam 85 espécies de ácaros e muitos outros invertebrados, incluindo, por exemplo, insetos e aranhas.

Também os grandes eucaliptos que se erguem nas montanhas do sudeste da Austrália e da Tasmânia (os mais altos são, na maioria, Eucalyptus regnans, que atingem a idade adulta por volta dos 350 anos e podem ultrapassar os 100 metros de altura) têm comprovado valor enquanto habitat para inúmeros mamíferos, aves e marsupiais que dependem, particularmente, das cavidades proporcionadas pelos troncos e ramos.

arvores_gigantes_grafico

(clique para aumentar a imagem)

Com alturas que rivalizam com o Cristo Rei, o Big Ben ou a Torre dos Clérigos, entre as árvores mais altas do mundo estão: uma Sequoia semprevirens batizada como Hipérion (titã da mitologia Grega), localizada num parque florestal californiano e que se estima ter entre 600 e 800 anos e 116 metros de altura; um Eucalyptus regnans batizado como Centurião, localizado na Tasmânia com perto de 100 metros e entre 350 e 400 anos de idade; uma Sequoiadendron giganteum, de nome General Sherman, que é a maior sequoia em termos de volume – 1591 m3 medidos em 2013 – e mede 84 metros de altura e tem cerca de 2000 anos; e o português Eucalyptus diversicolor, também conhecido como Karri, com 73 metros de altura e cerca de 140 anos, considerado a árvore mais alta da Europa.

Recorde-se que a Sequoia sempervirens, natural da pequena faixa litoral no Oeste dos Estados Unidos (junto ao Oceano Pacífico), é uma conífera perene (que produz pinhas e não perde as suas folhas nas estações frias), com uma copa em forma de pirâmide. Curioso é que, apesar do seu tamanho, as pinhas que produz são mais pequenas do que as dos pinheiros comuns em Portugal: não ultrapassam os três centímetros. Os Eucalyptus regnans, como outros das centenas de espécies que integram o mesmo género, também são árvores perenes de origem distante – sudeste da Austrália (Vitória) e Tasmânia.

Importância dos microhabitats das gigantes da floresta também em Portugal

arvores_gigantes_interior_2

Viajar até aos Parques da Califórnia ou às florestas da Tasmânia, para ver de perto estas gigantes da floresta, é um apelo para os amantes da natureza. Mas não é preciso ir tão longe para encontrar grandes e antigas árvores com elevado valor ecológico, pois existem por todo o território nacional.

Apesar de pouco comuns em Portugal, também por terras lusas temos grandes Sequoia sempervirens e Eucalyptus regnans. Nos jardins do Hotel do Bussaco, por exemplo, há uma sequoia com 57,3 metros e é ali que fica também o maior Eucalyptus regnans do país, com 64,9 metros.

A sua importância é destacada pelo projeto português Gigantes Verdes, que desde janeiro de 2018 está a identificar as árvores de grande porte para as conhecer e poder preservar, dado o seu elevado interesse ecológico.

Neste caso são consideradas todas as árvores cujo perímetro do tronco ultrapasse o metro e meio (quando medido à altura do peito ou a 1,3 metros do solo) e nem todas são gigantes da floresta, pois várias estão na cidade, em jardins privados de antigos solares, por exemplo.

A grande maioria das árvores com este porte terá uma idade elevada e acumularam um grande número de “cicatrizes” – cavidades e orifícios no tronco e raízes superficiais, deformações no tronco e casca, ramos quebrados ou mortos, entre várias outras – que servem de abrigo a muitos organismos vivos.

Estas diferentes estruturas são, por isso, consideradas importantes microhabitats e foram inclusive identificadas e listadas no âmbito de um projeto mais vasto – o Integrate Network -, que inclui, entre os seus objetivos, a definição de locais de interesse, a nível europeu, para a integração da conservação da biodiversidade destas árvores na gestão florestal.

Centrado no concelho de Lousada, o projeto Gigantes Verdes identificou, do início de 2018 até final de 2020, 7400 gigantes (por imagem de satélite) e caracterizou 3700. No mesmo período, cerca de 400 desapareceram, devido principalmente à urbanização e impermeabilização do solo (27%) e à intensificação da agricultura (23%).

Identificar e caracterizar as gigantes da floresta é uma tarefa que requer a colaboração de todos, pelo que o projeto europeu “Integrate” conta com a aplicação “Integrate Tree Microhabitat App”, para que qualquer cidadão possa ajudar a inventariá-las.