Valor da Floresta
O biochar, ou biocarvão, é um material sólido e rico em carbono, que resulta de biomassa carbonizada numa atmosfera pobre em oxigénio e tem servido principalmente para aplicações ambientais e agrícolas, como meio para armazenar carbono e para melhorar as propriedades físico-químicas do solo.
O biochar não se degrada quando é misturado no solo, mantendo o carbono que está sequestrado na biomassa. Pode, por isso, ser usado como ferramenta para mitigar os efeitos das alterações climáticas, além de melhorar o arejamento do solo, a disponibilidade de nutrientes e a filtração de água.
O interesse pelo biocarvão teve origem na chamada “Terra Preta”, na bacia dos Amazonas, com a incorporação tradicional de carvão, matéria orgânica e fragmentos de cerâmica no solo pelas populações nativas. Os solos resultantes, mais escuros, tornavam-se também mais férteis e mantinham essa fertilidade. O estudo destes solos e do seu processo de enriquecimento levou ao surgimento do biocarvão.
A expressão biochar vem dos termos ingleses biomass e charcoal – que significam biomassa e carvão – e o modo como é produzido apresenta semelhanças e diferenças face ao carvão tradicional:
O processo para obtenção de biochar é habitualmente a pirólise, que consta da decomposição de materiais orgânicos a altas temperaturas (entre os 250°C e 900°C) e ocorre num ambiente com pouco ou nenhum oxigénio – no interior de um forno ou reator específico, por exemplo.
Durante a pirólise, os compostos orgânicos da biomassa dividem-se e dão origem a:
Refira-se que já foi desenvolvido em Portugal um exemplo de um pequeno forno, de baixo custo, que permite a pequenos produtores realizar a pirólise doméstica da sua biomassa para obtenção de biocarvão.
Além da pirólise, o biocarvão também pode ser obtido por outros processos: carbonização hidrotermal (quando ocorre em meio aquoso), torrefação (com temperaturas mais baixas, entre os 200 a 300°C) ou gaseificação.
O biochar pode ser produzido a partir de diferentes materiais orgânicos biodegradáveis, desde que constituam uma base homogénea. Entre estes materiais incluem-se resíduos agrícolas (palha, casca de arroz, caroços de azeitona ou cascas de frutos secos), restos de jardinagem (galhos e folhas), sobrantes florestais (aparas de madeira, serradura e casca de eucalipto, por exemplo), algas, estrume e até resíduos de indústrias ou lamas biológicas provenientes de Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR).
Como referido, a capacidade do biocarvão para não se degradar no solo, podendo aí permanecer sem libertar o carbono que o constitui, fez dele uma ferramenta procurada para fixar carbono e mitigar os efeitos das alterações climáticas.
Além de conter elevado nível de carbono, o biochar é poroso e rico em compostos inorgânicos, o que faz dele um material com potencial para melhorar a fertilidade dos solos e aumentar a sua capacidade de retenção de água (nos poros). Neste sentido, pode ser usado como meio para diminuir as necessidades de rega e de fertilização, reduzindo as perdas por lixiviação (como há menos rega, a quantidade de nutrientes e compostos solúveis que são arrastados pela água, à medida que esta atravessa o solo, também se reduz), assim como para melhorar a estrutura do solo, diminuir a sua acidez e favorecer a atividade microbiana.
Além disso, tem sido usado como meio de cultivo em sistemas hidropónicos (fornecendo nutrientes a estes sistemas de cultivo sem solo).
Em paralelo, várias outras aplicações estão a ser efetuadas e investigadas, destacando-se entre elas:
– Descontaminação e purificação do solo, água e ar
Sendo um material poroso, com elevada área superficial e capacidade de troca catiónica (capacidade para reter e disponibilizar catiões como cálcio, magnésio, potássio e sódio), o biocarvão é também eficaz na retenção e imobilização de contaminantes orgânicos e metais pesados, apresentando capacidade de remediação de solos contaminados por pesticidas e outros poluentes, de descontaminação e melhoria da qualidade da água e purificação do ar.
– Suplemento na alimentação animal
A sua utilização como suplemento na alimentação animal tem apresentado melhoria da produtividade e da sustentabilidade da atividade pecuária: redução das emissões de metano, aumento da produção de leite e melhoria da digestão dos animais. Tem sido ainda usado nas suas camas, com benefícios na redução dos odores.
– Aplicações energéticas
Na área energética, o biocarvão tem surgido como candidato viável para aplicações em baterias e supercondensadores (pelo seu teor em carbono e propriedades físico-químicas).
– Isolante na construção
Tem sido investigado para utilização na construção civil, como aditivo no cimento e noutros materiais, melhorando o isolamento térmico e da humidade;
– Antimicrobiano no sector têxtil
A aplicação de biochar também tem sido testada no sector têxtil, para controlar o odor e pelas propriedades antimicrobianas que mantém quando incorporado em tecidos.